É necessária uma estratégia intelectual baseada nos actores de conhecimento
A NECESSIDADE de uma «sociedade em rede» em Portugal volta a estar em cima da mesa. Em tempo de clarificação do ideal europeu com a validação referendária da constituição em andamento, a análise de números recentes de comportamento do Investimento Directo Estrangeiro, a consolidação da mensagem da necessidade da aposta na inovação e conhecimento, confirma a oportunidade da bandeira tecnológica como o grande referencial de actuação. Ou seja, «revisitar» Manuel Castells seis anos depois, com uma matriz social mais amadurecida e um patamar de organização empresarial alterado.
A lição de Castells foi clara - há que apostar nas «competências centrais» do país, desenvolver uma cultura de qualidade e rigor com efeito escala na produtividade empresarial alavancada na excelência dos talentos e na boa articulação com os «Centros de Competência». Mais disse o professor de Berkeley que era importante fazer desta «lógica estruturada de intervenção» um instrumento central de qualificação estratégica dos diferentes segmentos do «tecido social», conferindo-lhe uma lógica de vitalidade adaptada às dinâmicas de mudança da globalização.
A Educação tem que ser a grande «ideia» para o país. Na «escola nova» de que o país precisa, tem que se ser capaz de dotar as «novas gerações» com os instrumentos de qualificação estratégica do futuro. Aliar ao domínio por excelência da Tecnologia e das Línguas, a Capacidade de com Criatividade e Qualificação conseguir continuar a manter uma «linha comportamental de justiça social e ética moral», como bem expressou recentemente Ralph Darhendorf em Oxford.
Tem que se ser capaz de desde o início incutir nos jovens uma capacidade endógena de «reacção empreendedora» perante os desafios de mudança suscitados pela «sociedade em rede»; os instrumentos de modernidade protagonizados pelas TIC são essenciais para se desenvolverem mecanismos auto-sustentados de adaptação permanente às diferentes solicitações que a globalização das ideias e dos negócios impõe. Esta nova dimensão da educação configura desta forma uma abordagem proactiva da sociedade ao abordar a sua própria evolução de sustentabilidade estratégica.
Os «Centros de Competência» do país (Empresas, Universidades, Centros de I&D) têm que ser «orientados» para o valor. O seu objectivo tem que ser o de induzir de forma efectiva a criação, produção e sobretudo comercialização nos circuitos internacionais de produtos e serviços com «valor» acrescentado. Só assim a lição de Michael Porter entra em acção.
A «internalização» e adopção por parte dos «actores do conhecimento» de práticas sustentadas de racionalização económica, a aposta na criatividade produtiva e na sustentação duma «plataforma de valor» com elevados graus de permanência é decisiva.
A cooperação estratégica entre sectores, regiões, áreas de conhecimento, campos de tecnologia, não pode parar. Vivemos a era da Cooperação em Competição e os alicerces da vantagem competitiva passam por este caminho. Sob pena de se alienar o capital intelectual de construção social de valor de que tanto nos fala Anthony Giddens neste tempo de (re)construção.
Na economia global das nações, os «actores do conhecimento» têm que internalizar e desenvolver de forma efectiva práticas de articulação operativa permanente, sob pena de verem desagregada qualquer possibilidade concreta e efectiva de inserção nas redes onde se desenrolam os projectos de cariz estratégico estruturante.
Importa uma «estratégia intelectual» para Portugal. A desertificação do interior, a incapacidade das cidades médias de protagonizarem uma atitude de catalisação de mudança, de fixação de competências, de atracção de investimento empresarial, são realidades marcantes que confirmam a ausência duma lógica estratégica consistente.
Não se pode conceber uma aposta na competitividade estratégica do país sem entender e atender à coesão territorial, sendo por isso decisivo o sentido das efectivas apostas de desenvolvimento regional de consolidação de «clusters de conhecimento» sustentados.
in Expresso, Francisco Jaime Quesado, Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento
2 comments:
"escola tem que ser a grande ideia para o país." dotar a " escola nova" com os instrumentos de qualificação... "numa linha comportamental de justiça social e ética moral"...
Espero que não passe de uma utopia... actualmente é!
Um dos grandes problemas da educacao (e ai que tudo se inicia)
e o facto de nunca ter sido seguido um rumo, pois tudo recomeca de novo sempre que ha mudanca de ministro ou governo.
Ela a educacao (ou sera instrucao) nao se compadece com as burocracias, que tendem a tornar o processo de mudanca lento.
E nao e com processos lentos, que nos poderemos avancar acompanhando os nossos parceiros, quanto mais passar-lhes a frente.
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