As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Tuesday, February 21, 2017

Despovoamento

Como combater o despovoamento?

Ontem foi emitida uma edição especial da RTP para discutir o despovoamento dos territórios de baixa densidade.

Em estúdio, o Ministro Adjunto Eduardo Cabrita, o Reitor da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro António Fontaínhas Fernandes e três autarcas de capitais de região: Évora; Vila Real; Guarda

O tema presta-se a demagogias fáceis: "faltam apoios e subsídios ao interior".
Mas ninguém avalia o impacto dos subsidios que já foram distribuídos para a fixação da população e incentivo da atívidade económica nestes territórios de baixa densidade.
Em suma, corremos o risco de fazer mais do mesmo para resolver um problema, cuja receita já revelou o efeito inverso.

Hoje, há cidades em territórios de baixa densidade que conseguiram fintar o despovoamento: Vila Real; Covilhã; Évora; Faro. Todas elas têm universidades. E isso leva-nos à pergunta óbvia: "Faz sentido que o Estado abra novos cursos nas grandes cidades, quando o despovoamento ameaça fragmentar o país?"
Será fácil compreender a vantagem de um centro de conhecimento nestes territórios em comparação com call centers: mais gente; mais conhecimento; oportunidade de mais e melhores empresas.

Michael Porter, que foi citado pelo autarca egitaniense, escreveu há 20 anos sobre a valorização dos recursos endógenos.
Está escrito. Basta ler.
Esses recursos endógenos permitem desenvolver economia mais sustentada, e com maiores barreiras à entrada para novos players noutras geografias.
Para esse objectivo, é necessário que as universidades trabalhem com as empresas em áreas cujas oportunidades poderão aí ser exploradas.

Em suma, precisamos de mais universidades em territórios de baixa densidade a desenvolver competências endógenas e mais empresas - com capital; experiência; mercado - a valorizar os recursos humanos que saem desses centros de conhecimento.

Se essas geografias conseguirem criar mais valor, teremos mais emprego e com isso mais gente.

O capital não é um exclusivo do Estado. E por isso faz sentido citar o Chef Rui Paula: "temos que acreditar em nós e na nossa região, ser verdadeiros (...) e pôr aqui o nosso dinheiro. Não podemos ficar à espera!"

Programa completo em RTP.PT

Frederico Lucas, co-fundador do Programa Novos Povoadores



Thursday, February 02, 2017

A Pobreza das Nações

Em 1776, Adam Smith publicou o primeiro volume de um livro icónico de economia sobre a riqueza das nações.

O autor defendia as leis de mercado, onde os produtos com elevada procura e baixa disponibilidade aumentavam o seu valor.

Passados 250 anos, a economia deixou de valorizar os produtos para se focar nos serviços, e através desses no conhecimento.

Isto é, no século XXI o valor reside naquilo que cada um de nós consegue produzir com a educação que recebeu, potenciada pelo intercâmbio daqueles com quem trabalha.

Desta equação resulta que uma equipa, comunidade ou país são tanto mais ricos quanto mais heterogénea for a população que nela participa.

Donald Trump não sabe isso. Porque não teve uma educação que o preparasse para uma sociedade do conhecimento.

A sua base de raciocínio tem como unidade o tijolo, e com alguma naturalidade avançará para unidades de volume, aplicadas ao betão.

Por isso, as comunidades sustentadas na diversidade étnica, cultural e religiosa estão associadas às novas fortunas: Silicon Valley e Hollywood são exemplos desses ecossistemas, Nova Iorque e Londres exemplos de cidades multi culturais com elevada criação de valor.

O oposto é igualmente verdadeiro: a homogeneidade educativa, cultural e religiosa são sinónimos de pobreza. São solos de monocultura, onde apenas nasce mais do mesmo.

E por isso, os territórios rurais que estão fechados nas suas comunidades, vivem na agonia do tempo. Limitam-se à musealização daquilo que já existiu.

Frans Johansson (Harvard Business School), no seu livro Medici Effect, explica a oportunidade de inovação das sociedade heterogéneas. Recorre ao conhecimento das comunidades de elefantes para o explicar.