As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Friday, March 27, 2009

Munícipios do interior perdem 10% de populaçãopor ano

por Ana Tomás Ribeiro



A desertificação do interior do país continua a crescer e boa parte destas autarquias perdem anualmente entre 10% a 15% da população, disse ao DN o presidente da Associação Nacional dos Municípios. O projecto Novos Povoadores, que quer levar para lá quem vive nas grandes cidades, já contava ontem com mais de cem famílias candidatas à mudança.

A desertificação do interior do país continua a crescer. "Uma parte dos municípios do interior já está a perder anualmente entre 10% a 15 da sua população " ,disse ontem ao DN o presidente da Associação Nacional dos Municípios, Fernando Ruas, baseando os seus cálculos em dados dos censos populacionais. Uma percentagem que virá a agravar-se se nada se fizer para travar o problema.

O autarca diz que não existem políticas nacionais para combater o problema, que não se resolve apenas com medidas locais. Pelo contrário, diz, há até políticas nacionais que têm "incentivado ou acelerado o despovoamento de algumas regiões, como é o caso do encerramento de serviços públicos" , como as maternidades. As grandes obras públicas que o Governo quer levar por diante são para o representante dos autarcas, projectos importantes para o país em termos de combate ao desemprego. "Mas uma parte da mão-de-obra para as executar também sairá do interior e isso poderá ser mais um factor a contribuir para a desertificação".

A prioridade da associação é travar a saída de mais pessoas do interior e fixar as famílias que lá existem. Com esse objectivo aquela estrutura associativa apresentou recentemente ao Governo um programa de combate ao problema que exige apoios estatais da ordem dos 730 milhões de euros com os quais "os munícipes podiam alavancar quer o emprego quer as economias locais", referiu Fernando Ruas. Aguardam agora pela resposta governamental.

Quanto a atrair pessoas dos grandes centros urbanos para essas regiões, um objectivo do projecto Novos Povoa- dores, cujos primeiro dados foram divulgados ontem pelo DN, considera que é importante, mas não prioritário.

Seja como for o projecto criado por três amigos - Frederico Lucas, Ana Linhares e Alexandre Ferraz (ver caixa perfis) - e que conta, na sua implementação com a parceria do Intec, Instituto de Tecnologia Comportamental, e coma experiência de Patrícia Palma e Miguel Lopes (ver caixa)- já contava ontem com mais de cem famílias candidatas a deixar os grandes centros urbanos para irem viver para uma cidade de média dimensão.

A primeira autarquia a acolher alguns destes novos povoadores, que deverão mudar-se no início do próximo ano lectivo, será Abrantes. A Câmara local e a Associação Tagus Vallei, a promotora do Tecnopólo Vale do Tejo, deverão assinar o protocolo com os Novos Povoadores ainda em Abril , disse ao DN Céu Albuquerque, vereadora do ambiente e desenvolvimento económico daquela autarquia (ver reportagem no texto ao lado). Numa primeira fase vão acolher 20 famílias. Mas há já outros municípios interessados na ideia.

in DN

Thursday, March 26, 2009

33 famílias serão Novos Povoadores do interior em Setembro

por Ana Tomás Ribeiro



Há 277 municípios a precisar de recursos humanos. E famílias de grandes cidades a quererem mudar de vida. O projecto Novos Povoadores é o ponto de encontro.

Há 277 municípios a precisar de recursos humanos qualificados e de gente empreendedora capaz de criar projectos geradores de emprego, com efeito multiplicador, e de competir a nível internacional. E há certamente famílias nos grande centros urbanos com vontade de mudarem para a província, para desenvolver um projecto próprio tendo mais qualidade de vida.

Foi nisto que Frederico Lucas pensou quando decidiu desafiar dois amigos, a Ana Linhares, socióloga, e o Alexandre Ferraz, técnico de uma associação de desenvolvimento local em Trancoso, para criarem conjuntamente o projecto Novos Povoadores (divulgado pela Visão há duas semanas), que tem como objectivo encontrar, nos grandes centros urbanos, candidatos à altura das necessidades regionais. Depois era preciso encontrar um parceiro que os ajudasse a pôr em prática o desafio. Encontraram o Intec - Instituto de Tecnologia Comportamental. Assim, o projecto só começou a ser posto em prática em Dezembro.

De então para cá já se candidataram 25 famílias. "Mas daqui por um mês já devemos ter 100 candidaturas. Uma estimativa que faço de acordo com o número de contactos que temos recebido", explica Frederico Lucas.

Para garantir o sucesso da família na sua nova vida, um dos membros do casal deverá ter um emprego assegurado, quer por via da transferência da sua actual entidade empregadora ou de uma entidade da região que o venha previamente a contratar. O outro membro da família terá de desenvolver um projecto empreendedor, para o qual conta, desde logo, com apoios de várias entidades, incluindo do próprio município.

Contudo, das cem famílias que deverão ser candidatas dentro de um mês, só um terço concretizará a mudança. Ou seja, 33.

De acordo com o cálculos de um dos mentores do projecto, "a maioria vai desistir ou prorrogar a decisão a meio do processo de aproximação à nova realidade. Um processo que pretendemos fazer de uma forma lenta, e com várias etapas, para que os candidatos se apercebam de todos os prós e contra" (ver caixa com passo a passo). Os que vão desistir, diz Frederico Lucas, fazem-no essencialmente por questões culturais. As que se mantêm mudam-se no começo do próximo ano lectivo, em Setembro, para uma cidade ligada por auto-estrada. Porque os mentores do projecto Novos Povoadores querem iniciar a experiência piloto num centro urbano de fácil acesso. Em cima da mesa estão várias hipóteses: Castelo Branco, Évora, Abrantes. Uma ilha nos Açores também está a ser estudada.

Entre as 15 famílias que já estão em processo de avaliação, há casais sem filhos e famílias numeroas (com 5 pessoas ), muitos profissionais da comunicação, marketing, engenheiros e projectistas, bem como emigrantes que regressaram ao país e querem investir em projectos de turismo rural.

in DN

Conhecida a primeira finalista do "Melhor Emprego do Mundo"

Com mais de 150 mil votos, uma jovem de Taiwan foi a preferida dos internautas que votaram nos candidatos ao melhor emprego do mundo. Os outros 10 finalistas, escolhidos pelo Turismo de Queensland, só serão conhecidos para a semana. Veja o VÍDEO da vencedora



Fechada a votação, a candidata Clare Wang, de Taiwan, foi a escolhida pelos internautas, com mais de 151 mil votos. No total, serão 11 finalistas a terem a possibilidade de se deslocarem à Austrália para a última etapa, uma entrevista. Os 10 que faltam são escolhidos pelo Turismo de Queensland e anunciados apenas a 2 de Abril.

O emprego, esse é "duro": Seis meses de contrato, 100 mil dólares, casa de sonho na paradisíaca ilha de Hamilton e a difícil missão de assegurar algumas tarefas básicas e relatar a experiência num blogue.

Candidataram-se 34 mil pessoas e os 50 primeiros selecionados foram anunciados na terça-feira, 3 de Março. (Vale a pena espreitar a lista dos finalistas para ver a criatividade dos vídeos dos candidatos).

Entre esses 50 pré-selecionados, oriundos de 22 países, encontra-se um angariador de fundos para caridade, um instrutor de dança, um fisioterapeuta, um chef, um DJ, um cientista, um actor, estudantes, jornalistas e intérpretes.

O vencedor será anunciado no dia 6 de Maio.

in Visão

Monday, March 16, 2009

As novas indústrias do próximo futuro



Existe uma grande convicção no sentido do surgimento de um novo paradigma de desenvolvimento no período que se seguirá à actual crise económica e financeira global. A grande interrogação que se coloca aos decisores empresarias reside na determinação dos sectores que vão crescer, dos que se vão

Existe uma grande convicção no sentido do surgimento de um novo paradigma de desenvolvimento no período que se seguirá à actual crise económica e financeira global.

A grande interrogação que se coloca aos decisores empresarias reside na determinação dos sectores que vão crescer, dos que se vão reduzir e dos novos sectores de actividade económica que surgirão ou se afirmarão de uma forma significativa.

Correndo os riscos associados às previsões, particularmente altos em períodos de elevada turbulência e de transição, considero útil desenvolver algumas reflexões em torno das indústrias potenciais do futuro próximo, que permita a discussão e o estabelecimento de caminhos para o futuro das empresas portuguesas.

Neste exercício prospectivo, as actividades empresariais que se evidenciarão no futuro próximo, serão, em minha opinião, agrupadas em torno das seguintes áreas:



• Indústrias da sustentabilidade que integrarão os "clusters" ligadas ligados às novas formas de conservação e produção de energia e de protecção do ambiente, onde se incluirão as unidades ligadas à energia eólica, células fotovoltaicas, carros eléctricos, novos materiais compósitos, componentes electrónicos….

• Indústrias da saúde e bem-estar, integrando as unidades da área da bioquímica e farmacêutica, equipamentos hospitalares, materiais recicláveis, novos sistemas de tratamento e prevenção de doenças, clínicas especializadas…

• Indústrias do entretenimento e da qualidade de vida, integrando as áreas do turismo, desporto, cultura, dos conteúdos multimédia…

• Indústrias da produtividade e da eficiência, integrando as tecnologias de informação e comunicação, a indústria informática, os novos sistemas de criação, transporte e distribuição de informação…

• Indústrias da geografia, integrando a "customização" das diferentes tecnologias para diferentes geografias, com especial relevo para as tecnologias tropicais que permitam o desenvolvimento da agricultura, pecuária, medicina… dos países de África e de outras regiões menos desenvolvidas.

Assistiremos, simultaneamente, ao declínio ou redução da actividade de um conjunto de sectores, com graus elevados de ineficiência produtiva, associados a um modelo de consumo intensivo, tais como a indústria automóvel, imobiliária e electrónica de consumo tradicional, assim como ao decréscimo de rendibilidade de sectores que apostaram numa diferenciação artificial não suportada no "value for money" dos seus produtos. Nestes sectores assistiremos a uma alteração qualitativa significativa do portefólio de produtos que o mercado virá a aceitar.

Os sinais que a economia americana emitirá nos próximos meses vão ser fundamentais para testar e corrigir estas projecções, e para a construção de opções sólidas para o futuro da actividade produtiva portuguesa. Neste aspecto, especial atenção deve ser dada aos programas de investigação aplicada das universidades americanas de referência, já que os mesmos ditarão as grandes linhas de desenvolvimento tecnológico e empresarial para o próximo futuro.

Em relação aos sectores tradicionais de consumo das famílias - têxtil, vestuário, mobiliário, decoração, etc., verificar-se-á uma maior sensibilidade ao preço pelo que serão essenciais os esforços de aumento de produtividade e redução de custos. As famílias tenderão a afectar uma parte menor do seu rendimento disponível a este tipo de produtos, concentrando o rendimento remanescente nas novas áreas atrás referidas ligadas à saúde e qualidade de vida, aos quais exigirão um elevado índice do "value for money".

Os próximos tempos vão ser tempos de reflexão e estudo intensivo. Não são, tradicionalmente, as áreas preferenciais de aplicação de recursos dos nossos agentes empresariais. Mas terão de passar a ser!

in JN, Luís Todo Bom

Monday, March 02, 2009

A Busca Interior


São cada vez mais os que partem dos centros urbanos para o Interior. Procuram, não o ideal romântico de outros tempos, mas oportunidades de trabalho e de vida que as cidades lhes vão negando.

Ana Berliner foi das que trocaram Lisboa pelo Vale do Côa, terra que lhe vai servindo para cumprir o gosto pela conservação da natureza. Bióloga, é presidente da Associação Transumância e Natureza (ATN), actividade a que se vai dedicando como "hobby". A subsistência da família é assegurada pela exploração de uma casa de turismo rural.

É à frente dos destinos da ATN que Ana Berliner sente a solidão imposta por uma paixão que ainda não é valorizada pela sociedade em geral. "Temos falta de meios físicos e humanos", contou ao JN. "Enquanto há projectos, as coisas vão correndo bem... Mas os nossos meios são muito escassos". A carência é combatida pelos apoios que recebem de organizações internacionais. "Em Portugal, não recolhemos muitos apoios e não existe mecenato em projectos de conservação da natureza", lamenta a bióloga.

Os atrasos nos pagamentos do Ministério da Agricultura e o excesso de burocracia para passar à prática algumas das iniciativas, como o sempre adiado campo de alimento de aves necrófagas, desgastam e moem, exemplifica Ana Berliner. Mas não matam o gosto de quem deitou mãos e alma à dinamização de associações de desenvolvimento rural. O JN falou com vários jovens, actualmente à frente de projectos no Douro Internacional (ver página 3 e 4). A falta de apoios e o excesso de burocracia são queixas unanimente partilhadas.

Rui Rafael, do Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP) do Ministério da Agricultura, desmonta, no entanto, a ideia da insuficiência de apoios. No âmbito da aplicação dos fundos comunitários, a sociedade civil tem ao dispor uma dotação de 453 milhões de euros para aplicação em projectos que vão da diversificação da economia e criação de emprego, à melhoria qualidade de vida, implementação de estratégias de desenvolvimento local e para o funcionamento dos Grupo de Acção Local (GAL), explicou.

Até à data, adiantou, ainda, o técnico do GPP, foram criados 44 GAL, que cobrem 80% do território nacional. Estes gabinetes têm como tarefa a gestão da aplicação das verbas numa determinada área. "Sabemos por experiência que quem faz melhor o que é melhor para si é a comunidade local", explicou Rui Rafael, justificando, assim, a criação de unidades locais para a gestão dos fundos.

As associações podem submeter aos GAL os projectos que pretendem aplicar no terreno, sendo que têm que ter como filosofia subjacente a criação de investimento, emprego e competitividade, o que por si só não garante a resolução do problema da fixação de recursos humanos, sublinhou Rui Rafael.

Renato Carmo, investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), apesar de reconhecer a forte dependência das associações de desenvolvimento rural dos fundos comunitários, salienta a ausência de políticas públicas direccionadas para este tipo de dinâmicas. "Quando acabam os apoios não têm capacidade de continuidade", sublinhou o sociólogo, defendendo a criação políticas capazes de atrair pessoas ao Interior.

Gente que parte das cidades à procura de uma vida melhor, mas que partilha a intenção de preservar, valorizar e revitalizar o património rural das terras que a acolhe. Américo Tomé, vice-presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, embora reconheça a importância de receber forasteiros, mostra-se ciente das dificuldades. "Por cá, temos muito espaço para poucas pessoas", lamenta, consciente de que as oportunidades só vingam onde há gente.

in JN, Maria Cláudia Monteiro