As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Saturday, April 11, 2009

Portugal na rota do Outsourcing



Empresas do sector pretendem criar 10.000 postos de trabalho nos próximos sete anos

A Associação Portugal Outsourcing (APO) quer colocar o nosso país no mapa mundial dos locais que prestam serviços BPO (Business Process Outsourcing). A prioridade é captar clientes de outros países europeus que querem deslocalizar as suas operações e processos de negócio para Portugal (nearshore), tirando partido da proximidade e das diminutas diferenças culturais (em comparação com a Índia ou a China). Segundo Frederico Moreira Rato, presidente da direcção da APO (em representação da Reditus), se esta estratégia for bem sucedida vai ser possível criar nos próximos anos 10.000 postos de trabalho, muitos dos quais fora das grandes cidades. A associação pretende que o sector seja responsável por 1% do produto interno bruto (PIB) nos próximos sete anos, contra os actuais 0,34%. Actualmente, o valor da área de outsourcing cifra-se em €561 milhões, o que está muito abaixo da média europeia (0,61%) e dos países que apostaram forte nesta área. Por exemplo, no Reino Unido representa 1,4% do PIB e na Roménia pesa 2,8%.


Frederico Moreira Rato vai dialogar com o Governo

Muito mais do que simples centros de contacto telefónico, os 15 membros da APO — entre os quais estão empresas nacionais e internacionais como a Accenture, Cap Gemini, Delloite, Glintt, IBM, Indra, Logica, Novabase, Portugal Telecom ou Reditus — pretendem trazer para Portugal centros BPO. Ou seja, pretendem deslocalizar para o país processos de negócio de médias e grandes organizações. Uma transferência que pressupõe a existência de organizações com as melhores práticas e recursos humanos qualificados. “Para que o sector seja bem sucedido, haverá fortes investimentos em formação e qualificação dos trabalhadores”, sublinha Moreira Rato.

Curiosamente, o actual contexto de crise económica até poderá ser vantajoso para o sector. “Há muitas organizações que estão a usar o outsourcing para se adaptarem aos tempos difíceis, na medida em que permite transformar custos fixos em variáveis e obter maior eficiência e qualidade de serviço”, adianta o presidente da APO.


Código de conduta

Mas, para que Portugal se posicione como um destino credível para serviços BPO, a associação (que já representa 81% do mercado nacional) está a procurar que os seus associados adoptem as melhores práticas, de forma a evitar que o bom nome do país no sector possa ser prejudicado pela existência de prestadores com menor qualidade de serviço. “Queremos evitar que uma maçã podre contamine as outras”, diz Moreira Rato. Para o efeito, foram constituídos diversos grupos de trabalho que vão elaborar um código de conduta (coordenado por Fernando Resina da Silva) e enviar propostas ao Governo para criar uma regulação específica ao nível dos contratos de trabalho (tarefa a cargo de Cavaleiro Brandão e Bagão Félix) e da fiscalidade (António Lobo Xavier). “Para sermos competitivos face aos concorrentes, será necessário adaptar o actual quadro fiscal e flexibilizar formas de contratação”, defende o presidente da APO.

A associação quer também promover a adopção do outsourcing na administração pública e está a fazer um estudo de benchmark (comparação) internacional, coordenado por Álvaro Ferreira, em que participará a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal). “Queremos identificar as vantagens de Portugal para os clientes estrangeiros, nomeadamente da Europa”, refere Moreira Rato.

Para debater estes problemas e colocar em realce as vantagens do país no outsourcing (ver caixa), a APO vai realizar este ano a primeira conferência anual, que trará a Portugal diversos especialistas internacionais, e desencadear um diálogo com o Governo, nomeadamente com Carlos Zorrinho, gestor do Plano Tecnológico.

João Ramos jramos@expresso.impresa.pt



BARREIRAS

LEIS DO TRABALHO

Modelo de remuneração rígido e falta de flexibilidade na contratação. A legislação do trabalho dificulta a prestação de serviços para o estrangeiro

FISCALIDADE

IVA e IRC em Portugal é dos mais elevados da Europa, o que retira competitividade ao sector. E, ao contrário de outros países, não existe regime específico para o outsourcing

CULTURA

Existe uma percepção negativa do outsourcing na opinião pública, ao nível da protecção do emprego e de direitos laborais

IMAGEM

Portugal continua a não ser encarado como uma primeira escolha pelos potenciais clientes internacionais

NÚMEROS

561 milhões de euros é o valor actual do negócios de outsourcing em Portugal, dos quais €267 milhões são de tecnologias de informação e €294 milhões são de BPO)

43 mil postos de trabalho de outsourcing em Portugal são as previsões para 2015, graças ao forte incremento do negócio externo

VANTAGENS

RECURSOS HUMANOS

Disponibilidade de elevada quantidade de recursos humanos qualificados com salários competitivos

FLEXIBILIDADE

Capacidade inata dos portugueses em se adaptarem a outras culturas e facilidade aprendizagem de outras

TELECOMUNICAÇÕES

Rede de banda larga com cobertura e qualidade dentro dos parâmetros dos países mais desenvolvidos

CUSTOS

Em relação a outros países europeus, Portugal tem preços competitivos ao nível de mão-de-obra e de instalações

ESPAÇO EUROPEU

Mobilidade da força de trabalho, bens e capitais é facilitada pelo facto de Portugal fazer parte da zona euro e do espaço Schengen

in EXPRESSO

Sunday, April 05, 2009

Uma revolução silenciosa

From Inovação & Inclusão

por António Bob dos Santos

Nos últimos anos temos assistido a uma penetração cada vez maior das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) no nosso dia-a-dia. Se está a ler este artigo é provável que possua pelo menos um telemóvel (possivelmente com acesso à Internet), um computador (provavelmente portátil), que entregue a sua declaração de impostos pela internet (bem como utilize outros serviços públicos online) e que esteja inserido numa ou mais redes sociais (Facebook, Hi5, Orkut, Twitter, Linkdin, etc.). Embora esta não seja ainda uma situação igual para todos os portugueses, há segmentos da população onde esta realidade é mais evidente. Por exemplo, cerca de 85% dos jovens entre os 10 e 15 anos são utilizadores de telemóvel (62% em 2005)[1], mais de 90% utilizam regularmente a Internet, e uma percentagem muito elevada frequenta as redes sociais. O mesmo se passa na faixa etária dos 16-24 anos, onde, por exemplo, o número de utilizadores da Internet passou de 64% em 2004 para cerca de 90% em 2008[2]. É esta geração que irá entrar no mercado de trabalho daqui a poucos anos; não serão apenas consumidores de serviços online e de gadgets, mas também produtores e construtores de uma nova realidade, aproveitando as oportunidades da Web 2.0 e da futura Web 3.0. Trata-se também de uma geração ao mesmo nível que o resto dos jovens europeus no que respeita ao acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC). O grande desafio será na utilização dessas mesmas tecnologias, na capacidade de as usar para acrescentar valor ao que já existe. E essa capacidade pode ser “aprendida” e estimulada pelos professores, pela família, mas principalmente pelos seus pares, ou seja, pelo contacto com os milhares de jovens que em todo o mundo acedem à Internet e às redes sociais.

Nunca como agora foi possível aceder e também participar na construção de redes globais de conhecimento, de partilha, de interacção. Contudo, se hoje as nossas sociedades são cada vez mais globais e interligadas, muito devido ao desenvolvimento das TIC, há também uma tendência para que as diferenças e as especificidades de cada um tomem uma importância sem precedentes. As dinâmicas globais estimulam também a construção de “personalidades” cada vez mais diferenciadas, dada a facilidade de acesso à informação e aos conteúdos que mais nos interessam. É fácil hoje em dia construirmos os nossos próprios espaços na rede global, com ou sem limites, dado que somos nós que os definimos. É por isso que acredito que os jovens que actualmente “vivem” na Internet estão silenciosamente a construir uma sociedade mais heterogénea, multicultural, multifacetada e mais criativa, elementos propícios a uma dinâmica de progresso e de inovação.

Creative Commons License

[1] Cardoso, Gustavo, Rita Espanha e Tiago Lapa (2008), E-Generation 2008: Os Usos de Media pelas Crianças e Jovens em Portugal, CIES-ISCTE

[2] INE/UMIC, Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias 2002 - 2008.