Um texto da autoria do Prof. António Câmara, publicado no semanário Expresso.
Se faz sentido falar em cidades Aerotropolis, que modelo para o desenvolvimento do território português?
"Os países competem através das suas cidades. Eis um tema central para a discussão pública
NUM mundo crescentemente global, um consumidor remoto pode ser mais importante do que o cliente próximo. A acessibilidade (e não a localização) passou a ser o factor decisivo. No mundo digital lidamos bem com este fenómeno. Mas, por cada encomenda por «e-mail» à Amazon há um livro (ou outro produto) que tem que ser transportado de avião. John Kasarda, um professor da University of North Carolina, citado num recente número da revista «Fast Company», refere que o transporte de carga aérea cresceu cerca de 1.395% nos últimos trinta anos. Hoje, cerca de 40% do valor económico de todos os bens produzidos no mundo (representando apenas 1% do peso total) são transportados por essa via.
Deste modo, os aeroportos de grande dimensão são uma peça fundamental deste novo mundo e Kasarda propõe que as fábricas, escritórios, habitações, centros comerciais e escolas sejam construídas à sua volta. A este novo conceito de cidade chama Aerotropolis. Segundo ele, os novos aeroportos de Banguecoque, Hong Kong, e Dubai, e os desenvolvimentos urbanísticos previstos para os seus arredores, mostram que esta ideia está a ser adoptada. Kasarda refere que as Aerotropolis vão permitir a criação de cadeias de abastecimento substancialmente mais eficientes do que as oferecidas por cidades em que os aeroportos têm uma dimensão limitada e estão distantes do seu centro.
Este tipo de cidade contrasta, em absoluto, com a escala humana que associamos a outro modelo alternativo: o da cidade criativa. Antes de produzirmos bens temos que os conceber e o talento criativo não quer certamente viver rodeado por auto-estradas e aeroportos gigantescos. Richard Florida, hoje professor na Georges Mason University, mostra que a acessibilidade do local de residência ao mundo exterior conferida pela presença de um aeroporto internacional tem que estar presente. Mas para atrair talento os factores decisivos são a qualidade de vida e a vibração cultural existente em cidades históricas como Boston, São Francisco, Londres ou Barcelona.
Os países competem através das suas cidades. A estratégia de desenvolvimento económico das nossas cidades (seguindo estes modelos ou outros) deve passar a ser um tema central de discussão pública. Não tem sido."
asc@fct.unl.pt
Prof. da FCT-UNL e presidente da YDreams
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