As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Thursday, December 18, 2008

Viver na Cidade ou no Campo?!


Professor catedrático na Universidade do Minho, José Mendes tem estudado a dinâmica das cidades e o ordenamento do território. Em 1999 publicou o estudo 'Onde viver em Portugal - uma análise de qualidade de vida nas capitais de distrito'. À GINGKO sistematizou as vantagens e desvantagens da vida nos grandes centros e nos meios mais pequenos. Solução? Desenvolver as cidades médias.

GINGKO - Depois do êxodo rural, há quem fuja dos grandes centros. É possível conciliar a cidade e o campo?

José Mendes - A questão campo versus cidade é hoje mais pertinente do que nunca. Avanços recentes no domínio das comunicações e da desmaterialização das actividades permitem alimentar a ideia de que é possível a qualquer um manter-se profissionalmente activo e integrado e, simultaneamente, viver fora dos meios congestionados das grandes urbes. Isto é verdade e... não é verdade.

G - O que distingue os dois meios?

JG - Num extremo estão as grandes cidades onde tudo acontece: os negócios, as oportunidades, os eventos, a cultura, o entretenimento, as melhores escolas. E também o congestionamento, o tráfego, a poluição, e a habitação mais cara. No outro extremo está o campo onde nada acontece: nem negócios, nem oportunidades, nem eventos, nem cultura, nem entretenimento, nem boas escolas. E também não há congestionamento, nem tráfego nem poluição, e a habitação é mais barata.

G - Onde se vive melhor?

JG - Depende do conceito de qualidade de vida. Se os almoços de negócios e as peças de teatro estão na rota da minha qualidade de vida, então quero estar na grande cidade. Se acho que as horas desperdiçadas em filas de tráfego ou o ruído ensurdecedor das ruas carregadas de tráfego arruínam a minha qualidade de vida, então quero viver na tranquilidade do campo. Mas, se preciso de almoços de negócios e também não quero estar horas dentro do automóvel em filas infindáveis? Bom, aí a questão não é líquida.

G - Qual a solução?

JG - A solução ideal seria que as grandes cidades funcionassem de forma mais sustentável, com bons transportes públicos, muitos parques, esquemas de acalmia de tráfego, pistas cicláveis, regras de controlo de poluição e ruído. Ou ter áreas rurais com boa acessibilidade, boas escolas, banda larga e eventos culturais. Isso é possível? Talvez. Cidades como Viena, Copenhaga ou Sydney deram passos importantes nesse sentido. Áreas rurais de alguns países nórdicos também evoluíram favoravelmente. Nem umas nem outras fazem o pleno. No balanço da contabilização da qualidade de vida, as cidades, mesmo as megacidades, continuam a levar vantagem. Isto porque o Homem é uma espécie com comportamentos e necessidades marcadamente sociais, que vive e se realiza através da interacção, do movimento, da riqueza e da sinergia que resulta da concentração de pessoas e de actividades. O campo pode ser tranquilizador e ter o rótulo de inspirador, mas é na cidade que nasce a criatividade, que se forjam os artistas e as obras que referenciam a nossa existência.

G - Portanto, o melhor é viver em cidades?

JG - Apesar de tudo, mesmo com as cidades a levar vantagem enquanto destino da nossa felicidade e garante da nossa qualidade de vida, a poluição e as filas de trânsito continuam lá. E ninguém gosta delas. Enquanto não temos cidades ideais, se é que algum dia existirão, a solução mais equilibrada é viver nas cidades médias. Têm hoje muito do que se encontra de bom nas grandes cidades e pouco do que se encontra de mau nessas mesmas cidades. Os recursos virtuais, a banda larga na cidade média, colmatam muito do que um profissional activo e cidadão exigente precisa para se realizar.

G - E onde se vive melhor em Portugal?

JG - Nas cidades médias. Temos cidades médias? Sim e não. Sim porque existe Braga, Coimbra e Aveiro, com elevadíssimo potencial, apenas parcialmente realizado. Não porque não há uma política de cidades médias em Portugal, o que faz com que as três referidas estejam muito aquém do potencial que encerram, e que outras como Évora e Faro simplesmente não descolem. E porque é precisa uma política de cidades médias em Portugal? Porque é a melhor solução para o país e, sobretudo, para Lisboa e Porto. É nas cidades médias que reside boa parte do nosso futuro. Que lufada de ar fresco seria para este país, se nas eleições autárquicas de 2009 os candidatos deixassem na gaveta os planos de mais infra-estruturas e apresentassem visões e propostas centrados na qualidade de vida e na competitividade das suas cidades.

in Gingko

Saturday, December 06, 2008

Pequenas e médias cidades, no futuro, apenas acessíveis aos mais abastados

"Faro, 05 Dez (Lusa) - As pequenas e médias cidades serão locais privilegiados no futuro pela sua qualidade mas apenas acessíveis aos mais abastados, segundo as conclusões de uma conferência internacional de dois dias que decorreu esta semana na Universidade do Algarve.
No final dos trabalhos, a Professora Teresa Noronha, coordenadora do Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações da Universidade do Algarve, que promoveu o encontro, realçou que "as mais modernas tendências das economias regionais apontam para uma maior aglomeração" das zonas urbanas.

De acordo com esta investigadora, isto quer dizer que, ao contrário do que muitos advogam hoje em Portugal, os próximos cinquenta anos verão nascer grandes aglomerados urbanos que procurarão economias de escala combinadas com uma evolução tecnológica muito motivada pelo esgotamento dos recursos naturais.

Em resultado desta tendência, as pequenas e médias cidades tenderão a transformar-se em territórios de fuga para os que privilegiam a qualidade de vida o que, naturalmente, terá um preço elevado.

Segundo Teresa Noronha as pequenas cidades "manter-se-ão por questões de romantismo" e serão acessíveis aos que as possam pagar.

Ao longo dos dois dias da conferência, que decorreu no Auditório Vermelho da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, investigadores oriundos de diferentes pontos da Europa apresentaram pesquisas na área do desenvolvimento sustentável das regiões, confrontaram modelos e questionaram os actuais paradigmas do desenvolvimento económico.

Um debate de ideias que, segundo Teresa Noronha, apenas pecou pela ausência da sociedade civil, em especial dos empresários e dos decisores políticos que, lamentou, "optaram por não estar presentes" não obstante o tema serem as cidades, as pessoas que nelas vivem e as empresas que nelas se instalam.

Aliás, no que toca à realidade portuguesa, Teresa Noronha considerou que o "grande bloqueio ao desenvolvimento do País continua essencialmente na área da governação institucional".

Segundo a investigadora, continuamos a ter "políticos que não estão preparados cientificamente" o que se reflecte na qualidade das decisões estratégicas que têm sido tomadas para o País.

Por essa razão, a investigadora reforça que toda a sociedade tem de se envolver e responsabilizar pelo modelo de desenvolvimento pretendido para Portugal, salientando ainda que é fulcral escolher com muito cuidado os recursos e a forma como estes serão aplicados nessa escolha.

No que toca ao Algarve, a investigadora acredita que há características que distinguem a região da lógica de aglomerados mas alerta que "terá de encontrar uma forma de ligar as suas cidades", gerando a partir desse formato uma aglomeração com características mais de região do que de metrópole.

Os vários trabalhos de investigação apresentados nesta conferência deverão agora ser compilados e editados em livro pelo Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações da Universidade do Algarve."

MYP, LUSA

in RTP

Thursday, December 04, 2008

Portugal tem de mudar "tão rapidamente quanto possível" a sua estrutura produtiva - Cavaco Silva


"Para conseguirmos de facto competir no mercado global, temos de alterar tão rapidamente quanto possível a estrutura da nossa produção", afirmou Cavaco Silva, na inauguração de um novo edifício do Tecmaia -- Parque de Ciência e Tecnologia da Maia.

O chefe de Estado elogiou o "esforço que Portugal tem vindo a desenvolver" na inovação e tecnologia, mas sublinhou que é necessário "fazer muito mais".

À semelhança do que tinha feito momentos antes na Efacec, em Matosinhos, Cavaco Silva considerou o Tecmaia "um bom exemplo" do caminho que a economia portuguesa deve seguir para se tornar competitiva.

Empreendedorismo, cultura de inovação e aposta na investigação são as três áreas em que, na opinião do Presidente da República, o Tecmaia tem dado um "contributo muito positivo".

Cavaco Silva afirmou que gosta de "apresentar bons exemplos", para "aumentar a auto-estima" dos portugueses.

"Neste tempo que atravessamos, de notícias que nos caem todos os dias sobre as nossas cabeças, notícias de recessão, às vezes mesmo de depressão, de índices de confiança a níveis baixos historicamente, estive há pouco noutro caso de sucesso, a Efacec", salientou.

O Presidente da República reconheceu que o Tecmaia "nasceu de uma adversidade", a transferência para outro país da antiga fábrica da Texas Instruments e Samsung, mas sublinhou a atitude positiva do então presidente da Câmara da Maia, Vieira de Carvalho.

"Perante uma adversidade, não se baixou os braços", frisou, enaltecendo o facto de o Tecmaia ser o segundo parque tecnológico do país em nível de desenvolvimento, depois do TagusPark, com 48 empresas instaladas.

FZ.
Lusa

in RTP

Wednesday, December 03, 2008

Formação de preços nos bens de consumo


Não foi há muito tempo que ficámos a saber que os preços dos combustiveis não poderiam voltar aos valores de 100 dolares barril porque o custo da refinação estava a aumentar, isto é, já não existia petróleo tão "puro" como outrora.

Também ficámos a saber na mesma altura que a formação do preço do pão oscilava em 50% com a variação do custo da farinha.

As "COISAS" fantásticas que nos ensinaram.

Thursday, November 20, 2008

Terra Prometida


Para muitos, o Alentejo é a terra prometida, o lugar onde a realização de um grande sonho é possível. Os “alentejanados”, como são por vezes conhecidos, falam com entusiasmo da imensidão do céu, da ligação à terra e da grande tranquilidade.
Vieram de Lisboa e de outras cidades grandes ou de outros países. Muitos trocaram a profissão que exerciam pelo desafio de um novo ofício. Outros adaptaram o trabalho às novas circunstâncias, tendo a Internet como grande aliada para ultrapassar um certo isolamento da região. Por vezes, confessam que ficaram a perder do ponto de vista financeiro mas garantem que o saldo final é positivo, depois de tudo considerado.
Terra Prometida é uma grande reportagem de Carlos Júlio com sonoplastia de João Félix Pereira.

Ouvir em TSF

Friday, November 14, 2008

Human Network Effect


Cria entendimento, onde antes existiam barreiras.
Liga uma criança a um cientista a um director-geral para salvar um glaciar.
Junta ideias. Junta paixões. E junta pessoas.
É o efeito da Rede Humana.
O efeito que está a mudar o mundo.
Quando a tecnologia se cruza com a humanidade na rede humana, a forma como trabalhamos muda.
A forma como vivemos muda.
Tudo muda.
Esse é o Efeito da Rede Humana.

cisco.com

Saturday, October 25, 2008

Enfrentar a transição


Os acontecimentos económicos e financeiros que têm ocorrido nos últimos vinte anos poderão estar a ‘repetir’ o padrão do que se passou desde final dos anos 1920 até 1950. Esse é o ponto de vista de Brian Berry, de 74 anos, um economista e geógrafo inglês radicado nos Estados Unidos desde 1955, que é reitor da Escola de Ciências Económicas e Políticas da Universidade do Texas em Dallas.

O cientista encontra «similitudes» na tripla assinatura de «crashes» financeiros ocorridos de 1929 a 1942 e de 1987 até ao actual ‘Outubro negro’ indiciando um período descendente num ciclo longo tecnoeconómico. Prevê, por isso, que, tal como há 60 anos, estejamos a atravessar um período de transição para outro ciclo, a que tecnicamente os especialistas chamam “depressão entre duas ondas” ou uma espécie de ‘vala’.

No final dos anos 1940 do século passado, nesse tal período de ‘vala’, deixámos para trás um ciclo de emergência do imperialismo (então dissecado pelo economista inglês John A. Hobson em ‘Imperialism: a study’, 1902) que arrastou duas guerras mundiais para entrarmos no ciclo da Revolução da Informação, desde que o efeito do transístor foi demonstrado em 1947. Mais tarde, Alvin Toffler baptizaria a nova era de ‘Terceira Vaga’.

Berry considera que “o impacto dessa revolução ainda estará nos 50%”. Falta a outra metade - o que significa que essa vaga está ainda repleta de oportunidades.


A luz ao fundo do túnel

Para este especialista, é provável que a actual brutal correcção bolsista e o abrandamento económico mundial que se espera para os próximos três a quatro anos sejam a parte mais dolorosa dessa transição. Mas como se trata de um ciclo, depois da tormenta virá a bonança.

A luz ao fundo do túnel advirá do facto que, depois destas dores prolongadas, seguir-se-á um período de crescimento como o que ocorreu até à 1ª Guerra Mundial ou como o que ficou conhecido como ‘os trinta gloriosos anos’ até ao segundo ‘choque petrolífero’ dos anos 1980.

O segredo da sobrevivência durante estes períodos dolorosos de transição é ter uma estratégia que minimize os efeitos da transição e que aponte para a ‘alavancagem’ do novo ciclo. Não só nas bolsas se deve agir de cabeça fria, em contracorrente ao pânico, como aconselha o investidor Warren Buffett.

As reflexões de Berry implicam, ainda, outro aspecto - não será muito apropriado comparar a situação actual com a de 1929 (o motivo mais habitual nalgum discurso catastrofista actual) ou continuar à espera de uma terceira guerra mundial, como a que ocorreu em 1939-1945, para ‘decretar’ o fim do ciclo.

Berry é um dos especialistas mundiais neste tipo de ciclos longos (mais apropriadamente designados por ondas longas) que o economista Joseph Schumpeter trouxe para a ribalta em 1939 repescando os estudos de um economista soviético, morto no gulag no ano anterior, de nome Kondratieff. A obra mais importante de Berry foi publicada há algum tempo - ‘Economic Development and Political Behavior’ (1991).

Jorge Nascimento Rodrigues


CICLO TERCEIRA VAGA

Peter Drucker teoriza a revolução do «management»

Período de crescimento do pós-guerra atinge o pico com os ’choques petrolíferos’

Arranca a terceira vaga da globalização

URSS ultrapassa EUA em poder mundial (1985) mas começa a desagregar-se

«Crash» de 1987 marca o ponto de viragem para a fase descendente do ciclo

Massificação do computador pessoal e da Internet

2º «crash» mais violento dos últimos 150 anos (Nasdaq, 2000/2002)

Emergência dos BRIC altera a ordem económica internacional

in EXPRESSO

Tuesday, October 21, 2008

Causas Sociais

... veja como o marketing de causas sociais pode aumentar exponencialmente as vendas em 74%, como revela o Cone/Duke University Behavioral Study 2008, validando que o marketing social pode influenciar significativamente a escolha do consumidor, resultando em receitas de milhões de dólares para as marcas.

Conclusões principais:
- aumento exponencial das vendas (74% e 28%) em 2 categorias de produtos de marketing de causas sociais
- 78% sente que as empresas devem manter as suas iniciativas de filantropia ou mesmo aumentá-las durante períodos económicos mais difíceis
- 79% mudaria de marca se associada a uma boa causa (contra 66% em 1993)
- educação 80%, desenvolvimento económico 80% e saúde 79% estão no topo das prioridades

O estudo de Evolução de Causas 2008 da Cone revela que "os consumidores querem sentir uma ligação entre a temática e a organização não lucrativa que preencha as suas necessidades pessoais" (Alisan DaSilva, EVP, Cone):
- 84% quer seleccionar a sua própria causa
- 83% afirma que a relevância pessoal é chave
- 80% acredita que organizações não lucrativas associadas a campanhas é importante
- 77% afirma que incentivos práticos de envolvimento, como tempo ou dinheiro, são importantes
- 65% afirma que incentivos emocionais de envolvimento, como fazê-los sentir-se melhor ou aliviar a culpa de compras, são importantes.

+info em http://www.coneinc.com

Se ainda não encontrou uma boa causa a que se associar, deixo a sugestão: Colabore connosco, ajudando-nos a inspirar a mudança através do apoio a iniciativas de Educação e Promoção da Saúde.

Rui Martins
rui.martins@dianova.pt

Saturday, October 18, 2008

Os benefícios da crise!

Ultrapassado que está o período das vacas gordas - afirmação extemporânea para a maioria dos portugueses - o lado positivo da vida está agora a nascer.

As áreas metropolitanas perderam há muito o seu esplendor. Foram durante décadas o epicentro de talentos de nível nacional onde residiam as oportunidades de participação profissional que gravitavam em redor dos mesmos.

Hoje, a economia do conhecimento traz consigo a democratização territorial. E os territórios rurais, outrora desconectados dessa economia, têm hoje atractivos de relevo para proporcionar o êxodo metropolitano: A qualidade ambiental, social e económica dos territórios rurbanos respondem ao novo estilo de vida dos empreendedores.

A consequência mais interessante do êxodo metropolitano será a polinização de conhecimento protagonizado pelos Novos Povoadores nos territórios de baixa densidade. As redes e a Internet trouxeram consigo a possibilidade de acesso e difusão de informação a nível global, e-learning e trabalho com equipas geograficamente distribuídas (groupware), para citar algumas possibilidades. Facilitarão deste modo a dinamização em seu redor de pequenos alvéolos sociais, com vista a respostas mais actuais à economia que estamos a construir.

O modelo de vida tradicional, onde a população metropolitana adquiria no campo/praia a segunda habitação que lhe permitia respirar, é no actual modelo a sua morada de eleição: Quebraram-se as barreiras geográficas e a falta de competitividade provocada pelos excessivos custos de produção nas áreas metropolitanas - que eram suprimidos por uma procura sucessivamente crescente de uma economia que agora sabemos sobreaquecida - tem hoje uma resposta no território interior conectado.

Por outro lado, os territórios com vontade de atrair Novos Povoadores - gente empreendedora, capaz de gerar dinâmicas de emprego e com vontade de adoptar um estilo de vida mais familiar - são chamados a posicionar-se de uma forma pró-activa, isto é, facilitar a integração dos novos residentes e das suas famílias. Essa tem sido a grande diferença no desenvolvimento dos territórios de baixa densidade. Quando os diversos actores territoriais se mobilizam em torno de um mesmo projecto - Networking Territorial - o sucesso torna-se alcançável. Os Novos Povoadores deixam de o ser, para fazerem parte de uma comunidade que luta para uma maior afirmação territorial, um acto de cidadania activa que os torna actores do desenvolvimento económico e social dessas regiões.

Será esta uma visão utópica?

Segundo um estudo da ONU, em 2015, 69% da população portuguesa viverá nas áreas metropolitanas, acentuado a ausência de qualidade de vida nesses centros populacionais.

Por seu turno, só o Município de Sintra acolhe mensalmente 1000 novas famílias de acordo com os últimos censos do INE.

Estando a sociedade globalizada assente cada vez mais numa economia sem geografia, facto que permite olhar para o território de uma forma mais inclusiva, é possível reduzir o fosso das assimetrias regionais com vantagens para os novos residentes dos territórios de baixa densidade. Assim, além do inegável incremento da qualidade de vida, promover-se-á a quebra de um ciclo de sangria demográfica.

Passar horas a fio no trânsito - que se retiram directamente ao tempo em família - não é uma inevitabilidade para ninguém.

Alexandre Ferraz e Frederico Lucas
in Semanário SOL, suplemento Confidencial

Monday, October 13, 2008

por António Covas

"De facto, é quase um crime que lesa pátria ter, de um lado, uma população agrícola envelhecida e, de outro, uma população de jovens quadros técnicos sem património e capital inicial para aceder à actividade. Estamos, infelizmente, na fase do “ajustamento por morte natural”, a única que parece conciliar todos os interesses do conservadorismo agro-rural nacional."

Friday, October 10, 2008

Os Neo-Rurais

Fotografia de João Espinho


"Todo e qualquer pedaço de território é uma espécie de cristal multifacetado com faces de contornos e nitidez muito variáveis: é um território com um determinado tipo de povoamento, uma estrutura produtiva, alguns activos patrimoniais, um conjunto paisagístico e um acervo simbólico. O nosso ângulo de visão, feito de saber técnico e profissional, é, geralmente, unidimensional, pelo que, na maioria dos casos, subestimamos a importância real da nossa observação. E, no entanto, a engenharia biofísica, a engenharia do ambiente, a arquitectura paisagística, a biologia e a botânica, mas, também, a geografia e a história, a literatura local e regional, são, em conjunto, capazes de operar pequenos milagres naqueles pedaços de território, aparentemente tão agrestes. Quer dizer, uma pequena cirurgia pode transformar um território hostil num território ameno. Uma severidade numa amenidade.

Se não respeitarmos o lema do desenvolvimento rural, a consequência parece inevitável: ajustamento económico sem conservação e diversificação de actividades conduz à formação de espaços rurais devolutos e territórios insustentáveis. Podemos, mesmo, estar à beira de mais um círculo vicioso de abandono e desertificação. Para inverter esta tendência, é preciso agir, simultaneamente e persistentemente, na economia da produção primária, na economia da conservação agro-ambiental e na economia da diversificação agro-rural."

Este excerto pertence à apresentação do Prof. António Covas que se vai realizar na Universidade de Évora nos próximos dias 16, 17 e 18 de Outubro e que gentilmente cedeu antecipadamente para publicação.

Apresentação completa

Sunday, October 05, 2008

Congresso da APDC vai propor agenda verde

Associação vai apresentar estudo para tornar possível aumentar a eficiência energética em 2020 através das novas tecnologias

Energia e alterações climáticas são dois temas que vão estar no centro do debate do Congresso da APDC - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações que vai decorrer em Lisboa de 11 a 13 de Novembro no Centro de Congressos da Junqueira, em Lisboa.

O evento, intitulado ‘TIC e as Alterações Climáticas’ vai pela primeira vez congregar especialistas e quadros das áreas das tecnologias da informação e comunicação (TIC) e energia. Em perfeito alinhamento com o tema, o congresso será presidido por Jorge Vasconcelos, ex-presidente da ERSE e actualmente assessor do presidente da Comissão Europeia para a área de energia.

Para Diogo Vasconcelos, recém-eleito presidente da APDC, a escolha deste tema tem particular pertinência no momento em que as TIC são cada vez mais um factor importante para a redução das emissões de dióxido de carbono (CO2). Para dar o exemplo, o dirigente está a desencadear uma mudança substancial na orgânica da associação de forma a torná-la mais “ágil e racional”.

Momento alto do Congresso da APDC será a apresentação do estudo ‘Smart Portugal 2020 - Aumentar a eficiência energética através das TIC’ que tem vindo a ser elaborado pela Boston Consulting Group (BCG) com a colaboração das principais empresas dos dois sectores. “Portugal vai ser o primeiro país do mundo a ter um relatório orientador para atingir o objectivo de redução de 15% das emissões de CO2 através do uso das TIC”, afirma Diogo de Vasconcelos. Uma meta que está em sintonia com o Pacote de Energia e Alterações Climáticas da UE e que transpõe para o plano nacional o estudo ‘Smart2020’ recentemente publicado pela GESI (Global e-Sustainbility Initiative) que, pela primeira vez, procura ilustrar a oportunidade de usar as TIC como factor de redução de 15% das emissões de CO2 em 2020 a nível global.

“Além das vantagens para a sustentabilidade do planeta, a redução de emissões gera grandes oportunidades de negócio que as empresas portuguesas deveriam aproveitar”, sublinha Diogo Vasconcelos. Nesse âmbito, o Congresso da APDC terá uma sessão no primeiro dia com o que se faz de melhor a nível mundial nas áreas de energia, transportes e logística, edifícios e indústria. Depois, haverá três sessões simultâneas sobre a aplicação das TIC no futuro: as «smart grids» (redes de nova geração do sistema eléctrico), a virtualização das redes de transporte (desde o carro eléctrico ao teletrabalho) e as casas e edifícios inteligentes.

Não faltarão também sessões em que se vão debater os incentivos e a regulação das redes de nova geração, o impacto da desmaterialização no estilo de vida e ainda as alterações climáticas e sociais das TIC pós-carbono (nova televisão, web 2.0 e energia Internet).

No último dia, o Congresso da APDC vai debater o papel do consumidor em 2020, as cidades inteligentes e as vantagens e inconvenientes das Redes de Nova Geração. Como é habitual o evento termina com outro prato forte: o ‘Estado da Nação das Comunicações’, com a presença dos principais líderes do sector.

in EXPRESSO, João Ramos

Monday, September 29, 2008

Desenvolvimento: Portugal deve ajudar regiões mais atrasadas a encontrar vantagens competitivas - OCDE

Porto, 29 Set (Lusa) - A OCDE recomenda que Portugal ajude as regiões mais atrasadas a identificarem nichos de desenvolvimento para que seja possível redobrar "os esforços para captar vantagens competitivas regionais diferenciadas".
O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o "Estudo Territorial de Portugal", hoje apresentado no Porto, sustenta que a política regional portuguesa "tem registado progressos significativos nos anos mais recentes", mas considera ainda que o país tem assimetrias regionais acentuadas.

Este estudo foi solicitado pelo Governo português, à OCDE, em finais de 2005.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Rui Baleiras, disse que retira como primeira lição deste relatório "a convicção que a mudança de paradigma na política regional que este governo iniciou em Portugal constitui condição necessária para ultrapassar os défices estruturais da economia nacional e retomar uma rota de convergência assente na competitividade de todos os territórios".

"O estudo reconhece que Portugal encetou a implementação de um novo paradigma de política regional, um modelo que dá maior atenção às características das diferentes regiões e na reformulação e na execução das políticas públicas", disse.

Segundo frisou, a concentração do investimento público em torno de infra-estruturas físicas e nos serviços colectivos "não foi suficiente para desencadear uma dinâmica de desenvolvimento endógeno baseada em recursos competitivos".

"A orientação política para objectivos de competitividade que procurem reverter défices estruturais da economia portuguesa exige políticas baseadas numa abordagem territorial que promovam economias de aglomeração e gerem efeitos de difusão nos diversos territórios", sustentou.

O secretário de Estado salientou ainda que "o desafio da competitividade, quer pela sua complexidade quer pelo dinamismo da sua evolução, apenas pode ser ganho com base em estratégias de forte cooperação entre os actores relevantes".

"Daí a recomendação da OCDE para a relevância de promover uma maior coerência de intervenções sectoriais do governo central", afirmou Rui Baleiras.

O secretário de estado defendeu também intervenções locais e sub-regionais dos governos locais, num contexto de maior articulação com as acções de outros actores de desenvolvimento, nomeadamente empresas e suas associações, universidades e associações de desenvolvimento local e regional.

Ainda segundo o estudo da OCDE, hoje divulgado, a economia portuguesa "carece de esforços continuados para valorizar o potencial humano e promover actividades baseadas no conhecimento".

"A política de inovação poderá atingir maior eficácia através da conjugação da liderança nacional e das interfaces regionais", refere o documento.

Acompanhar as regiões menos desenvolvidas "com mecanismos adequados" para melhorar a prestação de serviços públicos e "facilitar a evolução" dessas regiões para a autonomia sem criar "armadilhas de pobreza" é outra das recomendações.

A OCDE entende também que "os anos mais próximos poderão vir a determinar o futuro de Portugal na economia globalizada".

Contudo, salienta que "o investimento em recursos de longo prazo para a competitividade deve prosseguir através de estratégias diferenciadas baseadas no potencial específico de cada região".

O relatório sublinha ainda que Portugal tem pela frente uma "série de desafios estruturais" e sustenta que o país "precisa seguramente de reforçar os seus níveis de rendimento e crescimento e de travar o aumento acelerado do desemprego".

"Ainda mais importante - sustenta o relatório - Portugal tem que modernizar a sua economia, confinada a uma especialização sectorial de baixos conhecimentos ao investimento modesto na inovação, a uma força de trabalho relativamente pouco qualificada como um dos mais baixos ritmos de recuperação no espaço da OCDE, e a um custo de oportunidade elevado no Ensino Superior".

A OCDE entende também que os "instrumentos financeiros actualmente em Portugal para apoiar as despesas subnacionais continuam mais concentrados em reduzir o impacto negativo das disparidades regionais do que em promover o impacto positivo das especificidades regionais".

"No mínimo, a política regional deve tentar proporcionar aos cidadãos igual acesso a uma série elementar de bens e serviços públicos independentemente da sua localização", sublinha.

O relatório da OCDE considera ainda que, "de um modo geral, as autarquias locais em Portugal têm pouca autonomia financeira e dependem fortemente de subsídios provenientes do governo central".

Para a OCDE, as regiões mais marginalizadas "não devem ser ignoradas, devendo ser lançados mecanismos diferenciados a fim de evitar criar uma cultura de assistência e não desincentivar essas regiões de valorizarem o seu próprio potencial ao longo do tempo".

JAP.

in RTP

Saturday, September 27, 2008

Encontro Star Tracking Lisboa: O Vídeo

“Coworking” reúne profissionais de diferentes áreas no mesmo espaço



Alguns são estilistas, outros programadores e outros escritores, mas todos estão unidos por um mesmo motivo: cansados do isolamento e de trabalhar na solidão de suas casas, decidiram compartilhar um escritório.

Trata-se do coworking, uma tendência cada vez mais popular nos Estados Unidos e que consiste em compartilhar o espaço de trabalho com outros profissionais, mesmo que não pertençam à mesma empresa nem realizem tarefas parecidas.

Os locais de coworking estão ganhando adeptos à medida que cresce no país o número de autônomos e de pessoas que trabalham em casa.

Segundo as últimas informações fornecidas pelo escritório federal de estatística, entre 2000 e 2005 foram registradas mais 4 milhões de empresas compostas por apenas uma pessoa.

Paralelamente, o aumento do preço da gasolina está encorajando muitos trabalhadores dos Estados Unidos --onde é habitual viver a muitos quilômetros do escritório-- a negociarem com suas empresas para poder trabalhar parcialmente em casa.

Calcula-se que cerca de 26 milhões de americanos trabalham em seus domicílios pelo menos um dia por semana, o que equivale a 18% da população empregada no país.

Entretanto, ter o escritório a poucos metros do sofá também cansa. A falta de companheiros e de uma clara divisão entre o espaço de trabalho e lazer pode ser psicologicamente dura para muitas pessoas.

Uma solução simples e econômica é o "coworking". Os locais que oferecem esse serviço estão se multiplicando nas grandes cidades americanas.

Com tarifas que ficam em cerca dos US$ 250 por mês, estes lugares oferecem mesa, conexão de internet, café de graça e, o mais importante, a possibilidade de se relacionar com outros profissionais na mesma situação.

Tendência forte

Por um pouco mais de dinheiro as pessoas podem usar outros serviços como salas de reuniões e até uma mesa cativa ou o acesso ao local a qualquer hora do dia.

Na Sandbox Suites, um dos muitos locais de San Francisco dedicados ao coworking, as tarifas variam de US$ 20 por dia para os visitantes esporádicos a até US$ 545 por mês para aqueles que querem dispor de uma escrivaninha própria permanente.

"Desde que comecei a trabalhar aqui, há cinco meses, o número de visitantes não parou de crescer e não parece que a tendência vá mudar", diz Dominick Del Bosque, um dos responsáveis pela Sandbox Suites e produtor de cinema independente.

Muitos dos clientes assíduos da Sandbox Suites costumavam trabalhar antes em cafés, mas, segundo Del Bosque, passaram para o coworking após a primeira visita ao local.

"Para começar, nós oferecemos conexão à internet e todos os serviços de um escritório, mas, sobretudo, aqui as pessoas encontram proximidade com outros. Em um Starbucks o profissional ficará cercado de pessoas que não têm interesse algum no que você está fazendo", declarou.

Um dos freqüentadores da Sandbox Suites é David Pascual, espanhol estabelecido em San Francisco que trabalha para o site YourStreet.com.

"Em nossa empresa, estamos espalhados pelo mundo. Aqui, somos apenas dois", diz ele. "Para uma pequena companhia com interesse em fazer contatos, é positivo ter um espaço no qual pode colaborar com mais pessoas e, além disso, é mais barato que alugar um escritório."

Como David Pascual, muitos visitantes habituais da Sandbox Suites têm ocupações ligadas à internet, para as quais o lugar físico de trabalho é secundário.

"Até certo ponto, eu poderia trabalhar até de Barcelona", reconhece Pascual, "mas estar aqui me oferece a possibilidade de ter um ambiente no qual seja possível me conectar a outros e fazer crescer um pouco o negócio".

FONTE: Folha Online

in Vida Curiosa

Friday, September 19, 2008

Agro-Urbes


Jack Schultz é um especialista em desenvolvimento imobiliário e autor de Boomtown USA um livro que aponta as pequenas cidades americanas como as que mais cresceram nos últimos meses. O aumento da ligações de banda-larga e wireless, as companhias aéreas low-cost e comboios de alta velocidade têm permitido a fixação de pessoas em pequenas cidades do interior.

Este estudo aponta para uma nova revolução e uma nova vaga de migração depois do advento da classe criativa proclamada por Richard Florida. Schultz em declarações ao jornal Expresso afirmava que as pessoas procuram qualidade de vida nas comunidades rurais e acabar com o stress do movimento diário entre as cidades e os subúrbios. "A pequenez deixou de contar. A questão da massa crítica urbana já não é tão importante como há 20 anos".

Em Portugal, com o seu atraso normal, ainda esperamos pela revolução, a sério, da classe criativa... Mas surgem cidades do interior de Portugal com forte ligação às Universidades, como a Covilhã, Braga ou Évora, que podem vir a ganhar alguma importância nas próximas décadas, num plano nacional e ibérico.

in Usabilidade | human-computer interaction

Saturday, September 06, 2008

Guimarães: Avepark cria 750 empregos em 2008 e chega aos 1500 em 2009



Manuel Mota, que é também vice-reitor da Universidade do Minho, refutou a tese, defendida pela União de Sindicatos de Braga, de que a maioria dos empregos criados são "precários e temporários", garantindo que "nesta fase, está já garantido um retorno social de 20 por cento do investimento, e de 50 por cento em matéria económica".

O Avepark, onde foram investidos 15 milhões de euros, foi hoje inaugurado nas Caldas das Taipas pelo Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.

O vice-reitor Manuel Mota afirmou que, com as empresas já instaladas, o retorno financeiro do investimento está, também, garantido, refutando, assim, as críticas da CGTP, que acusou há dias o Estado de "investir dinheiro público em trabalho precário, enquanto há dezenas de empresas em falência no Vale do Ave".

O Parque de Ciência acolhe o Instituto Europeu de Excelência em Medicina Regenerativa de Tecidos, em que trabalham 120 investigadores, oito empresas da incubadora da Universidade do Minho, a SpinPark, e as empresas 3B`s - ligada ao Instituto Europeu, CRH - Consultoria e Valorização em Recursos Humanos, e Ortos, que se dedica ao fabrico de cadeiras de rodas de nova geração.

Na ocasião, o secretário de Estado leu uma mensagem do primeiro-ministro José Sócrates, na qual se enaltece o trabalho de parceria entre os promotores do projecto, a Câmara de Guimarães, a Universidade do Minho e a Associação de Parques de Ciência e Tecnologia do Porto.

O governante considerou que "o Avepark responde aos desafios de índole tecnológica que a economia tem de enfrentar nos mercados nacional e internacional, fundamental para a sua competitividade".

Manuel Mota disse à Lusa que as empresas que se vão instalar no Avepark, "operam nas áreas das tecnologias da informação, dos novos produtos, das nanotecnologias e das biotecnologias".

Frisou que o interesse das empresas no Avepark deriva da ligação à Universidade do Minho e, também, "da existência na região de Braga, do chamado `Silicon Valley português`, com 600 empresas de `software`, algumas com dimensão internacional".

Afirmou que a região do Minho "é a mais atractiva do país para o investimento, já que conjuga um vasto conjunto de infra-estruturas, com destaque para as tecnológicas de banda larga" e com o facto de ainda ter acesso aos fundos comunitários.

"Quando o projecto estiver concluído, daqui a dez anos, teremos 150 a 200 empresas no Avepark, com cinco mil empregos altamente qualificados", vaticinou. O investigador universitário sublinhou que, nessa fase, o Produto Bruto da região será aumentado, só através do Avepark, em mais de 200 milhões de euros anuais.

O Parque está instalado em 80 hectares de terrenos nas Caldas das Taipas em pleno Vale do Ave.

O projecto, que recebeu um subsídio governamental de 3,2 milhões de euros, é uma sociedade constituída pela Câmara de Guimarães, com 51 por cento do capital, pela Universidade do Minho, a Associação Industrial do Minho e a Associação do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto (com 15 por cento, cada) e pela Associação Industrial e Comercial de Guimarães, com quatro por cento.

O investimento total em infra-estruturas atinge os 15 milhões de euros, verba a que haverá que somar os 10 milhões do valor dos terrenos doados pela Câmara e os investimentos feitos pelos privados.

LUSA, LM.

Friday, August 15, 2008

Deslocalização posta em causa com o choque petrolífero

Paul Krugman cita estudo de Nuno Limão, da Universidade de Maryland

A globalização também prega partidas. O que deu, ontem, com uma mão, pode amanhã tirar com a outra. O terceiro choque petrolífero em curso está a alterar os padrões do comércio internacional. E, por mais paradoxal que pareça, as principais vítimas desta mudança poderão ser as ‘fábricas do mundo’, os campeões do «outsourcing» de produtos e bens físicos, com a China à cabeça.

A avaliação desta alteração estrutural é possível graças a um estudo de Dezembro de 2000 de um economista português radicado nos Estados Unidos. Nuno Limão, professor associado no Departamento de Economia da Universidade de Maryland, conseguiu identificar um indicador que leva uma designação técnica complexa - elasticidade do comércio em relação aos custos de transporte. O artigo científico, que escreveu com Anthony J. Venables, da London School of Economics, apurou que sempre que os custos de transportes aumentam de uma unidade o efeito negativo no comércio é multiplicado por três.

Esta relação foi, recentemente, tirada da prateleira pelo economista Paul Krugman que na sua coluna no ‘The New York Times’ usou a elasticidade encontrada por Limão para apurar a quebra potencial no comércio internacional “se os preços do petróleo se mantiverem aos níveis actuais (na altura, nos 130 dólares) por muito tempo”. Segundo Krugman, a quebra seria de 17% em relação ao ano 2000.

O economista mediático socorreu-se, também, de um estudo da consultora canadiana CIBC que referia que, fruto do disparo do preço do crude desde 2000, os fretes entre a China e os Estados Unidos quase triplicaram. Se os preços estabilizarem nos 150 dólares por barril no futuro, o frete pode ainda aumentar mais 40% em relação aos preços actuais. O que isso significará, com base na elasticidade apurada por Nuno Limão, é que o comércio internacional poderá emagrecer ainda mais 6% em relação ao nível actual.


China na berlinda

Nuno Limão, que nasceu no ano da Revolução do 25 de Abril, sublinha-nos que o «outsourcing» de produtos e bens físicos será o sector que mais vai sofrer. “O caso mais importante será, talvez, o da China, já que se tornou na fábrica do mundo. Dados mais recentes, revelam inclusive que já se nota um abrandamento das exportações chinesas de bens mais sensíveis aos custos de transporte para os Estados Unidos”. O investigador português antevê, por isso, que o «nearshoring», ou seja a deslocalização para regiões próximas dos clientes possa ganhar força. O que poderá acontecer com as ‘traseiras’ dos Estados Unidos (oportunidade, de novo, para o México) e com os países de mão-de-obra mais barata dentro da União Europeia e que a circundam.

Limão, apreciando o que já ocorreu com o falhanço da última sessão da Ronda de Doha, arrisca que outra consequência poderá ser o crescimento do regionalismo. “Esta regionalização do comércio internacional pode ter alguns efeitos negativos, mas é bastante difícil, senão mesmo impossível, calcular um efeito preciso”, conclui este académico, que desde os 16 anos estuda fora.

Ainda adolescente ganhou uma bolsa para estudar no United World College, nos Estados Unidos, depois tirou a licenciatura na London School of Economics, e em 1996 regressou ao outro lado do Atlântico doutorando-se em economia na Universidade de Columbia.

in Expresso, Jorge Nascimento Rodrigues

Monday, August 04, 2008

Portugal como destino de nearshoring

Portugal está numa fase decisiva do seu percurso como nação competitiva, viável economicamente e com perspectivas de qualidade de vida para os seus cidadãos. Está mais do que visto que o modelo económico baseado no baixo valor acrescentado está esgotado, bem como a actividade rentista tradicional. As elites económicas e empresariais nacionais necessitam de uma forte renovação, que inpute massa crítica que entenda e posicione o país na nova configuração da economia global.

Mais não será dizer que é preciso uma aposta séria no desenvolvimento e reforço do capital intelectual português que mude estruturalmente o padrão de especialização da nossa economia. Um reforço que não passa por alocar só mais dinheiro na educação ou dar computadores. É preciso agir mais na zona entre o final da cadeia de valor do ensino e o início da do mercado de trabalho.

Um dos desafios nessa «buffer zone» está em conseguir que Portugal seja um destino atractivo para o nearshoring, ou seja, a deslocalização de actividades de médio-alto valor acrescentado de economias mais desenvolvidas (I&D, desenvolvimento de software, call-centers, design, etc).

Para que tal aconteça, é preciso que:

1 - o Ministério da Economia simplifique a burocracia dos licenciamentos e na atribuição de incentivos financeiros atribuídos aos investimentos estrangeiros.

2 - criar parques de nearshoring junto das universidades e dos parques de ciência e tecnologia, para facilitar o acesso à massa crítica e gerar laços efectivos de entre as cadeias de valor do sistema de ensino e empresarial

3 - promover Portugal como destino competitivo de nearshoring, ao ponto deste conceito se confundir com o próprio país

4 - «se não consegues vencê-los, junta-te a eles»: constituir parcerias com a Irlanda e a Índia, oferecendo Portugal como mecanismo de entrada para mercados estratégicos da América do Sul, África e Europa (vide este artigo de JNR na Janela na Web)


in Capital Intelectual, Ruben Eiras

Saturday, July 26, 2008

Aviões no Sul, computadores no Norte


Duas fábricas de componentes de aviões em Évora; consórcio com a Intel para fazer PCs em zona a anunciar

A empresa brasileira Embraer vai instalar duas fábricas de componentes para aviões, em Évora, criando mais de 3500 postos de trabalho directos. O anúncio oficial é feito hoje, às 10:30 horas, no CCB, pelo primeiro-ministro, José Sócrates, e pelo director presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, na presença do presidente brasileiro Lula da Silva.

Segundo o Expresso apurou, serão investidos de início 148 milhões de euros em instalações que terão capacidade para produzir componentes para 13 a 14 aviões por mês. O investimento contempla, igualmente, a ligação a universidades portuguesas para a concepção, engenharia e desenvolvimento de aeronaves.

Segundo o ministro da Economia, Manuel Pinho, “este é um grande investimento tecnológico que só tem paralelo com a AutoEuropa”, a fábrica da Volkswagen em Palmela.

A Embraer é o terceiro maior fabricante de aviões a nível mundial, depois dos gigantes Boeing e Airbus. As unidades industriais de Évora - as primeiras desta empresa na Europa - deverão começar a produzir em 2011. A primeira, no fabrico de estruturas, maquinação e montagem de peças metálicas para asas; a segunda, para conjuntos em materiais compósitos das caudas de aviões como os Embraer 170, 190 e Legacy (jactos executivos).

O primeiro passo para as negociações entre o Governo português e a Embraer foi dado, em Agosto de 2006, quando José Sócrates visitou a sede da empresa brasileira, a cerca de 100 quilómetros de São Paulo. Na época, o primeiro-ministro regressou de mãos vazias, mas seguiram-se quase dois anos de negociação em torno do reforço dos investimentos dos brasileiros na OGMA-Indústria Aeronáutica de Portugal (da qual controlam 65% do capital, em associação com a EADS/Airbus). As negociações foram fechadas na quinta-feira, dia 17, tendo o ministro da Economia cancelado a sua deslocação a Angola para se reunir com os investidores brasileiros.

“O maior desafio será o de incentivar a participação portuguesa no projecto do cargueiro militar C-390, um avião que está a despertar o interesse do Brasil e de alguns países da América do Sul”, declarou ao Expresso Eduardo Bonini, presidente executivo da OGMA. A confirmar-se esta participação, Portugal poderá optar pelo Embraer C-290 para substituir os Hércules C-130, ao serviço da Força Aérea há mais de 30 anos.


Fábrica de computadores

Na quarta-feira José Sócrates recebe a visita de Craig Barrett, presidente da Intel, que será um dos parceiros num novo consórcio de fabricação de computadores pessoais de baixo custo.

O projecto, que terá nome português, conta ainda com a participação de empresas nacionais (J.P. Sá Couto e Infolândia). O Expresso apurou que a fábrica será instalada no Norte do país, aproveitando as competências existentes nas universidades do Minho, Porto e Aveiro.

Além do mercado interno, ligado ao programa e-Escolas, o objectivo é desenvolver um «cluster» exportador deste tipo de equipamentos, idênticos aos que já são distribuídos aos alunos do secundário. Venezuela e Líbia são os primeiros mercados garantidos, na sequência das vistas de Hugo Chávez a Lisboa e de Sócrates a Trípoli.

in Expresso, Alexandre Coutinho, Cristina Figueiredo e João Ramos

Saturday, July 19, 2008

Alentejo é o futuro do potencial do País


O Alentejo é o espaço que apresenta a mais forte concentração de potencial de crescimento do conjunto da economia portuguesa". Quem o diz é o antigo ministro das Finanças, Ernâni Lopes, que refuta a ideia de que a região Sul do País "não tem futuro".


Em conferência de imprensa para apresentar o relatório da SaeR - Sociedade de Avaliação de Empresas e Risco, à qual preside, o ex-governante considera que todo o território a Sul do Tejo, "e não só Almada e Seixal", constituem o que chama ‘Grande Ogiva do Sul’, com destaque para o Alentejo. Para Ernâni Lopes, a região deve investir na agricultura de valor acrescentado e num tipo de turismo particular: o de atracção para segunda residência para os mais idosos do norte da Europa que possuem um elevado poder de compra.

Por isso mesmo, defende que é necessário dotar o Alentejo de uma rede que permita o "acesso a serviços de saúde de padrão europeu" de forma a responder à necessidade destes novos turistas. O economista faz ainda questão de salientar que, com dezenas de milhões de potenciais clientes nos países escandinavos, o Alentejo tem condições "quase inultrapassáveis" para garantir o sucesso desta iniciativa.

"O Alentejo não é um caso perdido. O mercado está lá e neste momento tem uma oportunidade muito clara que durará pelos próximos trinta anos", referiu sem, no entanto, ignorar os efeitos que a crise na economia espanhola poderão ter no desenvolvimento da região. "Temos um verdadeiro problema com a economia espanhola, mas este tipo de investimento é planeado durante anos", salienta.

Já em Junho passado, os autarcas do Alentejo, reunidos no Congresso Alentejo XXI, em Beja, manifestaram a convicção de que "é possível, a médio prazo, transformar o Alentejo no principal factor de de-senvolvimento do País".

"São medidas de circunstância"

O antigo ministro das Finanças de Mário Soares, Ernâni Lopes, considera que as medidas tomadas pelo Governo para combater a crise são "de circunstância e que pouco fazem para um problema conjuntural. "São medidas pontuais que não fazem a diferença", disse reconhecendo-lhes apenas um efeito imediato. Quanto ao futuro da economia portuguesa, o especialista não se mostra optimista: "Está mal e tenderá, possivelmente, a piorar até 2010". E defendeu que "o importante não é sair da crise, mas sim como passar por ela".

Perigos do choque petrolífero

O relatório da SaeR, empresa de avaliação de empresas e risco liderado por Ernâni Lopes, alerta para o perigo do choque petrolífero que a economia mundial atravessa. "Não se sabe quando vai acabar", defende o especialista, recordando as consequências da crise da OPEP, em 1973, que aumentou os preços do petróleo em 300 por cento. No relatório da SaeR consta o alerta para o agravar de "tensões internas na sociedade portuguesa", como reflexo da instabilidade criada pelos constantes aumentos dos preços dos combustíveis.
in Correio da Manhã, Pedro H. Gonçalves

Thursday, July 10, 2008

Visão Periférica e Strategic Early Warning


Quantos gestores e empresários ouviram até hoje a palavra “surpreendentemente” ou a expressão “fomos apanhados de surpresa”, referindo-se à performance da sua organização?

Aceitando que o factor surpresa não se pode eliminar, podemos no entanto, evitá-lo criando e mantendo um sistema de strategic early warning (SEW).

E, em que consiste um SEW?
Trata-se de um sistema de visão periférica que coloca a organização a olhar para todos os ângulos e não apenas para o seu mercado tradicional e stakeholders.

Tradicionalmente, uma organização monitorizava a sua indústria, o seu mercado e os seus stakeholders. Hoje, numa era de mudanças rápidas e de partilha instantânea de conhecimento, isso tornou-se insuficiente para garantir o sucesso e a sobrevivência das organizações. Hoje, mais do que nunca se impõe o que chamamos: Visão Periférica.

Vejamos o caso concreto de uma empresa que tem bons indicadores económicos, os resultados estão óptimos, os clientes satisfeitos, mantém um controlo de gestão eficaz e com ferramentas de análise de indústria avançadas. Perfeito. Está no bom caminho, diríamos. Pode continuar assim.

Mas é este cenário que, historicamente tem colocado as maiores empresas do mundo em dificuldades quando, “surpreendentemente”, surgem novas e alternativas formas de fazer. E que não vêm dos concorrentes óbvios, porque esses estão a ser monitorizados. Vêm habitualmente de players novos que aparecem no mercado com novos paradigmas.

Os sinais habitualmente estão lá mas são negligenciados por vários motivos ou, pura e simplesmente ignorados.

Ben Gilad (professor de estratégia e competitive intelligence) aponta as “Convicções dos Gestores” como um dos factores de insucesso devido à não interpretação de sinais precoces do mercado. Porquê? Porque os gestores de topo chegam ao topo precisamente pelos seus êxitos e pelos sucessos alcançados. Logo, existem nas suas mentes determinadas premissas para o sucesso.
Perante uma situação nova, a tendência é para aplicar conhecimentos e prática anteriores. E, na maioria dos casos em que existe dissonância de mercado, é necessário olhar para os sinais do mercado sem preconceitos, dogmas ou ideias preconcebidas. Precisamente porque se tratam de novos paradigmas.
Só com um olhar aberto se conseguem cartografar os perigos actuais, os perigos eminentes e as oportunidades que advêm do perigo.

Falamos muito na gestão do risco mas gerimos de facto o risco estratégico?
Olhemos para as áreas funcionais das empresas: área operacional, área financeira e área de marketing e/ou comunicação. Focamos a gestão do risco aí, ou seja, analisamos o risco das operações, analisamos o risco financeiro e analisamos o risco de imagem ou reputação. E podemos dizer que a maioria das organizações estão preparadas para enfrentar contrariedades nestas áreas.

E o risco estratégico? Quantas dessas organizações gerem de facto o risco estratégico? Quem, nos organogramas é responsável por essa gestão do risco?
E, quando falamos de risco estratégico falamos de risco de vida transversal a todas as áreas da empresa, falamos de um risco que envolve a interacção da empresa com o mercado actual e potencial em que actua assim como toda a envolvente directa e indirecta.

Muitas vezes uma empresa que segue o seu caminho de forma segura e estável vem a verificar mais tarde que estava em dissonância de mercado sem se aperceber, ou seja, não se adaptou às alterações que se perfilaram lentamente no seu mercado.
É esta a empresa que acabará dizendo que foi surpreendida por uma nova tecnologia, por um novo operador de mercado, pela redução das margens, etc.

Um sistema de visão periférica bem implementado evita muitas destas surpresas. Não se pode dizer que evite os maus resultados ou o colapso de empresas, mas evita certamente a surpresa. E, o que se faz com a identificação dos sinais precoces será certamente diferente do que se fará com base no desconhecimento.

Uma empresa com visão periférica olha para todos os cantos de si mesma, para os concorrentes e para o mercado como um todo. Esta vigilância permanente dará os alertas necessários a tempo de mudar o que houver a mudar. E isso faz toda a diferença.

É baseado nesta premissa que as grandes organizações de todo o mundo, criaram os seus próprio sistemas de SEW que, funcionando de forma transversal a todas as áreas funcionais da organização, são o radar e suporte da definição de estratégias e tácticas de sucesso.


in Machete, Fátima Rebelo

Tuesday, July 08, 2008

Automóvel: Portugal é um dos primeiros mercados de aposta da Renault-Nissan para comercializar veículos eléctricos

Portugal será um dos primeiros mercados mundiais onde serão introduzidos os modelos veículos eléctricos da aliança Renault-Nissan, no âmbito do memorando de entendimento que o governo assina com o grupo quarta-feira.
De acordo com o protocolo, a Renault-Nissan vai comercializar em larga escala veículos eléctricos para os consumidores portugueses a partir de 2010.

A cerimónia de assinatura do memorando de entendimento contará com as presenças do primeiro-ministro, José Sócrates, do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, e do presidente e CEO da Nissan e da Renault, entre outros.

O Governo português vai estudar conjuntamente com a Renault-Nissan a forma de criar condições adequadas para os veículos eléctricos serem uma oferta atractiva para os consumidores portugueses, as infra-estruturas e organizações necessárias para criar uma ampla rede de estações de carga para os veículso eléctricos, a nível nacional, e identificar os canais mais eficazes de comunicação e educação para sensibilizar para a importância destes modelos, que permitem reduzir as emissões.

A escolha de Portugal acontece numa altura em que o Governo aposta em assumir a liderança em termos de desenvolvimento sustentável e na diversificação de fontes de energia renovável.

As negociações entre o Governo e a Renault-Nissan arrancaram em Maio e com este protocolo o objectivo será promover a mobilidade com zero emissões no país.

A assinatura deste memorando surge numa altura em que os países procuram alternativas aos combustíveis, atendendo à escalada dos preços e a uma maior aposta das empresas e dos governos em medidas de redução de emissões de CO2.

Em meados de Junho, o Conselho Europeu introduziu uma proposta de Portugal sobre o apoio europeu ao desenvolvimento de tecnologias alternativas ao petróleo, nomeadamente os veículos eléctricos.

"A Europa precisa de mostrar músculo político e decisão política relativamente ao dos combustíveis. É isso que os cidadãos europeus e a economia europeia esperam", afirmou na altura José Sócrates à entrada para o Conselho Europeu.

"Acho que é este o momento para dizermos ao mercado petrolífero que a Europa não aceita que esta situação de dependência do petróleo se mantenha e, para isso, temos que dar uma oportunidade a alternativas de transporte, nomeadamente os carros eléctricos", acrescentou o primeiro-ministro.

in RTP

Friday, June 27, 2008

Aviação: Flexibilidade, aumento de capacidade das pistas e terminais mais baratos são desafios de futuro


O especialista norte-americano em sistemas aeroportuários Richard de Neufville apontou hoje a flexibilidade dos aeroportos, o aumento da capacidade das pistas e a redução de custos como os principais desafios num sector cada vez mais marcado pela incerteza.

Numa conferência promovida pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, o professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) afirmou ser possível diminuir os custos do sistema aeroportuário em 25 por cento em cada um destes factores.

"Os investimentos têm que ser pensados de forma flexível, antecipando eventuais cenários e com possibilidades de adaptação a várias possibilidades de futuro, que não sabemos como será. Temos que ser humildes e admitir vários cenários, com companhias `low cost`, sem companhias `low cost` ou com uma mistura das duas", sustentou Richard de Neufville.

Segundo salientou, o objectivo do ponto de vista da engenharia das infra-estruturas aeroportuárias deverá ser a melhor relação entre custo e benefício, e não a excelência técnica, o que significa que a tecnologia "não é um fim em si mesmo" e que as soluções encontradas têm que ser eficientes a nível de custos.

Num contexto de rápida e profunda mudança no sector, de Neufville destacou que a prática do século XX está "obsoleta" e que há uma nova "agenda de desenvolvimento" para o século XXI, com destaque para o crescente domínio das transportadoras `low cost` (de baixo custo) em termos de volume de tráfego, dimensão financeira e inovação.

Como principais "incertezas" no sector, o investigador apontou a evolução do volume de tráfego e onde esta ocorrerá.

Factores que, frisou, "não obedecem a uma tendência, mas dependem das decisões das companhias `low cost`, tendo em conta os destinos onde acreditam que farão melhor negócio e, eventualmente, condições especiais oferecidas pelos aeroportos".

"As companhias `low cost` não têm lealdade a nenhum país, entram e saem de acordo com condições que lhes são oferecidas, e o crescimento do tráfego aéreo pode mudar para determinados destinos devido a, por exemplo, questões ligadas ao turismo, tal como é afectado pelo desenvolvimento de aeroportos secundários", afirmou.

Face a este cenário de incerteza e mudança, Richard de Neufville aponta o `desenho flexível` como um dos principais desafios no desenvolvimento e investigação aeroportuários, "de forma a reduzir os riscos de construir infra-estruturas que não vão ser usadas".

A este nível, apontou várias possibilidades, desde o desenvolvimento faseado dos aeroportos (de preferência feito antecipando várias possibilidades e a capacidade de rápida expansão), aos `designs` híbridos e adaptados a mudanças mesmo que diárias.

Relativamente ao desafio de aumentar a capacidade das pistas, o investigador disse ser particularmente válido para a Europa, "onde a capacidade está cerca de 25 por cento abaixo do melhor `benchmark`".

"É preciso eliminar os `slots` tal como estão actualmente definidos, admitindo-lhes uma grande variabilidade consoante o estado do tempo e a melhoria da precisão dos sistemas de localização de aeronaves, por exemplo", disse.

"O `benchmark` internacional indica que são possíveis grandes melhorias a esse nível", acrescentou.

Finalmente, Richard de Neufville destaca o desafio de diminuir os custos dos terminais aeroportuários, abandonando os "luxos obsoletos" do século XX e fazendo antes corresponder as infra-estruturas ao tipo de utilizadores, construindo "terminais low cost para companhias low cost".

PD/Lusa

in RTP

Saturday, June 21, 2008

A Nova Economia Colectiva



A dinamização recente entre nós de iniciativas integradas de ‘pólos de competitividade’ no âmbito de sectores estratégicos como a saúde, têxtil e automóvel, entre outros, é o melhor exemplo de que só com projectos de “eficiência colectiva” se conseguirá um novo modelo de desenvolvimento para Portugal.

A excessiva concentração de activos empresariais e de talentos nas grandes metrópoles, como é o caso da Grande Lisboa, uma aterradora desertificação das zonas mais interiores, na maioria dos casos divergentes nos indicadores acumulados de capital social básico, suscitam muitas questões quanto à verdadeira dimensão estruturante de muitas das apostas feitas em matéria de investimentos destinados a corrigir esta ‘dualidade’ de desenvolvimento do país ao longo dos últimos anos.

Apesar da relativa reduzida dimensão do país, não restam dúvidas de que a aposta numa política integrada e sistemática de cidades médias, tendo por base o paradigma da inovação e do conhecimento, com conciliação operativa entre a fixação de estruturas empresariais criadoras de riqueza e talentos humanos indutores de criatividade, é o único caminho possível para controlar este fenómeno da metropolização da capital que parece não ter fim. O papel das universidades e institutos politécnicos que nos últimos 20 anos foram responsáveis pela animação de uma importante parte das cidades do interior, com o aumento da população permanente e a aposta em novos factores de afirmação local, está esgotado.


É por isso fundamental que a aposta concreta em projectos de fixação de riqueza e talentos nas cidades médias portuguesas tenha resultado. É fundamental que a sociedade civil agarre de forma convicta este desígnio e faça da criação destas ‘novas plataformas de competitividade’ a verdadeira aposta estratégica colectiva para os próximos anos. O aumento dos fluxos migratórios do interior para as grandes cidades, por um lado, e para o estrangeiro, por outro, envolvendo tanto talentos como segmentos indiferenciados da população afectados pela onda crescente de desemprego, tem que ter uma resposta cabal. Só assim se conseguirá evitar que Portugal se torne um país ‘dual’, incapaz de consolidar uma coesão territorial e social essencial na estratégia de afirmação colectiva como um país desenvolvido no novo mundo global.

A política pública tem a responsabilidade de dar o mote e marcar a agenda. Iniciativas como ‘Cidades e Regiões Digitais’, ‘Acções Inovadoras de Base Regional’, entre outras, têm tido o incontornável mérito de colocar estas temáticas na agenda e de reforçar os infelizmente nem sempre muito fortes níveis de cooperação e articulação entre actores territoriais (municípios, universidades, centros I&D, entre outros). Mas engane-se quem pense que serão capazes por si só de alterar o panorama global. O que está verdadeiramente em causa em tudo isto é a assumpção por parte do país de um verdadeiro desígnio estratégico de alterar o modelo mais recente de evolução de desenvolvimento e de implementar ‘pólos de competitividade’ ao longo do país, fixando dessa forma riqueza e talentos que doutra forma tenderão a concentrar-se unicamente na grande metrópole.

Acima de tudo, há que tomar opções de forma precisa e ser muito claro que haverá zonas territoriais preteridas face a outras, mas o bem de uns é o bem de todos. O papel do investimento directo estrangeiro de inovação, articulado com universidades e outros centros de competência, vai ser decisivo nesta área e ao Estado caberá a inelutável missão de regular com rigor e sentido estratégico esta nova forma de economia colectiva.

in Expresso, Francisco Jaime Quesado

Tuesday, June 17, 2008

Mais de 330 mil portugueses têm mais de um emprego


Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados pelo jornal, no primeiro trimestre deste ano, o número de trabalhadores com mais de um emprego totalizava 339,3 mil, mais 7,5% do que no período homólogo do ano anterior, situando-se a um nível historicamente elevado.

"Com efeito, na actual série do INE (desde 1998), nunca se registou um valor tão alto num primeiro semestre e, levando em conta os outros períodos do ano, só em 2003 (no segundo trimestre) é que se registou um número mais elevado (343,1 mil)", explica o Diário de Notícias.

Na maioria dos casos, o segundo trabalho surge da necessidade de complementar o salário recebido no trabalho principal, acrescenta o diário.

in Diário Económico

Wednesday, June 11, 2008

As Geografias do dinheiro

Às perguntas, Álvaro Domingues responde, por vezes, com mais questões. É assim que este professor da Faculdade de Arquitectura do Porto consegue exprimir um olhar crítico sobre diferentes temas, desde a geografia, à economia, criação de empresas e geração de riqueza.

Para este geógrafo portuense não há cidades competitivas ou criativas. O que existe são zonas em que se concentraram grupos sociais ou actividades económicas com aquelas características. E nada garante que se tenha sucesso quando se quer replicar, num certo sítio, a fórmula que gerou inovação e riqueza noutro lado.

Os factores que determinam o êxito económico são fluidos. Em particular num “país arquipélago” como é Portugal. “Uma parte do país está abaixo de água, abaixo dos indicadores económicos médios. Depois há afloramentos. Esses afloramentos podem ser pequenas ilhas, como Bragança, ou arquipélagos constituídos por ilhas muito grandes coladas a ilhas muito pequenas.” Quais são as consequências dessa organização do território? A eventual dualização da economia. E a concentração de problemas sociais nas grandes urbes.

Há uma expressão que cada vez mais se houve nos meios de comunicação
social: cidades competitivas. É possível juntar estas duas palavras?
É um adjectivo que não se aplica. Adjectivamos à frente das palavras “cidade” ou “urbano” coisas que dizem respeito à sociedade. Competitivo, para mim, diz respeito à economia e às empresas. Assim como outros qualificativos são sociológicos, culturais ou quase comportamentais como, por exemplo, cidade criativa.
A criatividade é suposto ser uma qualidade individual ou de um grupo. Estamos constantemente a confundir a ideia de cidade, enquanto conjunto construído, com a sociedade que ocupa esse conjunto construído. Temos a ideia da história – da Europa, sobretudo – de que as cidades eram compactos de construção
e sociedade ao mesmo tempo; que a cidade era a urbe, civitas e polis. Actualmente acho que as cidades
são cada vez mais fluidas.

Se cartografássemos os mecanismos da economia ou os da inovação, podíamos chegar a cartografias muito distintas. Podemos falar daquele projecto que, durante 24 horas, cartografou a intensidade das relações por internet a partir de Nova Iorque ou tendo Nova Iorque como destino. O que apareceu foi o mapa do mundo que, ao longo das 24 horas, ia mudando consoante a abertura das Bolsas de valores. A economia globalizou-se, a sociedade globalizou-se e muitas das transacções sociais e económico-financeiras têm cartografias que não cabem no mesmo mapa.

Falar em cidade competitiva é uma afirmação enfática para dizer que na cidade X (reconhecida como
sendo o território do município do Porto, Lisboa, Nova Iorque, etc.) há uma determinada organização,
um conjunto de pessoas e instituições que se ocupam de uma actividade económica que tem essa competitividade. E nesse aspecto é competitiva.

Algures na Índia, uma metrópole onde está a indústria do cinema ou a nova indústria da informação
é competitiva? Eu diria que as empresas e os seus profissionais de topo são competitivos. A sociedade indiana infelizmente é pobre. São estes os paradoxos. […]

in Revista Exame

Friday, June 06, 2008

"State of European Cities Report" analisa qualidade de vida em 258 cidades


No âmbito do projecto “Urban Audit”, da Comissão Europeia, encontra-se disponível o relatório “State of European Cities Report - Adding value to the European Urban Audit”. Este documento reúne indicadores sobre a qualidade de vida dos cidadãos de 258 cidades dos 27 países da União Europeia. Fizeram parte deste estudo as cidades de Aveiro, Braga, Coimbra, Funchal, Lisboa; Ponta Delgada, Porto e Setúbal.

O projecto europeu “Urban Audit” foi lançado pela Direcção-Geral da Política Regional e pelo serviço de estatística (Eurostat) da Comissão Europeia. Nele participam os serviços de estatística dos Estados-Membros, sob a coordenação do Eurostat, e consiste numa base de dados estatísticos sobre várias áreas: demografia; aspectos sociais; condições económicas; educação e formação; participação cívica; ambiente; transportes; cultura.

O documento agora disponível analisa um conjunto alargado de aspectos relacionados com a qualidade de vida nas cidades, nomeadamente, a influência que o envelhecimento da população, a migração, o alojamento, a competitividade, entre outros, podem ter na qualidade de vida nestes locais.

É possível analisar capítulos dedicados à evolução demográfica, à competitividade urbana, às condições de vida e ao poder administrativo das cidades. Os dados dizem respeito a períodos fixos no tempo, designadamente 1991, 1996 e 2001.

A título de exemplo, aqui ficam algumas das conclusões apresentadas no relatório, publicado em 2007:
- No período de 1996-2001, um terço das cidades cresceu a uma taxa anual superior a 0,2%. Na quase totalidade das cidades nota-se uma expansão dos subúrbios e mesmo nos casos em que se registam declínios, estes tendem a ser menos acentuados do que nos centros das cidades.
- Em especial em cidades em torno do Mediterrâneo, o crescimento da população tem andado a par com o envelhecimento, em resultado de um influxo de residentes mais velhos.
- Apenas 10% destas cidades atingem uma taxa de emprego de 70%, a meta fixada em Lisboa para 2010.

O relatório ainda inclui uma tipologia das cidades, que pretende dar uma perspectiva mais clara dos desenvolvimentos urbanos e servir de base à comparação entre cidades, servindo para melhor complementar e compreender a dinâmica urbana e ajudar a definir quais as políticas mais adequadas para os diferentes tipos de cidades.

A Comissão Europeia está actualmente a coordenar uma actualização dos dados referentes a 2004-2005, que incluirá outras cidades e facultará uma fonte adicional de informações sobre as tendências de desenvolvimento urbano na União Europeia.

Aceda de seguida ao relatório "State of European Cities Report"

in Fórum do Urbanismo

Monday, June 02, 2008

Novo Portugal: um DESÍGNIO de Conhecimento

Portugal, Pólo Global e Criativo do Conhecimento

Em 2028 Portugal deverá ter atingido o 20º lugar entre os países mais desenvolvidos. Sermos um pólo Global implica estarmos abertos ao mundo, fixar mais riqueza, mais pessoas qualificadas e usar as redes globais em nosso proveito. Sermos um pólo de Conhecimento Criativo (CC) implica romper com um modelo de ensino assente na repetição e assumir um modelo de ensino assente na Paixão Criativa. Conhecimento Criativo (CC) é sinónimo de inovação, colaboração e partilha.
Do Conhecimento à Acção


A Importância da Literacia, Ensino Secundário e I&D

Em 2008 Portugal está em 29º lugar entre as sociedades mais desenvolvidas do planeta. Para atingir o 20º lugar entre os países mais desenvolvidos, Portugal terá de alcançar uma taxa de literacia e de escolaridade secundária de 98% e aumentar para 2,5% o PIB destinado à I&D.

A criação de hábitos de trabalho em rede, adoptando modelos colaborativos de criatividade e inovação.

O actual modelo económico do conhecimento baseia-se na interacção entre governo, associações empresariais e sindicatos, muitas vezes a trabalhar isoladamente. Importa incluir no modelo económico do conhecimento também as universidades, as start-ups e as grandes empresas, bem como organizações de inovação social, num esquema de funcionamento assente em redes colaborativas. Dessa interacção obter-se-á uma diminuição dos bloqueios à acção e maior capacidade de colaboração, de análise prospectiva, de inovar políticas e incentivos.

As parcerias para atingir focos de competitividade.

A excessiva concentração de I&D na esfera pública aconselha ao desenvolvimento de parcerias público-privadas, potenciando o desenvolvimento de redes, clusters, pólos de competitividade, ecossistemas e estratégias empresariais da ciência, ensino e tecnologia. O aumento para 2,5% do PIB para I&D deve querer dizer mais capacidade de investimento financeiro do sector privado e maior racionalização financeira do sector público.

Divulgar em Portugal o conhecimento feito em Portugal.

O conhecimento só é produtivo se for alvo de uso. Deve-se institucionalizar o benchmarking na área do conhecimento científico, tecnológico e da inovação, que permita difundir o muito conhecimento já produzido em Portugal. Só dessa forma se estimula a apropriação do conhecimento pelos agentes económicos privados e se obtém capacidade de alavancagem de mercados pelo sector público.

As Necessárias Redes entre a Universidade, a Banca e a Empresa.

Fazer das boas ideias negócios bem sucedidos, incentivando o capital de risco, onde licenciados têm espaço para instalar start-ups em universidades e serem financiados pela banca. A promoção de um modelo de colaboração onde a universidade fornece espaço e apoio administrativo em troca de 1/5 do capital social da empresa. Os inovadores ficam com 3/5 do capital e o banco apoiante 1/5. Necessitam-se em Portugal redes UBE (Universidade-Banca-Empresas) efectivas e funcionais.

Porque é preciso partilhar e divulgar conhecimento.

A mera protecção de conhecimento através de patentes e propriedade industrial, apesar de ainda poder ser aperfeiçoada, já não é suficiente. É necessário estimular a disseminação de conhecimento base, a partir do qual se possam construir novas realidades. Da mesma forma, cada instituição deve perceber os ganhos potenciais com a existência de mecanismos internos que estimulem o aparecimento de novas ideias. Os modelos de inovação disruptiva e incremental em conjugação com o Open Source aconselham hoje a uma gestão da abertura do conhecimento como fonte de geração de riqueza em todas as sociedades líderes.

Aprender a aprender. Criar experimentando e errando.

Mais do que reproduzir conhecimento já existente, importa premiar insights, ideias novas, sinergias criativas, boas práticas e processos criativos. Para isso é necessário dar novas perspectivas ao sistema de ensino, que deve ser um espaço aberto à discussão e ao desenvolvimento do raciocínio próprio. A leitura, as artes e as ciências são instrumentos para estimular a análise e a criatividade, factores fundamentais para a inovação e para um modelo de ensino assente no conhecimento criativo (CC).

Porque as tecnologias de informação são básicas.

No quadro do ensino das tecnologias de informação, é fundamental ir além do ensino instrumental do uso e atingir um ensino que promova a criação digital (design e construção), a capacidade de criar redes e a programação básica em computador. Tal como o ensino de inglês, a programação básica e as lógicas de pesquisa e validação da informação devem integrar os objectivos do ensino básico.

in Novo Portugal

Tuesday, May 27, 2008

Exemplo sueco: Os segredos da cidade perfeita

O modelo sueco de cidade sustentável pode aplicar-se em Portugal. Mas faltam projectos.

Um bairro onde tudo se aproveita e quase nada se perde, em que os residentes usam metade da energia de um bairro convencional, consomem apenas 100 litros de água por dia (menos 30% que em Portugal), produzem menos lixo, vivem em casas construídas com materiais ecológicos, deslocam-se em veículos amigos do ambiente e preferem andar a pé ou de bicicleta.

O cenário parece improvável, mas existe, mesmo no centro de Estocolmo - o ecobairro de Hammarby Sjöstad nasceu da recuperação de uma antiga zona industrial, um projecto idêntico ao do Parque das Nações. Até 2015, albergará mais de 25 mil pessoas em 11 mil residências. A jóia ambiental da Escandinávia está na moda e é cobiçada sobretudo por jovens casais em início de vida. Os recém-proprietários recebem um "kit" explicativo do processo de separação dos lixos, são incentivados a usar os transportes públicos e a deixar o carro à porta de casa. Um quotidiano dominado pelo conceito de "simbiocity" (simbiocidade) que consiste num plano integrado de gestão da energia, do lixo e da água. A cidade ou bairro depende das energias alternativas (eólica, solar e eléctrica), mas não só. O lixo doméstico é separado, uma parte irá assegurar o fornecimento de electricidade e os sistemas de aquecimento e arrefecimento urbanos, o restante é reciclado e transformado em fertilizante agrícola. A água da chuva, armazenada e conduzida até à central de tratamento (a par com os desperdícios sanitários), servirá para produzir biogás para os veículos em circulação na metrópole.

O sucesso desta comunidade perfeita ditou a expansão do conceito além-fronteiras. China, Índia, Canadá e África do Sul adoptaram-no. Em Portugal, não existem projectos desta dimensão. Porquê? O Expresso tentou obter resposta a esta pergunta junto da Agência Portuguesa para o Ambiente, mas tal não foi possível em tempo útil. Já Francisco Ferreira, da Quercus, refere que "é necessária uma governação a longo prazo, com políticas locais e nacionais" que estimulem a aplicação de planos integrados de sustentabilidade. Os custos de instalação de uma cidade deste tipo no nosso país dependem de uma série de factores - a dimensão da área intervencionada, o grau de degradação e o tipo de edifícios, as infra-estruturas de distribuição de água, etc. É preciso ter em conta que o retorno do investimento deve ser encarado a longo prazo, "no mínimo uma década".

Mesmo não dispondo de projectos idênticos ao modelo sueco, alguns municípios começam a dar os primeiros passos na luta contra o desperdício. É disso exemplo o eco-bairro do Barreiro: as 253 residências vão poupar 70% da energia gasta noutras casas da região. Está ainda prevista a instalação de um sistema de recolha de águas pluviais para rega e iluminação pública fotovoltaica. No Parque das Nações foi instalado o sistema sueco de recolha de resíduos domésticos (Envac), uma rede subterrânea responsável pela gestão de seis mil toneladas de lixo por ano. Norberto Vicente, da Envac, assegura que a autarquia "poupa 40% com o sistema automático quando comparado com o tradicional", apesar dos custos de instalação rondarem os 1500 euros por residência. Dois camiões recolhem diariamente o lixo, que é armazenado em três centrais. A empresa prevê instalar estruturas idênticas em Vilamoura (Algarve) e nos bairros lisboetas de Alfama e Bairro Alto.


in Expresso

Monday, May 26, 2008

“Vanguarda” dita novas experiências



Valorização do espaço privado e social em detrimento do público, uma nova “procura de sentido” para a vida e hábitos de consumo voltados para as tecnologias e para o bem-estar são as principais tendências apontadas num estudo realizado junto de cem personalidades portuguesas de vanguarda. A sociedade vai valorizar cada vez mais novas experiências

A APEME e a Produções Fictícias realizaram um estudo sobre as tendências de consumo da sociedade portuguesa, cujos resultados estiveram em debate no passado dia dez de Abril, numa iniciativa do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM). O inquérito online, realizado junto de um painel de cem trend-setters - uma amostra relevante de personalidades portuguesas de “vanguarda” que se encontram na linha da frente a fazer opinião – visou “pensar os caminhos do futuro”.

O objectivo foi procurar respostas para questões como a mudança de atitudes e comportamentos, que valores são decisivos quando se projecta o futuro, e o que de mais significativo está a ganhar forma na vida privada, social e pública.

Os resultados, apresentados publicamente no final de 2007, revelam que as tendências mais significativas têm a ver com a procura de novas experiências. Perspectiva-se uma sociedade que quer sair de si mesma, viajando no espaço (com forte valorização de curtas estadias em cidades europeias, de destinos a que se associam temas culturais e de viagens de aventura organizadas); na cultura (manifestando-se muito interesse por filosofias de perfil oriental na “procura de sentido” e por criações artísticas de nicho integradas em ambientes mainstream); e no tempo (aspirando a uma casa antiga reconstruída ou a ambientes tradicionais mas qualificados nos padrões modernos de conforto).

Esta “necessidade de ampliação de mundivivência incorpora a consciência de aprender mais, mesmo que de modo rápido”, através de cursos de curta duração e temas imprevistos como criatividade ou culinária vegetariana, conclui a APEME. É de prever uma forte procura das indústrias de conteúdos não circunscritos ao sistema educativo formal.

Observa-se uma forte atracção pelas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), vistas como plataformas “muito eficientes” para eliminar intermediários, que permitem aceder a informação relevante e viabilizar a satisfação dos impulsos de compra de serviços. Além disso, estes canais de expressão individual junto de públicos alargados (caso do You tube, MySpace, Skype e leilões online), antes inacessíveis, “aceleram a tendência central de extroversão que caracterizará o Portugal dos próximos anos”.

Portugueses apostam em si próprios

O futuro passará por uma aposta na esfera individual, “sendo clara a procura de uma forte diferenciação face aos outros”, através da aquisição de competências pouco comuns, como “cozinhar japonês em casa” ou “ir dançar danças temáticas”.

A finalidade é, essencialmente, atingir o conceito de bem estar físico e espiritual, “reconhecendo-se que para o obter é preciso assumir uma estratégia proactiva”, que afaste hábitos de consumo “ameaçadores”, como fumar, e promova a adopção de comportamentos saudáveis, como uma dieta alimentar equilibrada ou a utilização de Spas e outros serviços de saúde e bem-estar.

Numa óptica mais “macro”, esta tendência para a conservação de equilíbrio pode, ainda, estar reflectida na disponibilidade para gastar dinheiro em elementos para a casa que envolvam preocupações energéticas, como as lâmpadas de baixo consumo ou a separação do lixo.

O predomínio do privado e do social/comunitário sobre o público/político reforça-se como tendência dominante se tivermos em conta o “não estar ligado a nenhum partido político ou associação cívica”, preferindo-se a participação em movimentos menos estruturais ou contínuos. Esta tendência reflecte uma “linha de menor disponibilidade para aceitar o discurso político instalado, bem como as instituições tradicionais”, concluem os responsáveis do estudo.

De sublinhar que a composição e dimensão da amostra – cem personalidades da sociedade portuguesa de ambos os sexos, com idades entre os 21 e os 53 anos, que trabalham em áreas predominantemente artísticas ou do Conhecimento, como artistas, humoristas, publicitários, investigadores ou docentes universitários, arquitectos e escritores – não é estatisticamente representativa da população, uma vez que constitui um segmento de vanguarda,

No entanto, a APEME e a Produções Fictícias acreditam que “no plano qualitativo, a amostra revela-se robusta e com elevado grau de coerência de resposta”. O trabalho de campo decorreu na Primavera e Verão de 2007.

In Portal VER, Gariela Costa