As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Monday, May 26, 2008

“Vanguarda” dita novas experiências



Valorização do espaço privado e social em detrimento do público, uma nova “procura de sentido” para a vida e hábitos de consumo voltados para as tecnologias e para o bem-estar são as principais tendências apontadas num estudo realizado junto de cem personalidades portuguesas de vanguarda. A sociedade vai valorizar cada vez mais novas experiências

A APEME e a Produções Fictícias realizaram um estudo sobre as tendências de consumo da sociedade portuguesa, cujos resultados estiveram em debate no passado dia dez de Abril, numa iniciativa do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM). O inquérito online, realizado junto de um painel de cem trend-setters - uma amostra relevante de personalidades portuguesas de “vanguarda” que se encontram na linha da frente a fazer opinião – visou “pensar os caminhos do futuro”.

O objectivo foi procurar respostas para questões como a mudança de atitudes e comportamentos, que valores são decisivos quando se projecta o futuro, e o que de mais significativo está a ganhar forma na vida privada, social e pública.

Os resultados, apresentados publicamente no final de 2007, revelam que as tendências mais significativas têm a ver com a procura de novas experiências. Perspectiva-se uma sociedade que quer sair de si mesma, viajando no espaço (com forte valorização de curtas estadias em cidades europeias, de destinos a que se associam temas culturais e de viagens de aventura organizadas); na cultura (manifestando-se muito interesse por filosofias de perfil oriental na “procura de sentido” e por criações artísticas de nicho integradas em ambientes mainstream); e no tempo (aspirando a uma casa antiga reconstruída ou a ambientes tradicionais mas qualificados nos padrões modernos de conforto).

Esta “necessidade de ampliação de mundivivência incorpora a consciência de aprender mais, mesmo que de modo rápido”, através de cursos de curta duração e temas imprevistos como criatividade ou culinária vegetariana, conclui a APEME. É de prever uma forte procura das indústrias de conteúdos não circunscritos ao sistema educativo formal.

Observa-se uma forte atracção pelas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), vistas como plataformas “muito eficientes” para eliminar intermediários, que permitem aceder a informação relevante e viabilizar a satisfação dos impulsos de compra de serviços. Além disso, estes canais de expressão individual junto de públicos alargados (caso do You tube, MySpace, Skype e leilões online), antes inacessíveis, “aceleram a tendência central de extroversão que caracterizará o Portugal dos próximos anos”.

Portugueses apostam em si próprios

O futuro passará por uma aposta na esfera individual, “sendo clara a procura de uma forte diferenciação face aos outros”, através da aquisição de competências pouco comuns, como “cozinhar japonês em casa” ou “ir dançar danças temáticas”.

A finalidade é, essencialmente, atingir o conceito de bem estar físico e espiritual, “reconhecendo-se que para o obter é preciso assumir uma estratégia proactiva”, que afaste hábitos de consumo “ameaçadores”, como fumar, e promova a adopção de comportamentos saudáveis, como uma dieta alimentar equilibrada ou a utilização de Spas e outros serviços de saúde e bem-estar.

Numa óptica mais “macro”, esta tendência para a conservação de equilíbrio pode, ainda, estar reflectida na disponibilidade para gastar dinheiro em elementos para a casa que envolvam preocupações energéticas, como as lâmpadas de baixo consumo ou a separação do lixo.

O predomínio do privado e do social/comunitário sobre o público/político reforça-se como tendência dominante se tivermos em conta o “não estar ligado a nenhum partido político ou associação cívica”, preferindo-se a participação em movimentos menos estruturais ou contínuos. Esta tendência reflecte uma “linha de menor disponibilidade para aceitar o discurso político instalado, bem como as instituições tradicionais”, concluem os responsáveis do estudo.

De sublinhar que a composição e dimensão da amostra – cem personalidades da sociedade portuguesa de ambos os sexos, com idades entre os 21 e os 53 anos, que trabalham em áreas predominantemente artísticas ou do Conhecimento, como artistas, humoristas, publicitários, investigadores ou docentes universitários, arquitectos e escritores – não é estatisticamente representativa da população, uma vez que constitui um segmento de vanguarda,

No entanto, a APEME e a Produções Fictícias acreditam que “no plano qualitativo, a amostra revela-se robusta e com elevado grau de coerência de resposta”. O trabalho de campo decorreu na Primavera e Verão de 2007.

In Portal VER, Gariela Costa

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