As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Wednesday, February 07, 2007

O fa(r)do português

Há sinais sugerindo que algo específico das famílias portuguesas não ajuda ao bom desempenho dos filhos

Faço parte de uma geração que cresceu aprendendo que Portugal era um país de emigração. Todos nós tínhamos familiares no estrangeiro e ao longo da juventude víamos alguns dos amigos a emigrar. Hoje, na geração do meu filho, a situação é distinta. O fluxo inverteu-se, e o comum é os nossos filhos aumentarem o número de colegas provenientes de outros países.

As nossas escolas têm, por isso, vindo a ser confrontadas com novos desafios. Não só são locais onde se decide muito do futuro potencial produtivo do país, como têm um papel na inclusão social dos que vêm viver entre nós.

Neste contexto, li recentemente com muito interesse um artigo que, para cada país, procura comparar os desempenhos escolares dos jovens nascidos no país com os dos jovens que para aí imigraram. O primeiro aspecto a ser realçado é que em Portugal o desempenho relativo dos jovens portugueses e dos jovens imigrantes não é muito distinto. Entre os países da OCDE, Portugal está mesmo entre os que têm as menores diferenças. Mesmo assim, em média, os jovens portugueses têm um desempenho um pouco melhor do que os jovens imigrantes. Porém, como as características das duas populações não são iguais, num segundo passo, os autores procederam à identificação das diferenças que são explicadas pela heterogeneidade nas características dos jovens. Aqui a grande descoberta é que, para Portugal, comparando jovens portugueses e jovens imigrantes com as mesmas características, os imigrantes têm, em média, melhores resultados. Neste segundo nível de análise, Portugal situa-se no meio dos países da OCDE. Controlando para as diferenças de características das populações, países há, como os EUA, em que os jovens imigrantes têm desempenho muito melhor que os jovens nacionais, tal como o contrário sucede em outros países, como a Alemanha. Ao desafio para a melhoria do desempenho geral dos estudantes em Portugal, vêm pois juntar-se sinais sugerindo que algo específico das famílias portuguesas não ajuda ao bom desempenho dos nossos filhos.

Fernando Branco

in Expresso

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