Quando é simples publicar, participar e criar, o caminho para a cidadania está aberto
Um doente mental passeia pelo jardim da instituição onde está internado. Aproxima-se do gradeamento que separa o espaço da via pública e chama um indivíduo que está a passar. “Se faz favor”. “Sim?”, responde o homem. “Pode esclarecer-me uma dúvida?”, continua o doente. “Claro, diga.” “Que raio está você a fazer aí dentro?”
A história, que pode ser encarada como uma piada, não deixa de ser uma grande metáfora. E se aplicada à Internet, então parece um autêntico fato à medida. Não no que toca a demência mental - quem é 100% são que atire o primeiro «mail» -, mas principalmente sobre o facto de ser cada vez mais incompreensível perceber a razão de alguém (voluntariamente, óbvio) insistir em ficar de fora do ciberespaço.
Na previsão do que será a Internet no próximo ano fica uma certeza: isto não vai parar. Ou melhor, isto encontrou o caminho certo para acelerar. O rumo, portanto.
É que até há bem pouco tempo só os especialistas, supra-especialistas e outros ‘istas’ se pronunciavam sobre o que seria o futuro da rede, como se desenharia e blá, blá, blá. Milhares de textos tecnocratas, comunicações académicas enfadonhas, discursos frios e notícias desinteressantes deixaram de fora, durante anos, um pequeno detalhe: as pessoas, o cidadão comum.
A sensação de que a Internet não era coisa para todos levou ao aparecimento e proliferação da horrível expressão - mais do que justa como mecanismo de defesa - “Não percebo nada de computadores”. Uma frase disparada sempre que alguém que não navegava era confrontado com o mundo dos 3Ws.
Isso acabou. Felizmente para todos nós, grupos de investigadores tornaram a navegação mais simples, as ferramentas de publicação mais simples, a participação mais simples. E quando é simples publicar, participar e criar, o caminho para a cidadania está aberto.
É por isso que hoje existem na rede milhões de blogues, milhões de vídeos, milhões de comentários de leitores em jornais tão importantes como o ‘New York Times’, o ‘El País’ ou o ‘Libération’. É por isso que 2007 continuará a ser o ano da nossa rede.
É também por isso que vale a pena fazer uma pergunta a quem se mantém de fora: que raio estão vocês a fazer aí dentro?
Expresso, Miguel Martins
3 comments:
Pois e verdade, mas olhe ate hoje ainda nao consegui convencer a minha esposa a pegar num computador, e olhe que ate e mais nova que eu!
Para mim tornou-se quase um vicio, mas creio que bom, se nao fosse a "net" nunca poderia, eu que vivo longe, conseguir a informacao que tenho conseguido.
Portanto ainda bem que existe e nao ira parar, por mais que algumas pessoas discordem.
Hum, onde é que eu já ouvi isto, ou algo parecido, há muitos anos atrás???
No ano do livro do George Orwell, exactamente em 1984 - nessa altura discutia-se a robótica... e a substituição dos operários por robots...
Conferência feita por investigadores da IBM...
Pois é, cá estamos, e quem não estiver vai perder o combóio!
De muitas e diferentes malhas se tece a teia da humanidade. A cibercomunicação é uma delas, excelente. Uma entre muitas: a música, as várias formas de expressão artística, as grandes causas ou o simples gesto solidário com o vizinho. Será lícito hierarquizá-las?
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