Imagine um garfo. Um garfo normal, é um produto bem aborrecido e desinteressante. Um gafo é um garfo, não tem nada que saber. Agora imagine que esse garfo em questão é Made in Germany, como é que seria o tal garfo alemão? E se o garfo fosse italiano, que tal seria? Já agora, como é um garfo fabricado no Japão?
Nesta internacional cutelaria imaginária, encontram-se alguns dos seguintes produtos: Pesados garfos alemães de liga fantástica, que nunca se enferrujam, nem sequer se entortam; Uns lindíssimos faqueiros italianos, do tipo que transpira design, ideais para decorar a mesa num jantar, mas só se for de cerimónia, porque se são italianos e provavelmente intragáveis no dia-a-dia; Finalmente, os garfos japoneses, que se não forem pauzinhos, serão miniaturas equipadas com um sensor electrónico de temperatura, não vá o comensal queimar-se.
Estes países têm uma percepção da sua nacionalidade que se reflecte nos seus produtos e que os ajuda a vender a sua produção. Percepção esta que deriva da sua História e que dá aos seus produtos verdadeiras vantagens competitivas. Veja-se a França em que o luxo de Versailhes, vende hoje o luxo dos seus cosméticos e perfumes líderes mundiais. Ou o oposto, a terra da oportunidade, tão abundante e com tão pouca história. Uma Herança que faz do Made in USA sinónimo de tudo o que for grande e descartável. ORA, como se vê, a percepção dos produtos nacionais é, em primeiro lugar, condicionada pela percepção da História dos seus países. Mesmo em Portugal.
Só que para o consumidor europeu médio, Portugal não tem grande História. Ou seja, os Europeus sabem que em Portugal não se passa grande coisa: O clima é bom e tolerante; Não há animais venenosos; Não existem tufões, nem terroristas; Há pouco crime e até as revoluções são com flores. Enquanto os italianos herdaram o seu estilo, do estilo que impõem ao mundo desde o renascimento, os portugueses têm o país onde nada acontece, nem as coisas excitantes (como em Espanha), nem tão pouco as coisas neutras e previsíveis (como na Suíça). Em Portugal não acontece nada, pelo que Portugal é um país onde se está bem, onde se vive bem e com vagar. Portugal é assim o país do conforto. E o principal produto do país do conforto tem de ser o turismo residencial de terceira idade.
A maior indústria da rica Florida são os condomínios para reformados e Portugal, a exemplo da Florida, pode tratar de pôr os reformados da Europa ao sol para viver à custa das suas europeias seguranças sociais. Depois, com os reformados, viriam nas férias os respectivos filhos e netos e com eles mais consumo. Se Portugal acolher 250mil reformados, o consumo directo cresce 3% do PIB. E se vier um milhão de reformados? Já se vê, fica um país rico.
A esse dinheiro (que está disponível porque não existe ninguém a apostar a sério nesta oportunidade de mercado) junta-se ainda todo o efeito de contágio dos produtos nacionais. Móveis confortáveis, Sapatos que não aleijam, Roupa para ir à esplanada. Televisões que não ferem os olhos. O país do conforto é uma ideia onde Portugal pode competir. Não é tecnológica, porque os europeus têm tanta razão para temer a inovação portuguesa, como nós temos para desconfiar dos Fiats usados. Não é mão-de-obra barata, porque nisso e felizmente, nos ganham os sempre pobres filipinos que cosem ténis por dois dólares e uma malga de arroz. O conforto é algo que Portugal faz bem (fazer nada) e se deduz directamente da nossa Herança.
As marcas que querem ser preferidas pelos consumidores precisam de um Motivo de Compra que seja uma declinação da sua Herança. Em Portugal, a Herança é ser um País pequeno e periférico, pacato e humilde, onde nada de mal se passa, tal como nada de bem se faz. Se esta é a Herança da Marca Portugal, não há como o renegar, Portugal é um país algo banana, sem chegar a ser uma república das bananas. Então, que se assuma o Conforto e se faça dele o motivo unicamente excelente para comprar o que é Português.
in DE, Henrique Agostinho
1 comment:
Foi sem ler este artigo que publiquei o ultimo em; http://aquidalgodres.blogspot.com
Parece que mais gente a pensar como eu. Embora no meu caso me referi-se a algo mais regional. De facto isto de sermos pacatos tambem tem as suas vantagens!
Um abraco fornense.
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