A polémica em torno das declarações do Primeiro Ministro sobre emigração dos professores tem provocado celeuma suficiente para jornalistas e comentadores discutirem os destinos mais aliciantes para portugueses em busca de uma oportunidade. Brasil, Angola, China?
Nos Novos Povoadores, preferimos falar em destinos como Alfandega da Fé, ou outras regiões do interior rural. Tristemente, a polémica não inspira os opinion makers a levantar o véu sobre as oportunidades que residem no reequilibrio territorial baseado na mobilização de uma população empreendedora capaz de gerar riqueza independentemente da localização geográfica (economia DNS).
Há um país por "descobrir". Esconde-se entre a visão romântica do meio rural e o estigma de um interior empobrecido. Na realidade, se a ideia de um projecto de turismo em espaço rural e uma pequena agricultura familiar nutre muitos sonhos, não é menos verdade que hoje, as assimetrias regionais são acentuadas em grande medida pela escassez de população.
É certo que o momento que Portugal atravessa não é dos mais auspiciosos, mas neste período em que o governo está concentrado na consolidação das finanças públicas, e a economia no seu todo sofre um severo abrandamento, é o momento oportuno para reflectir sobre o que, para cada um de nós, pode constituir uma oportunidade.
...e-Migração, porque não?
Emigração das suas ideias, dos seus serviços, sem dúvida! Na economia chamam-lhe exportação, e pode fazê-lo "e-migrando" dentro de Portugal em total segurança e qualidade.
A [e-migração] resultado da procura de melhores condições de vida fruto da ligação ao mercado global.
As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas
Wednesday, December 21, 2011
Thursday, December 08, 2011
"É preciso instalar as pessoas com dignidade, é preciso dar vida às aldeias vazias"
Gonçalo Ribeiro Telles, de 89 anos, vai ser homenageado hoje, em Lisboa, enquanto "Homem, Político, Professor, Visionário".
in SAPO, Rita Afonso
Em entrevista ao SAPO, o arquiteto paisagista que já foi secretário de Estado do Ambiente de vários Governos provisórios, ministro da Qualidade de Vida e deputado, defendeu que é necessária uma nova mentalidade para o planeamento do território: "É preciso instalar as pessoas com dignidade, é preciso dar vida às aldeias vazias".
“Temos as aldeias com senhores envelhecidos, não está lá ninguém. É preciso muita coisa principalmente uma nova mentalidade para o planeamento do território”, afirmou.
Gonçalo Ribeiro Telles considera que são muito poucos os governantes que conhecem bem o país, especialmente o mundo rural. “Há uma ignorância total do que é um território, que tem de ter uma certa população a viver com dignidade”, explicou.
Para o arquiteto “é preciso tirar o maior partido possível das áreas que têm possibilidade de criar alimento. Há instrumentos para o fazer mas não são traduzidos nos planos diretores municipais. Muitas vezes são considerados como obstáculos ao desenvolvimento e ao progresso, o que é uma coisa espantosa”.
A cerimónia de homenagem a Gonçalo Ribeiro Telles decorre na Fundação Calouste Gulbenkian e, entre outros, vão marcar presença Duarte de Bragança, Diogo Freitas do Amaral, Miguel Sousa Tavares, Pedro Roseta, Maria Calado, Alberto Vaz da Silva, António Barreto, Eduardo Lourenço e Mário Soares.
in SAPO, Rita Afonso
Monday, November 14, 2011
DESENVOLVIMENTO PELA INOVAÇÃO
“O interior tem de deixar de esconder a solução que tem para o país.” É assim que Frederico Lucas aborda o desafio. Consultor de desenvolvimento territorial e um dos mentores do projeto Novos Povoadores, este lisboeta mudou-se para Trancoso, na Beira Alta, em 2005. A mudança fazia sentido. “Nós adaptamo-nos depressa à vida barata”, graceja. Só a renda de casa baixou dos 850 euros, em Lisboa, para os 300, em Trancoso. Com a diferença de que na vila beirã a casa é um prédio inteiro, de 12 assoalhadas. Custos com escolas para os filhos ou alimentação são também incomparáveis, para não falar da qualidade de vida em termos sociais e ambientais, que só se encontra nas cidades mais pequenas.
Os Novos Povoadores têm já registadas 750 famílias interessadas em sair dos grandes centros para se fixarem no interior. O alvo privilegiado do projeto são profissionais liberais ou pequenos empresários cujo trabalho pode perfeitamente ser feito à distância graças às tecnologias de comunicação e informação. Quadros médios em regime de teletrabalho podem também viver fora dos grandes centros e mesmo assim manterem-se ligados às suas organizações. A vantagem destes novos habitantes é reavivarem zonas desertificadas, gastando localmente a riqueza que obtêm com os seus clientes ou as suas organizações em Lisboa ou no Porto. Deste modo, dinamizam a economia local, animando o comércio e os serviços.
Cada vez mais, as autarquias estão atentas a estas formas inovadoras de atrair massa crítica. A política de fixar pessoas com subsídios ou emprego público não foi suficiente para impedir a desertificação das regiões periféricas, pelo que agora se procuram novas soluções. Está na hora de rentabilizar os investimentos feitos nos últimos anos em equipamento, aquilo a que Frederico Lucas chama o “hardware territorial”: as estradas, hospitais, centros desportivos e culturais construídos no interior asseguram uma qualidade de vida difícil de encontrar nos grandes polos.
Agora, é só aproveitar estas estruturas. “Já vencemos a fase do hardware territorial, agora precisamos do software territorial”, diz o consultor. Esse software são as competências, os talentos e as capacidades que podem fixar-se nestes locais com potencial de desenvolvimento. “Neste momento já temos as condições tecnológicas”, aponta Frederico Lucas. “Só falta o clique social.” Para esse clique, os exemplos de sucesso dos que estão a dar o salto são vitais para despertar vontades. Quanto ao resto, sublinha o mentor dos Novos Povoadores, “é muito importante que haja um encontro de interesses entre o poder local, as empresas e as universidades de cada região”.
in Diálogo
Sunday, October 23, 2011
Aldeias tornadas centros de trabalho para jovens empreendedores
Os jovens empreendedores são os actores do projecto infoex.pt. As infra-estruturas construídas no interior do país, mas ao abandono por falta de população, são o cenário. O objectivo é acolher neste património edificado empresas e jovens, deslocando população e economia dos grandes centros para cidades de menor dimensão no interior rural. Agricultura, comunicação, agricultura e floresta são algumas das áreas estratégicas.
Na agenda está o desenvolvimento de Working Labs, ou seja, «oficinas de experimentação profissional». As áreas para iniciar estas oficinas estão definidas e são a agricultura, geriatria, floresta, alimentação e comunicação. «Estes temas surgiram por manifestações de interesse por parte de autarcas que se interessaram por este projecto», diz o técnico de dinamização territorial.
Frederico Lucas defende que com o Working Labs juntou «dois problemas para uma solução: muitos jovens qualificados estão desempregados e existem imensos equipamentos públicos em todos os concelhos que precisam de actividade. Sabemos que existem vários conceitos que têm tido sucesso no apoio à integração profissional dos jovens: Coworking [partilha de espaços por trabalhadores independentes]; Fab Labs [laboratórios de fabrico digital]; Mentoring [formação e desenvolvimento pessoal]. Combinamos estes conceitos no mesmo espaço, porque no território rural não é concebível um espaço para cada uma das actividades, e integramos o alojamento bem como um espaço para actividades artísticas».
A agricultura surge como área estratégica «porque julgo que é consensual que Portugal pode reduzir a dependência externa dos produtos agrícolas. E isso não representa um regresso ao passado. Pretendemos apoiar novas iniciativas agrícolas orientadas para as novas tendências de consumo».
O envelhecimento da população acarreta novas formas de cuidar dos mais velhos e também aqui a InfoEx quer apostar na atracção de projectos liderados por jovens para os territórios interiores. «As pessoas mais velhas pretendem manter-se nas suas casas, mas perdem algumas das suas necessidades vitais, como por exemplo a preparação das suas refeições, cuidados de saúde e higiene. A geriatria aparenta ser um mercado emergente», adianta Frederico Lucas.
O coordenador da empresa pormenoriza as razões porque inclui a floresta: «Na fileira florestal temos em conta que os fogos são uma praga que grassa no nosso território rural. O custo económico dessa degradação é incalculável. O custo social é ainda maior. Há oportunidades para esse sector pouco exploradas».
No sector alimentar, existem novas tendências de consumo. «Os produtos Gourmet permitem gerar mais-valias de 500% sobre os seus condimentos. E pertencem a um mercado em crescimento». Por fim, a comunicação. «A imprensa está em crise, num momento em que aumentam exponencialmente os conteúdos. A comunicação online está a atingir a quota de mercado dos meios tradicionais. Mas, as pequenas empresas portuguesas precisam de comunicar melhor. Não podem ter técnicos de comunicação em exclusivo, mas vão ter de recorrer aos seus serviços. Vão explodir os serviços de baixo custo neste sector. Trinta avenças de cinquenta euros cada totalizam o valor de um ordenado».
Estes são sectores a investir porque «hoje o território tem o equipamento para se desenvolver. Mas falta-lhe pessoas e empresas fora das áreas metropolitanas». E neste desenvolvimento, a InfoEx conta com os «actores locais para ter sucesso». Estes «actores» são os «poderes locais, as universidades e empresas», afirma o entrevistado.
Além do Working Labs, InfoEx tem ainda outros projectos em desenvolvimento. O captar de jovens para ter residência no mundo rural e aí iniciarem a sua empresa é um desses projectos. Chama-se Novos Povoadores. Próximo deste projecto está um outro designado «Aldeias Globais» que vida fazer das aldeias centros empresariais.
«O projecto Aldeias Globais, que ainda não iniciou a comercialização, pretende transformar aldeias despovoadas em centros empresariais. São aldeias que perderam todas as infra-estruturas que as poderiam suster. Procuramos empresas que pretendam arrendar algumas dessas casinhas para aí se instalarem, procurando novas funções para esse edificado. Julgamos que são espaços bastante apelativos».
Equilíbrio na distribuição da população pelo território nacional será um resultado positivo deste projecto. Inverter a tendência de acumular população no litoral e nas grandes metrópoles são sempre o objectivo dos projectos infoex.pt. Para demonstrar a relevância desta nova distribuição da população, Frederico Lucas adianta alguns números da Organização das Nações Unidas (ONU): «em Portugal, 42% da população vive em 5% do território. Apenas 3,5% da população vive em cidades médias: Coimbra e Braga. Isto significa que 42% da população vive imobilizada sobre si e 54,5% da população no ‘interior profundo’. Em 2015, 69,2% da população portuguesa viverá nas duas áreas metropolitanas».
Frederico Lucas sublinha que procuram parceiros para desenvolver este projecto que será de baixos custos de implementação. «Acreditamos que é possível o desenvolvimento desta iniciativa com custos bastante reduzidos. Este projecto tem de ser desenvolvido com a optimização dos recursos existentes no território, possibilitando um custo por jovem de 1500 euros. Procuramos parceiros para atingirmos esta realidade, e se possível, para que os jovens assumam apenas uma ‘taxa moderadora’, que seria uma fracção deste valor».
Os jovens com uma ideia de negócio que queiram apostar em localidades menos habitadas podem contactar a infoex.pt através do formulário disponível na página da Internet.
in Café Portugal, Sara Pelicano
Thursday, October 13, 2011
"O Escritório em Qualquer Lugar" por @CiscoPortugal
Viagens longas, estar no escritório a horas certas e com flexibilidade limitada são coisas cada vez mais do passado. No futuro vamos assistir a um aumento da mobilidade no local de trabalho que vai criar o “escritório em qualquer lado”, um local onde os funcionários podem trabalhar a qualquer hora e a partir de qualquer lugar.
Quem vai ser o líder da mobilidade em 2013? Veja a resposta neste infográfico interactivo.
A flexibilidade e mobilidade no local de trabalho estão a tornar-se componentes atractivas nos processos de recrutamento e retenção. 66% dos profissionais de TI inquiridos afirmaram que aceitariam uma oferta de trabalho que pagasse menos para terem mais flexibilidade na utilização de dispositivos, acesso aos social media e maior mobilidade. Trabalhar a partir de casa também não incentiva a “preguiça”. 45 % dos teletrabalhadores admitem trabalhar duas e três horas extra por dia quando trabalham remotamente.
Aumento da produtividade e retenção de talentos são apenas dois dos benefícios de uma força de trabalho móvel. Sim, há mais.
Hipoteticamente, se 50 milhões de pessoas nos EUA trabalhassem a partir de casa metade do tempo, seria possível reduzir as viagens rodoviárias em cerca de 146 mil milhões de quilómetros por ano. Uma consequência de menos tempo na estrada seriam a prevenção de 77 mil acidentes e mortes no trânsito e também reduzir o consumo de petróleo em 281 milhões de barris. Para enquadrar este número, 281 milhões de barris significam 46% das importações do Golfo Pérsico.
Em 2013, os trabalhadores móveis vão representar 35% da força de trabalho global. Isto mostra-nos um novo mundo de oportunidades. Está a mudar o seu negócio para o novo “Escritório em Qualquer Lado”?
Wednesday, September 28, 2011
Sunday, September 25, 2011
Friday, September 23, 2011
Mercearia fina online
Com uma facturação de 4,5 Milhões de Euros (2010), o site francês de comércio electrónico que privilegia produtores de pequena escala. Mais de 360 produtores de França e de origem estrangeira (Italia e Espanha, essencialmente) constituem uma oferta que supera os 4000 produtos de "mercearia fina". Toda a operação assenta numa filosofia de desenvolvimento sustentável, e está sediada em La Canourgue, uma vila com cerca de 2.200 habitantes situada a 600km a sul de Paris, cidade mais próxima Montpellier (150km).
Tuesday, September 20, 2011
Meios "eco-friendly" começam a ser vistos como uma necessidade
Mais zonas pedonais, maior utilização da bicicleta e mais medidas de acalmia de tráfego são algumas das ações que vários municípios se têm comprometido a executar, ano após ano, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade. No entanto a sua concretização não é fácil e por vezes demora muitos anos a sair do papel.
Em entrevista ao SAPO Notícias, Sofia Caldeira Martins, Engª Civil Mestre em Transportes, analisou o panorama português. A especialista em mobilidade e transportes públicos comentou a atuação de Portugal neste sector, em comparação com outras cidades europeias, e identificou algumas medidas que podem ajudar a tornar o país mais sustentável.
Como vê a gestão dos transportes públicos em Portugal?
Em Portugal a gestão dos Transportes Públicos não pode ser vista fora do seu enquadramento económico. Deste modo, podemos separar o que são as políticas de transporte nas cidades e fora destas. E esta diferença não se prende apenas com a tipologia da procura, mas também com a gestão da oferta.
No caso das cidades, a gestão dos transportes públicos está muito centrada na concessão de percursos aos diferentes operadores, na definição de horários e no equilíbrio tarifário (embora os resultados das empresas não espelhem estes princípios), deixando para segundo plano a integração e a complementaridade entre estes fornecedores e os diferentes modos que gerem.
Esta realidade leva a que, numa base de sobrevivência financeira, os vários operadores centrem os seus serviços nos eixos de maior procura, concretamente nas linhas radiais de acesso aos centros, esquecendo que essas terão de ser alimentadas e que cada vez mais existem importantes deslocações transversais, já que polos habitacionais e de emprego tendem a concentrar-se fora dos limites da cidade. Apesar disto, é frequente ter de se entrar na cidade para se encontrar uma resposta eficaz para este tipo de deslocações.
O elevado número de diferentes títulos de transporte e a sua complicada integração penalizam muito a adesão aos transportes públicos. Também o número de transbordos, muitas vezes descoordenados, a efetuar, especialmente se estivermos a falar em linhas de média/baixa frequência, em que o tempo de espera pode facilmente atingir os 30 minutos ou mais, constitui uma fator dissuasor para um utilizador regular que disponha de alternativa economicamente acessível. Uma vez mais a questão da coordenação/ articulação, neste caso tarifária e de horários.
Fora das cidades, e no extremo mais oposto, o meio rural, a gestão é feita apenas (e infelizmente) com base em fatores economicistas, já que não existe, na maioria das vezes, procura regular e suficiente para viabilizar uma linha de Transportes Públicos dita “normal”, com percursos, horários e paragens previamente definidos. E é economicista porque o Estado não tem dedicado atenção suficiente a esta matéria. Todos compreendemos que os operadores privados não têm obrigação – a menos que corresponda a uma contrapartida estabelecida num contrato – de financiar a mobilidade em meio rural.
Nestes casos a solução passaria pela flexibilização da oferta, onde o leque é vasto, desde os transportes a pedido, aos sistemas de boleias organizadas, às ofertas de cariz social - geridas pela comunidade com recurso a fundos estatais de apoio social -, à complementaridade com os serviços de transporte existentes, como seja o transporte escolar, distribuição postal, etc... Estas soluções têm provado ser a resposta para o problema da carência em meios rurais um pouco por toda a Europa, com exemplos muito bem-sucedidos na aplicação de todas estas soluções. Há experiências de sucesso comprovado que podem ser estudadas e ajustadas às várias realidades que encontramos em Portugal.
Em Portugal também já podemos contar com alguns casos de sucesso, como sejam Beja, onde táxis partilhados se substituem, de forma organizada e com percursos e tarifas predefinidas, aos autocarros nos dias de menor procura (tipicamente fins de semana), evitando o funcionamento em vazio e os gastos a ele associados. Mas este é um exemplo numa cidade. Em espaço rural, as soluções de sucesso encontradas não são ainda relevantes.
A minha perceção é de que as soluções para os problemas da gestão dos transportes fora dos meios urbanos, existem, mas há uma grande inércia e falta de motivação para a sua concretização em Portugal. A solução terá forçosamente de passar pela agilização burocrática e pela identificação dos diversos atores e a respetiva atribuição de responsabilidades e competências. Tive conhecimento informal de diversos agentes económicos interessados em gerar soluções para este tipo de problemas, mas que tipicamente esbarram no vazio legislativo e na falta de voluntarismo do poder político – aos vários níveis – para apoiar o seu esforço e convergirem em conjunto para soluções concretas.
Em resumo, tudo gira à volta de apostar numa política de complementaridade, nas suas várias vertentes.
Portugal deveria apostar mais em meios “amigos do ambiente”? Em termos de custos e de capacidade para concretizar esta aposta, é viável?
Já foi visto como moda e agora começa a ser visto mesmo como uma necessidade. Para Portugal acompanhar as diretivas e tendências europeias e alcançar as metas energéticas a que se comprometeu terá mesmo de o fazer, e apostar seriamente em meios mais eficientes e mais eco-friendly.
Já na capacidade de concretização e de custos, tudo depende do que estivermos a falar. A maioria dos modos de transporte mais “amigos do ambiente” não tem qualquer custo adicional. Vejamos os modos suaves, como o andar a pé ou de bicicleta, que até pode ser elétrica que continua a ser energeticamente mais eficiente do que o automóvel. Para esta transição o essencial é “arrumar” as coisas: criar condições à circulação, quer seja com a construção de ciclovias - contínuas e com regras de prioridade inequívocas; uma ciclovia que liga nada a sítio nenhum não pode ser encarada como alternativa, antes como um percurso lúdico -, quer com a definição de uma rede pedonal também contínua, que não obrigue o peão a fazer gincanas nem a ultrapassar obstáculos nas suas deslocações (estacionamento abusivo, mobiliário urbano mal localizado, lancis demasiado elevados, etc...).
Se, por outro lado, nos referirmos a uma aposta forte na renovação de frotas, já será algo mais oneroso e acredito que não poderá ser considerado do dia para a noite. É algo que deverá ser faseado e muito bem estruturado, já que tipicamente é um investimento bastante elevado que só por si não representa qualquer aumento de receitas, ou seja, não verá associado um retorno financeiro direto ao nível exclusivo das receitas. Não há nenhuma evidência que a procura aumente por se passar a usar biodiesel em vez de gasóleo, por exemplo. Nestes casos os incentivos e os apoios comunitários são essenciais e deverão ser muito bem aproveitados. Uma externalidade positiva deste investimento, para além da redução das emissões, seria a redução das importações de combustíveis fósseis.
Portugal está preparado para dar aos utentes bons meios alternativos?
Economicamente, e dada a fase que atravessamos, diria que não. Mas acho que é precisamente aqui que temos oportunidade de mostrar as nossas capacidades. Se somos conhecidos por ser “desenrascados”, custa-me um bocado que seja este o fator determinante que nos impede de concretizar projetos. Digo isto, e sem qualquer visão romântica da realidade, apenas no sentido prático de que se há tanta coisa onde mexer para concretizar estas mudanças, podemos começar por aquelas que não envolvem custos, pelo menos de forma direta, mas que podem gerar externalidades económicas positivas.
Podemos focar-nos, por exemplo, na intervenção ao nível das mentalidades e da cultura de deslocação, que além de não ser fácil é bastante demorada. Bastante mais do que a construção de qualquer infraestrutura.
Ao nível dos transportes as grandes variáveis são o tempo e o custo associado às deslocações. E é precisamente nestas variáveis que temos de intervir, já que até agora a associação é feita sempre na dicotomia “menos tempo de deslocação = maior custo de utilização”. Ora isto não tem de ser verdade nas deslocações urbanas, por exemplo, e que representam uma grande percentagem das deslocações diárias e regulares em Portugal. Com o congestionamento crescente que se verifica dentro dos centros urbanos, não é estranho termos menores tempos de deslocação associados aos modos suaves, nomeadamente a pé e de bicicleta, do que ao automóvel, sendo naturalmente menores os custos associados.
Aqui é perfeitamente enquadrável a promoção do “andar a pé” e da utilização da bicicleta como forma de deslocação cada vez mais banalizada. Ora se já estivermos alerta para esta mudança e com vontade de a viabilizar, será um bom chamariz para a aposta num investimento na sua concretização.
O processo inverso pode até ser prejudicial e um desperdício de recursos. Há casos de ciclovias inutilizadas e abandonadas, onde foram gastos recursos para a sua construção. Ou seja, é importante estudar e experimentar onde é que estes investimentos podem ter sucesso antes de se investir nelas. Nós funcionamos melhor se recebermos as coisas depois de termos demonstrado que precisamos delas. Importa mudar radicalmente as abordagens a estes investimentos. A era das avaliações qualitativas e das evidências empíricas na funadamentação das opções de investimento terminou no enquadramento atual. É pena que tenha sido só agora, pois já podíamos dispor de outro tipo de infraestruturas se não tivéssemos desperdiçado recursos em investimentos que se revelaram inúteis.
Quais seriam as melhores soluções para diminuir o número de carros nas cidades portuguesas?
Na minha opinião dever-se-ia apostar na promoção dos modos suaves e da utilização do Transporte Público, o que passa por investir nas medidas referidas nas respostas anteriores.
Por exemplo, há muitos pais que utilizam o carro nas suas deslocações diárias, tendo essa opção sido exclusivamente condicionada pela necessidade de deixar os filhos na escola. Eliminando esta necessidade, nomeadamente através de esquemas de transporte escolar - como o pedi-bus, por exemplo – não teriam dificuldade em utilizar os Transportes Públicos ou em fazer uso de esquemas de car sharing, mais difícil se incluirmos estas escalas nas escolas.
Há ainda opções estruturantes como a acessibilidade às escolas públicas e privadas em Transporte Público. Dou um exemplo nacional muito interessante: a opção pela localização de uma escola infantil no interface de transportes do Pragal – onde coabitam vários modos de transporte: combóio, metro de superfície, autocarro e um grande parque de estacionamento automóvel - que aí funciona já há vários anos. Esta é uma forma de tentar garantir que os filhos estão sempre no percurso casa-trabalho dos seus pais.
Porque não um programa eco-escola, à semelhança do e-escola, só que em vez de se darem computadores se dariam bicicletas e/ou títulos de transporte público? Esta medida poderia ser ponderada mesmo no enquadramento de emergência económica em que vivemos, atendendo a que os valores correspondentes aos “subsídios” associados aos títulos oferecidos ou vendidos, poderiam ser compensados pela redução das importações de combustíveis fósseis. Também aqui, é fazer as contas porque pode efetivamente compensar no curto prazo.
Naturalmente que existem viagens que terão sempre, e por motivos vários, de se realizar em automóvel. Nestes casos, a partilha do veículo por vários utilizadores é talvez a forma mais eficaz e simples de o fazer, exigindo apenas uma boa coordenação entre os intervenientes.
Ao nível das rotinas diárias, a complementaridade de usos permite minorar o número de viagens, já que atua na não-necessidade de utilização do automóvel nas deslocações ditas primárias, como escola-trabalho-compras. A flexibilização dos horários de trabalho, e dos horários de abertura do comércio, será sempre uma forma de descongestionamento, apesar de não significar necessariamente uma redução efetiva do número de veículos, mas da sua utilização. Mas estas são medidas a tomar fora do campo da mobilidade, mas que nela se refletem de forma inequívoca, uma vez que a mobilidade é sempre uma necessidade derivada.
Como vê o posicionamento de Portugal em relação às outras cidades europeias, em termos de infraestruturas necessárias à existência de, por exemplo, mais carros elétricos, mais espaço para bicicletas, mais e melhores espaços para peões nas ruas?
A Europa tem muitos bons e maus exemplos, atenção. Mas em relação às cidades que devemos considerar como modelo e tomar como exemplo, estamos ainda numa posição muito pueril. Mas isso tem muito a ver com a falta de tradição e de cultura na abordagem dos temas relacionados com o ambiente e com a sustentabilidade. Acho que, para além de ser uma questão económica, é uma questão de prioridades. Portugal ainda não está suficientemente alerta para esta necessidade enquanto verdadeiramente prioritária, mas está certamente a caminhar para isso. E a um muito bom ritmo.
Se olharmos hoje para as nossas cidades, vemos centros urbanos com vias e áreas exclusivamente pedonais, assim como redes, ainda que modestas, de ciclovias. E o facto de ambas as infraestruturas estarem em crescimento é um sinal que estamos no bom caminho.
É igualmente importante não se cair no exagero injustificado, mas isso é outro assunto.
Em relação aos carros elétricos será a necessidade a ditar a concretização, ou seja, atempadamente a proliferação dos veículos elétricos imporá uma rede de abastecimento mais difusa. No entanto, e neste momento, não é por ausência de uma infraestrutura básica de abastecimento que não aumenta a importância deste tipo de propulsão na frota automóvel particular. Houve já um investimento com alguma expressão nestas infraestruturas, em particular nas grandes cidades, que todos já estamos a pagar. Há que o rentabilizar.
Olhando para os hábitos da população portuguesa (que usa muito o carro como principal meio de transporte), acha que é possível mudar mentalidades?
Muito honestamente, acho que não só é possível, como acho que os portugueses estão desejosos que isso aconteça. Basta saber como “embrulhar as coisas”. Valorizar acima de tudo os benefícios e apostar muito numa boa promoção da tão desejada mudança de hábitos.
Como já referi, penso que neste campo a crise económica que atravessamos deve ser encarada como uma oportunidade ímpar, já que uma das grandes vantagens da transferência modal para os modos ditos mais “amigos do ambiente” é precisamente a económica. Seria excelente conseguir tirar alguns proveitos desta situação menos boa e gerar externalidades positivas. Até porque estas permaneceriam, e essa seria um dos bons legados deste período.
Em entrevista ao SAPO Notícias, Sofia Caldeira Martins, Engª Civil Mestre em Transportes, analisou o panorama português. A especialista em mobilidade e transportes públicos comentou a atuação de Portugal neste sector, em comparação com outras cidades europeias, e identificou algumas medidas que podem ajudar a tornar o país mais sustentável.
Como vê a gestão dos transportes públicos em Portugal?
Em Portugal a gestão dos Transportes Públicos não pode ser vista fora do seu enquadramento económico. Deste modo, podemos separar o que são as políticas de transporte nas cidades e fora destas. E esta diferença não se prende apenas com a tipologia da procura, mas também com a gestão da oferta.
No caso das cidades, a gestão dos transportes públicos está muito centrada na concessão de percursos aos diferentes operadores, na definição de horários e no equilíbrio tarifário (embora os resultados das empresas não espelhem estes princípios), deixando para segundo plano a integração e a complementaridade entre estes fornecedores e os diferentes modos que gerem.
Esta realidade leva a que, numa base de sobrevivência financeira, os vários operadores centrem os seus serviços nos eixos de maior procura, concretamente nas linhas radiais de acesso aos centros, esquecendo que essas terão de ser alimentadas e que cada vez mais existem importantes deslocações transversais, já que polos habitacionais e de emprego tendem a concentrar-se fora dos limites da cidade. Apesar disto, é frequente ter de se entrar na cidade para se encontrar uma resposta eficaz para este tipo de deslocações.
O elevado número de diferentes títulos de transporte e a sua complicada integração penalizam muito a adesão aos transportes públicos. Também o número de transbordos, muitas vezes descoordenados, a efetuar, especialmente se estivermos a falar em linhas de média/baixa frequência, em que o tempo de espera pode facilmente atingir os 30 minutos ou mais, constitui uma fator dissuasor para um utilizador regular que disponha de alternativa economicamente acessível. Uma vez mais a questão da coordenação/ articulação, neste caso tarifária e de horários.
Fora das cidades, e no extremo mais oposto, o meio rural, a gestão é feita apenas (e infelizmente) com base em fatores economicistas, já que não existe, na maioria das vezes, procura regular e suficiente para viabilizar uma linha de Transportes Públicos dita “normal”, com percursos, horários e paragens previamente definidos. E é economicista porque o Estado não tem dedicado atenção suficiente a esta matéria. Todos compreendemos que os operadores privados não têm obrigação – a menos que corresponda a uma contrapartida estabelecida num contrato – de financiar a mobilidade em meio rural.
Nestes casos a solução passaria pela flexibilização da oferta, onde o leque é vasto, desde os transportes a pedido, aos sistemas de boleias organizadas, às ofertas de cariz social - geridas pela comunidade com recurso a fundos estatais de apoio social -, à complementaridade com os serviços de transporte existentes, como seja o transporte escolar, distribuição postal, etc... Estas soluções têm provado ser a resposta para o problema da carência em meios rurais um pouco por toda a Europa, com exemplos muito bem-sucedidos na aplicação de todas estas soluções. Há experiências de sucesso comprovado que podem ser estudadas e ajustadas às várias realidades que encontramos em Portugal.
Em Portugal também já podemos contar com alguns casos de sucesso, como sejam Beja, onde táxis partilhados se substituem, de forma organizada e com percursos e tarifas predefinidas, aos autocarros nos dias de menor procura (tipicamente fins de semana), evitando o funcionamento em vazio e os gastos a ele associados. Mas este é um exemplo numa cidade. Em espaço rural, as soluções de sucesso encontradas não são ainda relevantes.
A minha perceção é de que as soluções para os problemas da gestão dos transportes fora dos meios urbanos, existem, mas há uma grande inércia e falta de motivação para a sua concretização em Portugal. A solução terá forçosamente de passar pela agilização burocrática e pela identificação dos diversos atores e a respetiva atribuição de responsabilidades e competências. Tive conhecimento informal de diversos agentes económicos interessados em gerar soluções para este tipo de problemas, mas que tipicamente esbarram no vazio legislativo e na falta de voluntarismo do poder político – aos vários níveis – para apoiar o seu esforço e convergirem em conjunto para soluções concretas.
Em resumo, tudo gira à volta de apostar numa política de complementaridade, nas suas várias vertentes.
Portugal deveria apostar mais em meios “amigos do ambiente”? Em termos de custos e de capacidade para concretizar esta aposta, é viável?
Já foi visto como moda e agora começa a ser visto mesmo como uma necessidade. Para Portugal acompanhar as diretivas e tendências europeias e alcançar as metas energéticas a que se comprometeu terá mesmo de o fazer, e apostar seriamente em meios mais eficientes e mais eco-friendly.
Já na capacidade de concretização e de custos, tudo depende do que estivermos a falar. A maioria dos modos de transporte mais “amigos do ambiente” não tem qualquer custo adicional. Vejamos os modos suaves, como o andar a pé ou de bicicleta, que até pode ser elétrica que continua a ser energeticamente mais eficiente do que o automóvel. Para esta transição o essencial é “arrumar” as coisas: criar condições à circulação, quer seja com a construção de ciclovias - contínuas e com regras de prioridade inequívocas; uma ciclovia que liga nada a sítio nenhum não pode ser encarada como alternativa, antes como um percurso lúdico -, quer com a definição de uma rede pedonal também contínua, que não obrigue o peão a fazer gincanas nem a ultrapassar obstáculos nas suas deslocações (estacionamento abusivo, mobiliário urbano mal localizado, lancis demasiado elevados, etc...).
Se, por outro lado, nos referirmos a uma aposta forte na renovação de frotas, já será algo mais oneroso e acredito que não poderá ser considerado do dia para a noite. É algo que deverá ser faseado e muito bem estruturado, já que tipicamente é um investimento bastante elevado que só por si não representa qualquer aumento de receitas, ou seja, não verá associado um retorno financeiro direto ao nível exclusivo das receitas. Não há nenhuma evidência que a procura aumente por se passar a usar biodiesel em vez de gasóleo, por exemplo. Nestes casos os incentivos e os apoios comunitários são essenciais e deverão ser muito bem aproveitados. Uma externalidade positiva deste investimento, para além da redução das emissões, seria a redução das importações de combustíveis fósseis.
Portugal está preparado para dar aos utentes bons meios alternativos?
Economicamente, e dada a fase que atravessamos, diria que não. Mas acho que é precisamente aqui que temos oportunidade de mostrar as nossas capacidades. Se somos conhecidos por ser “desenrascados”, custa-me um bocado que seja este o fator determinante que nos impede de concretizar projetos. Digo isto, e sem qualquer visão romântica da realidade, apenas no sentido prático de que se há tanta coisa onde mexer para concretizar estas mudanças, podemos começar por aquelas que não envolvem custos, pelo menos de forma direta, mas que podem gerar externalidades económicas positivas.
Podemos focar-nos, por exemplo, na intervenção ao nível das mentalidades e da cultura de deslocação, que além de não ser fácil é bastante demorada. Bastante mais do que a construção de qualquer infraestrutura.
Ao nível dos transportes as grandes variáveis são o tempo e o custo associado às deslocações. E é precisamente nestas variáveis que temos de intervir, já que até agora a associação é feita sempre na dicotomia “menos tempo de deslocação = maior custo de utilização”. Ora isto não tem de ser verdade nas deslocações urbanas, por exemplo, e que representam uma grande percentagem das deslocações diárias e regulares em Portugal. Com o congestionamento crescente que se verifica dentro dos centros urbanos, não é estranho termos menores tempos de deslocação associados aos modos suaves, nomeadamente a pé e de bicicleta, do que ao automóvel, sendo naturalmente menores os custos associados.
Aqui é perfeitamente enquadrável a promoção do “andar a pé” e da utilização da bicicleta como forma de deslocação cada vez mais banalizada. Ora se já estivermos alerta para esta mudança e com vontade de a viabilizar, será um bom chamariz para a aposta num investimento na sua concretização.
O processo inverso pode até ser prejudicial e um desperdício de recursos. Há casos de ciclovias inutilizadas e abandonadas, onde foram gastos recursos para a sua construção. Ou seja, é importante estudar e experimentar onde é que estes investimentos podem ter sucesso antes de se investir nelas. Nós funcionamos melhor se recebermos as coisas depois de termos demonstrado que precisamos delas. Importa mudar radicalmente as abordagens a estes investimentos. A era das avaliações qualitativas e das evidências empíricas na funadamentação das opções de investimento terminou no enquadramento atual. É pena que tenha sido só agora, pois já podíamos dispor de outro tipo de infraestruturas se não tivéssemos desperdiçado recursos em investimentos que se revelaram inúteis.
Quais seriam as melhores soluções para diminuir o número de carros nas cidades portuguesas?
Na minha opinião dever-se-ia apostar na promoção dos modos suaves e da utilização do Transporte Público, o que passa por investir nas medidas referidas nas respostas anteriores.
Por exemplo, há muitos pais que utilizam o carro nas suas deslocações diárias, tendo essa opção sido exclusivamente condicionada pela necessidade de deixar os filhos na escola. Eliminando esta necessidade, nomeadamente através de esquemas de transporte escolar - como o pedi-bus, por exemplo – não teriam dificuldade em utilizar os Transportes Públicos ou em fazer uso de esquemas de car sharing, mais difícil se incluirmos estas escalas nas escolas.
Há ainda opções estruturantes como a acessibilidade às escolas públicas e privadas em Transporte Público. Dou um exemplo nacional muito interessante: a opção pela localização de uma escola infantil no interface de transportes do Pragal – onde coabitam vários modos de transporte: combóio, metro de superfície, autocarro e um grande parque de estacionamento automóvel - que aí funciona já há vários anos. Esta é uma forma de tentar garantir que os filhos estão sempre no percurso casa-trabalho dos seus pais.
Porque não um programa eco-escola, à semelhança do e-escola, só que em vez de se darem computadores se dariam bicicletas e/ou títulos de transporte público? Esta medida poderia ser ponderada mesmo no enquadramento de emergência económica em que vivemos, atendendo a que os valores correspondentes aos “subsídios” associados aos títulos oferecidos ou vendidos, poderiam ser compensados pela redução das importações de combustíveis fósseis. Também aqui, é fazer as contas porque pode efetivamente compensar no curto prazo.
Naturalmente que existem viagens que terão sempre, e por motivos vários, de se realizar em automóvel. Nestes casos, a partilha do veículo por vários utilizadores é talvez a forma mais eficaz e simples de o fazer, exigindo apenas uma boa coordenação entre os intervenientes.
Ao nível das rotinas diárias, a complementaridade de usos permite minorar o número de viagens, já que atua na não-necessidade de utilização do automóvel nas deslocações ditas primárias, como escola-trabalho-compras. A flexibilização dos horários de trabalho, e dos horários de abertura do comércio, será sempre uma forma de descongestionamento, apesar de não significar necessariamente uma redução efetiva do número de veículos, mas da sua utilização. Mas estas são medidas a tomar fora do campo da mobilidade, mas que nela se refletem de forma inequívoca, uma vez que a mobilidade é sempre uma necessidade derivada.
Como vê o posicionamento de Portugal em relação às outras cidades europeias, em termos de infraestruturas necessárias à existência de, por exemplo, mais carros elétricos, mais espaço para bicicletas, mais e melhores espaços para peões nas ruas?
A Europa tem muitos bons e maus exemplos, atenção. Mas em relação às cidades que devemos considerar como modelo e tomar como exemplo, estamos ainda numa posição muito pueril. Mas isso tem muito a ver com a falta de tradição e de cultura na abordagem dos temas relacionados com o ambiente e com a sustentabilidade. Acho que, para além de ser uma questão económica, é uma questão de prioridades. Portugal ainda não está suficientemente alerta para esta necessidade enquanto verdadeiramente prioritária, mas está certamente a caminhar para isso. E a um muito bom ritmo.
Se olharmos hoje para as nossas cidades, vemos centros urbanos com vias e áreas exclusivamente pedonais, assim como redes, ainda que modestas, de ciclovias. E o facto de ambas as infraestruturas estarem em crescimento é um sinal que estamos no bom caminho.
É igualmente importante não se cair no exagero injustificado, mas isso é outro assunto.
Em relação aos carros elétricos será a necessidade a ditar a concretização, ou seja, atempadamente a proliferação dos veículos elétricos imporá uma rede de abastecimento mais difusa. No entanto, e neste momento, não é por ausência de uma infraestrutura básica de abastecimento que não aumenta a importância deste tipo de propulsão na frota automóvel particular. Houve já um investimento com alguma expressão nestas infraestruturas, em particular nas grandes cidades, que todos já estamos a pagar. Há que o rentabilizar.
Olhando para os hábitos da população portuguesa (que usa muito o carro como principal meio de transporte), acha que é possível mudar mentalidades?
Muito honestamente, acho que não só é possível, como acho que os portugueses estão desejosos que isso aconteça. Basta saber como “embrulhar as coisas”. Valorizar acima de tudo os benefícios e apostar muito numa boa promoção da tão desejada mudança de hábitos.
Como já referi, penso que neste campo a crise económica que atravessamos deve ser encarada como uma oportunidade ímpar, já que uma das grandes vantagens da transferência modal para os modos ditos mais “amigos do ambiente” é precisamente a económica. Seria excelente conseguir tirar alguns proveitos desta situação menos boa e gerar externalidades positivas. Até porque estas permaneceriam, e essa seria um dos bons legados deste período.
Fala-se muito nas “cidades do futuro” mais sustentáveis mas ser sustentável é mais do que ser ecológico. Tendo em conta o seu trabalho e o tema da mobilidade, como define a “cidade do futuro”?
A cidade do futuro é aquela que é composta por cidadãos do futuro. E os cidadãos do futuro são pessoas cada vez mais alertas para as questões ambientais e de sustentabilidade, quanto mais não seja pela sua relação com a poupança de recursos, nomeadamente os naturais (ambientais e energéticos) e financeiros.
Para mim, a cidade do futuro verá o uso do automóvel como uma forma de deslocação esporádica e necessária apenas para viagens de média distância e para necessidades especiais, apostará na proximidade dos ciclos de vida diários – casa-trabalho-escola-compras - de modo a que as pessoas possam satisfazer as suas necessidades básicas sem ter de recorrer ao automóvel e, finalmente, uma cidade que investirá mais no incentivo ao uso dos modos suaves e dos transportes públicos, mais do que na construção de infraestruturas.
Estas características juntas permitirão acabar com algo que é uma triste imagem do que é a circulação automóvel em Portugal, que é o facto de o maior inimigo do ciclista e do peão ser o condutor do veículo automóvel. Muitos ciclistas ocasionais apontam a falta de segurança e o medo dos automobilistas como principal causa para a não adoção da bicicleta como meio de deslocação regular. Para além disso importa rapidamente tornar obsoleta a tristemente célebre classificação de peão: “um condutor a quem foi amputado o veículo”.
Este é um dos muitos exemplos do que falta fazer na caminhada para uma mobilidade mais sustentável, e que é algo que não tem exclusivamente a ver com investimentos numa primeira fase, mas sim com educação e consciência social, na sua aplicação à mobilidade. Se formos capazes de o reconhecer e por em prática, significa que já apanhámos o comboio da sustentabilidade, só falta agora levá-lo a bom porto, ou melhor à boa estação.
@SAPO
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.*
A cidade do futuro é aquela que é composta por cidadãos do futuro. E os cidadãos do futuro são pessoas cada vez mais alertas para as questões ambientais e de sustentabilidade, quanto mais não seja pela sua relação com a poupança de recursos, nomeadamente os naturais (ambientais e energéticos) e financeiros.
Para mim, a cidade do futuro verá o uso do automóvel como uma forma de deslocação esporádica e necessária apenas para viagens de média distância e para necessidades especiais, apostará na proximidade dos ciclos de vida diários – casa-trabalho-escola-compras - de modo a que as pessoas possam satisfazer as suas necessidades básicas sem ter de recorrer ao automóvel e, finalmente, uma cidade que investirá mais no incentivo ao uso dos modos suaves e dos transportes públicos, mais do que na construção de infraestruturas.
Estas características juntas permitirão acabar com algo que é uma triste imagem do que é a circulação automóvel em Portugal, que é o facto de o maior inimigo do ciclista e do peão ser o condutor do veículo automóvel. Muitos ciclistas ocasionais apontam a falta de segurança e o medo dos automobilistas como principal causa para a não adoção da bicicleta como meio de deslocação regular. Para além disso importa rapidamente tornar obsoleta a tristemente célebre classificação de peão: “um condutor a quem foi amputado o veículo”.
Este é um dos muitos exemplos do que falta fazer na caminhada para uma mobilidade mais sustentável, e que é algo que não tem exclusivamente a ver com investimentos numa primeira fase, mas sim com educação e consciência social, na sua aplicação à mobilidade. Se formos capazes de o reconhecer e por em prática, significa que já apanhámos o comboio da sustentabilidade, só falta agora levá-lo a bom porto, ou melhor à boa estação.
@SAPO
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.*
Wednesday, August 31, 2011
Portugal de Interiores… Um problema e uma oportunidade.
in Interiormente, Prof António Serrano
Wednesday, August 24, 2011
How To Create A Pop-Up Coworking Space
The sharing economy is a new way of living in which access is valued over ownership, experience is valued over material possessions, and "mine" becomes “ours” so everyone's needs are met without waste.
This new paradigm means that spaces and services become more temporary: they "pop-up" to meet a need or facilitate a community, and fade away or change forms when the need has been filled.
We've already explored ways that the coworking movement has capitalized on the pop-up concept to introduce mobile professionals to this new style of collaborative work.
Now, here are some tips for creating your own pop-up coworking space!
Location, Location, Permission - The best pop-up spaces are those located in heavily trafficked areas or permanent spots that are ideal for members of the mobile workforce.
Past pop-up coworking spaces include museums, art galleries, parks, vacant store fronts, clothing stores, book stores, airports, conferences, farmers' markets, and even RVs. Just remember is that pop-up does not equal flash-mob.
Make sure you inform property owners of your desire to host a coworking gathering and get their express permission. Even if the space is public, like a park or city square, you probably still need permission to occupy it. Keep in mind that collaborating in this way is the first step toward building a permanent community!
Power/Internet/Furniture - Once you've got a space locked down, it's time to think about making it as comfortable as possible for those who participate. If you're working with a private space, ask the owner or landlord about using existing power supplies, internet, furniture and electronics.
If it's a vacant or outdoor space, you'll need to make sure power and Wifi is available. This can be achieved by pooling together personal hot spots, or asking a local internet provider to sponsor the event.
One you've got the necessary power and connectivity, think about visiting a local thrift store or browsing Craig's List for free tables and chairs. If you're confident in your core community, ask people to bring spare tables and chairs, or connect with a local business that might donate some furniture in exchange for a chance to increase awareness about their newest products.
Handle The Hype - OK, now you've got the space and something to sit on... It's time to focus on getting people interested! Pop-up stores are wildly successful because they represent a chance to interact with something brand new or exclusive. There are lots of ways to build hype about your pop-up coworking space, especially through social media.
Share tiny clues about the location each day leading up until the opening.
Make it an invite-only event.
Make it exclusive for freelancers for one or two industries.
Promise the presence of local celebrities.
Inform the press.
Offer coffee, beer, food or the chance to win something.
Emphasize the chance to meet, network, and collaborate with other local freelancers and small business owners.
What if your community already has coworking?
Pop-up coworking is a versitile event . It can be used to generate awareness in a community that lacks a coworking space, or to demonstrate the casual nature of coworking in a community that already has one or more spaces. Some have used a pop-up event to gague community interest in coworking before making plans to open a more permanent space, or as an overflow option when the current space is full.
How long should it last?
The beauty of pop-up spaces is that they don't have to last forever, and you shouldn't force them to become permanent. Best practices say that anything from a weekend to 2 weeks is plenty of time at a single location. Remember, the whole point is to leave them wanting more! If you're planning to pop-up again in a new location, make sure attendees know to watch for more clues about where and when it will be.
What if the pop-up coworking space is a big success?
If lots of people show up for your pop-up event and you get the feeling that they don't want it to go away, think about moving into the more structured but still-casual Jelly format.
in Shareable
Saturday, August 20, 2011
"Arranjam emprego às familias que mudam para o interior? É que sem emprego é difícil mudar!"
Esta é a pergunta com a qual somos confrontados diariamente no nosso email.
Por isso, entendemos dedicar-lhe uma resposta "alargada" e publicá-la na entrada do nosso site.
Durante várias décadas, o combate ao despovoamento foi realizado através do aumento do emprego público. As Câmaras Municipais aumentavam o seu quadro de pessoal e assim garantiam a manutenção da sua população.
Em 2005, percebemos que essa estratégia não era sustentável nem duradoura. E por isso nasceu o projecto Novos Povoadores.
Hoje, trinta por cento das actividades profissionais dependem apenas da ligação à internet. Um contabilista, por exemplo, pode estar em Alfândega da Fé - um dos locais em Portugal com menor densidade populacional - e a realizar a contabilidade dos seus clientes do Porto ou de Lisboa.
E são esses profissionais, que desenvolvem actividades para fora do concelho e da região, que podem ser os agentes de dinamização destes territórios de interior: Porque o rendimento que captam no exterior, vão introduzir nestas regiões através dos seus consumos diários como o arrendamento de habitação, a contratação de serviços, a alimentação, no supermercado, na educação e outros.
Por isso, o projecto Novos Povoadores apoia a transferência de empreendedores para as regiões de menor densidade populacional como alavanca para o desenvolvimento destes territórios.
Hoje, trinta por cento das actividades profissionais dependem apenas da ligação à internet. Um contabilista, por exemplo, pode estar em Alfândega da Fé - um dos locais em Portugal com menor densidade populacional - e a realizar a contabilidade dos seus clientes do Porto ou de Lisboa.
E são esses profissionais, que desenvolvem actividades para fora do concelho e da região, que podem ser os agentes de dinamização destes territórios de interior: Porque o rendimento que captam no exterior, vão introduzir nestas regiões através dos seus consumos diários como o arrendamento de habitação, a contratação de serviços, a alimentação, no supermercado, na educação e outros.
Por isso, o projecto Novos Povoadores apoia a transferência de empreendedores para as regiões de menor densidade populacional como alavanca para o desenvolvimento destes territórios.
Friday, August 05, 2011
Portugal “não é um país urbano”
Portugal é um país maioritariamente rural e está a ficar cada vez mais desertificado por causa das alterações climáticas, alertou hoje o presidente da Comissão Nacional de Coordenação do Combate à Desertificação.
“A desertificação está a aumentar gradualmente, também devido às alterações climáticas”, disse à agência Lusa.
O responsável falava à margem do seminário de abertura da discussão pública da proposta de Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PANCD) 2011/2020, que hoje decorre em Lisboa. Pretende-se ter o documento pronto para entregar ao Governo em meados de Setembro.
Amândio Torres ressalvou que, quando se fala em desertificação, não se refere apenas à populacional mas também à degradação dos solos e do ecossistema. Além disso, sublinhou, ao contrário do que se poderá pensar, Portugal “não é um país urbano”.
“Noventa e seis por cento do país é rural, composto por áreas de floresta, espaços silvestres e áreas agrícolas”, afirmou.
No entanto, “a política nacional incide sobretudo nos quatro por cento da área urbana”, lamentou.
Referindo-se ao PANCD, Amândio Torres disse que o objetivo é identificar problemas e apresentar propostas de solução.
“Os problemas diferem de sítio para sítio, logo as respostas não podem ser iguais para todos”, disse.
Uma das sugestões que deixa prende-se com os Planos Diretores Municipais (PDM) porque considera que “têm de deixar de ser um instrumento para a gestão urbana e passar a ser um instrumento para a gestão rural”.
O PANCD propõe nos seus objetivos estratégicos melhorar as condições de vida das populações das zonas suscetíveis e a gestão sustentável dos ecossistemas dessas áreas.
Gerar benefícios globais e potenciar sinergias com os processos das alterações climáticas e da biodiversidade é outros dos objetivos, bem como mobilizar recursos para a implementação do PANCD.
“A desertificação está a aumentar gradualmente, também devido às alterações climáticas”, disse à agência Lusa.
O responsável falava à margem do seminário de abertura da discussão pública da proposta de Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PANCD) 2011/2020, que hoje decorre em Lisboa. Pretende-se ter o documento pronto para entregar ao Governo em meados de Setembro.
Amândio Torres ressalvou que, quando se fala em desertificação, não se refere apenas à populacional mas também à degradação dos solos e do ecossistema. Além disso, sublinhou, ao contrário do que se poderá pensar, Portugal “não é um país urbano”.
“Noventa e seis por cento do país é rural, composto por áreas de floresta, espaços silvestres e áreas agrícolas”, afirmou.
No entanto, “a política nacional incide sobretudo nos quatro por cento da área urbana”, lamentou.
Referindo-se ao PANCD, Amândio Torres disse que o objetivo é identificar problemas e apresentar propostas de solução.
“Os problemas diferem de sítio para sítio, logo as respostas não podem ser iguais para todos”, disse.
Uma das sugestões que deixa prende-se com os Planos Diretores Municipais (PDM) porque considera que “têm de deixar de ser um instrumento para a gestão urbana e passar a ser um instrumento para a gestão rural”.
O PANCD propõe nos seus objetivos estratégicos melhorar as condições de vida das populações das zonas suscetíveis e a gestão sustentável dos ecossistemas dessas áreas.
Gerar benefícios globais e potenciar sinergias com os processos das alterações climáticas e da biodiversidade é outros dos objetivos, bem como mobilizar recursos para a implementação do PANCD.
Wednesday, August 03, 2011
Vendedores e designers vão conviver no Mercado de Matosinhos
O Mercado de Matosinhos abre na segunda-feira com uma nova configuração, já que os 84 comerciantes vão estar concentrados em 2 pontos, abrindo espaço para uma incubadora de 10 empresas de design, soube-se esta sexta-feira.
“Na segunda-feira, a actividade tradicional do mercado enquadra-se numa nova disposição, com a actividade tradicional do mercado concentrada em 2 pontos do edifício classificado”, revelou o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto.
O autarca esclarece que a mudança implicará uma redução do número de comerciantes, que passa de 112 para 84, mas na prática fica quase tudo na mesma.
“Verdadeiramente, já cá não estavam 112. O que muda é que deixarão de existir espaços vazios”, afirmou, assegurando que as soluções “foram consensualizadas com os comerciantes”.
Para concluir a renovação do mercado, falta o parecer final do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (Igespar) relativamente ao projecto de incubação de empresas do Quadra – Centro de Inovação e Criatividade, desenvolvido em parceria com a ESAD – Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos.
“Estou convencido de que o projecto será aprovado, até porque a melhor forma de preservar um monumento, como é o caso do mercado de Matosinhos, é mantê-lo aberto e activo”, notou Guilherme Pinto.
O projecto, orçado em 300 mil euros, deverá permitir que cerca de 10 empresas ligadas ao design se instalem naquele espaço.
O novo mercado pretende, assim, “preservar a actividade tradicional e casá-la com uma actividade de ponta”.
Dar a Matosinhos “capacidade para induzir cada vez mais investimento” e mostrar que a actividade económica do concelho “está imparável” são os objectivos do presidente da autarquia.
Porto24
“Na segunda-feira, a actividade tradicional do mercado enquadra-se numa nova disposição, com a actividade tradicional do mercado concentrada em 2 pontos do edifício classificado”, revelou o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto.
O autarca esclarece que a mudança implicará uma redução do número de comerciantes, que passa de 112 para 84, mas na prática fica quase tudo na mesma.
“Verdadeiramente, já cá não estavam 112. O que muda é que deixarão de existir espaços vazios”, afirmou, assegurando que as soluções “foram consensualizadas com os comerciantes”.
Para concluir a renovação do mercado, falta o parecer final do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (Igespar) relativamente ao projecto de incubação de empresas do Quadra – Centro de Inovação e Criatividade, desenvolvido em parceria com a ESAD – Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos.
“Estou convencido de que o projecto será aprovado, até porque a melhor forma de preservar um monumento, como é o caso do mercado de Matosinhos, é mantê-lo aberto e activo”, notou Guilherme Pinto.
O projecto, orçado em 300 mil euros, deverá permitir que cerca de 10 empresas ligadas ao design se instalem naquele espaço.
O novo mercado pretende, assim, “preservar a actividade tradicional e casá-la com uma actividade de ponta”.
Dar a Matosinhos “capacidade para induzir cada vez mais investimento” e mostrar que a actividade económica do concelho “está imparável” são os objectivos do presidente da autarquia.
Porto24
Friday, July 29, 2011
Ministro da Economia quer "travar" desertificação no interior do país
Álvaro Santos Pereira mostrou-se hoje empenhado em "travar" a desertificação no interior do país e lembrou que é também "uma pessoa do interior".
O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, mostrou-se hoje empenhado em "travar" a desertificação no interior do país, prometendo que não irá esquecer-se daquela região, uma vez que é também "uma pessoa do interior".
"Eu sou uma pessoa do interior. Uma coisa que eu não farei será esquecer o interior", disse.
"Nós temos uma secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, eu não digo isso só por nome, eu digo isso piamente porque vale a pena acreditar e apostar no interior para construir-mos um Portugal mais harmonioso e menos dual", sublinhou.
Álvaro Santos Pereira falava aos jornalistas no final de uma visita à fábrica de produção de PET da IMG, em Portalegre, iniciativa inserida no âmbito de um ciclo de visitas a empresas de sucesso e em dificuldades promovida pelo Ministério da Economia.
No entanto, o ministro recordou que o Governo "não tem soluções mágicas" para inverter a situação que se vive nas regiões do interior, sustentando que a "chave" para resolver esse problema passa pelo diálogo e trabalho com as populações e empresas dessas regiões desertificadas.
"O Governo não tem soluções mágicas para o interior, nós precisamos de trabalhar com as populações do interior, com as empresas do interior, para tornar-mos o interior mais atractivo para as pessoas que cá vivem e querem cá viver", declarou.
O grupo Control PET -- sociedade participada pelos grupos portugueses Imatosgil e Banco Espírito Santo compraram em Junho a unidade de produção de PET Artenius Portugal, em Portalegre, empresa que era propriedade da espanhola La Seda.
A empresa, desenhada em 1996 para a produção de fibras de poliéster, foi reconvertida para a produção em processo contínuo de polímeros PET, tinha uma produção anual de 70 mil toneladas e estava com a sua actividade industrial paralisada desde finais de 2010.
De acordo com a La Seda, na altura do negócio, o valor da venda foi de 5,6 milhões de euros a pagar entre 2011 e 2015.
in Jornal de Negócios
O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, mostrou-se hoje empenhado em "travar" a desertificação no interior do país, prometendo que não irá esquecer-se daquela região, uma vez que é também "uma pessoa do interior".
"Eu sou uma pessoa do interior. Uma coisa que eu não farei será esquecer o interior", disse.
"Nós temos uma secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, eu não digo isso só por nome, eu digo isso piamente porque vale a pena acreditar e apostar no interior para construir-mos um Portugal mais harmonioso e menos dual", sublinhou.
Álvaro Santos Pereira falava aos jornalistas no final de uma visita à fábrica de produção de PET da IMG, em Portalegre, iniciativa inserida no âmbito de um ciclo de visitas a empresas de sucesso e em dificuldades promovida pelo Ministério da Economia.
No entanto, o ministro recordou que o Governo "não tem soluções mágicas" para inverter a situação que se vive nas regiões do interior, sustentando que a "chave" para resolver esse problema passa pelo diálogo e trabalho com as populações e empresas dessas regiões desertificadas.
"O Governo não tem soluções mágicas para o interior, nós precisamos de trabalhar com as populações do interior, com as empresas do interior, para tornar-mos o interior mais atractivo para as pessoas que cá vivem e querem cá viver", declarou.
O grupo Control PET -- sociedade participada pelos grupos portugueses Imatosgil e Banco Espírito Santo compraram em Junho a unidade de produção de PET Artenius Portugal, em Portalegre, empresa que era propriedade da espanhola La Seda.
A empresa, desenhada em 1996 para a produção de fibras de poliéster, foi reconvertida para a produção em processo contínuo de polímeros PET, tinha uma produção anual de 70 mil toneladas e estava com a sua actividade industrial paralisada desde finais de 2010.
De acordo com a La Seda, na altura do negócio, o valor da venda foi de 5,6 milhões de euros a pagar entre 2011 e 2015.
in Jornal de Negócios
Friday, July 22, 2011
Tuesday, July 19, 2011
Saturday, July 16, 2011
Portugal tem de ser uma Nação Start Up
por CATARINA CARVALHO
Diogo Vasconcelos fez da inovação a sua profissão. Director internacional da Cisco, vive em Londres mas viaja pelo mundo à procura de experiências social ou economicamente inovadoras. Eis as suas lições sobre inovação que, considera, será a pedra-de-toque para o futuro da economia portuguesa.
«Nem imagina a minha semana passada...», diz Diogo Vasconcelos, às nove da manhã de segunda-feira.
Não é bem assim. Esta entrevista deu para fazer uma ideia: esteve marcada para uma das suas breves passagens por Lisboa, foi desmarcada e remarcada duas vezes e acabou por ser feita por videoconferência entre Porto Salvo e Londres. Tudo por causa dos problemas de agenda de Diogo Vasconcelos. Ele começou essa semana em Bruxelas a moderar um seminário com representantes dos ministros da Ciência dos 27 países da União Europeia (UE) sobre... inovação. E acabou-a em Lisboa numa reunião de um grupo que inclui a Caixa Geral de Depósitos e que pretende trazer capital de risco para jovens e inovadoras empresas portuguesas.
Mas não seria de esperar que o português que mais se dedica ao tema desta revista, a inovação, não tivesse uma agenda tão cheia.
Afinal, Diogo Vasconcelos é presidente da direcção da APDC - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações -, director internacional da Cisco, onde coordena vários programas de inovação social como o Social Innovation Exchange - uma organização que reúne ONG nesta área -, presidente e membro de vários grupos de discussão sobre políticas de inovação dentro da UE e conselheiro do Presidente da República, para referirmos apenas as mais significativas.
E tem sido sempre assim. Foi vice-presidente e deputado do PSD. No governo de Durão Barroso, coordenou a Agência para a Sociedade do Conhecimento, que fez o Portal do Cidadão, a banda larga nas escolas, as compras electrónicas, entre outras coisas. E também fez parte da Agência para a Inovação.
Hoje, com 42 anos, este licenciado em Direito, mas que nunca exerceu advocacia, vive em Londres e parece ter encontrado na inovação a palavra-chave para a sua vida. Eis as lições, conselhos e visões de quem anda pelo mundo e acha que neste pequeno rectângulo ainda temos muito que aprender nesta área decisiva para a economia do futuro... e do presente.
Há alguma fórmula, método ou forma de pensar que propicie o aparecimento de novas ideias?
Em Where good ideas come from, Steve Johnson tenta encontrar essa resposta. E conclui que as boas ideias surgem quando diferentes intuições se confrontam. Como criar ambientes propícios a que tal aconteça? Um bom método é criar espaços para que gente com formações diferentes se encontre. Em Copenhaga, três ministérios criaram o MindLab, em que cidadãos são convidados a desenhar novos serviços públicos. A Google permite que os empregados usem vinte por cento do tempo a criar projectos além das suas funções - o Android nasceu assim. Ao contrário do que se ensina nas escolas de gestão, não é nas reuniões formais que se inova. A cafetaria da empresa é mil vezes mais importante do que a sala de reuniões.
Que conselhos daria aos empresários para terem sucesso?
Entrar num mercado em crescimento, onde seja possível fazer algo de verdadeiramente novo. Saber explicar a novidade em poucos segundos. Escolher uma boa equipa, começar pequeno, controlar bem os custos e a tesouraria. Escolher clientes exigentes. Não é um sprint, é uma maratona. Encarar cada «não» como uma pergunta. Ser flexível.
O que define e como se mede uma inovação?
Inovar é imaginar novos futuros possíveis. Quem inova é empreendedor e move-se pelo desejo de deixar uma marca. O economista austríaco Joseph Schumpeter foi o profeta da inovação. Destruição Criativa foi o nome dado a este processo de alterar o statu quo.
Uma inovação dá sempre dinheiro?
Não, inovar implica incerteza. Muitas inovações chegam antes do seu tempo. O primeiro tablet chamava-se Newton, foi lançado pela Apple em 1989 e foi um flop. Doze anos depois, o iPad conquista o mundo.
Quais são os negócios de futuro em Portugal?
Serviços e produtos a pensar no mercado dos seniores. Negócios na área do ambiente, da eficiência energética e da reabilitação urbana. Creio que é daí que virão muitos dos novos empregos.
Costumamos falar do desenrascanço português, desenrascar pode ser sinónimo de inovar?
Os portugueses são criativos, trabalhadores e adaptam-se facilmente a novos contextos. Desenrascar é uma mais-valia, mas cria excesso de confiança. Vale a pena planear. Os planos quase nunca se cumprem, mas ajudam a arrumar ideias, a identificar pontos francos, erros e objectivos.
Quando é que os portugueses foram mais inovadores? E o que é que nos faz falta agora?
Quando se abriram. Quando, confrontados com desafios difíceis, souberam mudar. Temos hoje gente mais qualificada e com mais mundo, empresas muito boas, cientistas de nível mundial e infra-estruturas de comunicações ao nível as melhores do mundo. O que falta? Confiança e capital social. Valorizar o conhecimento. Portugal tem um défice enorme de capital social, fraca mobilidade social e uma enorme incapacidade de gerar consensos sobre o futuro. A Suécia é o que é porque empresários e trabalhadores souberam construir em conjunto. Portugal não tem uma elite comprometida com o seu país, com coragem de intervir na política. Falta valorizar quem empreende, quem cria emprego.
Quem é o político português mais inovador de todos os tempos?
O infante D. Henrique.
Foi conselheiro do Presidente Cavaco Silva para esta área, o que fazia exactamente?
Acompanhava a actividade legislativa do governo e do Parlamento nas matérias ligadas à sociedade do conhecimento. Sugeria iniciativas sobre inovação, aconselhava, fazia a ponte entre a sociedade civil e a Presidência. Tive a responsabilidade da página do Presidente, que entrou no ar no momento da sua tomada de posse.
Já foi deputado e vice-presidente do PSD - continua ligado ao partido. A política portuguesa é um ambiente favorável à inovação?
A política portuguesa está sedenta de inovação. Os partidos deviam assumir-se como plataformas abertas de construção do futuro e não como grupos fechados. Deviam estar mais próximos das populações, abrir espaço a gente com vontade de participar, para além dos formatos tradicionais.
Em que medida é que a inovação é mais crucial, por exemplo, para Portugal do que para a Alemanha?
Para Portugal, a situação é de emergência. Vender mais e mais caro ao exterior implica incorporar mais conhecimento e mais design nos produtos, capitalizar as empresas, diminuir os custos e redobrar os apoios em I&D. A Alemanha é a quarta economia mundial e vai liderar a retoma europeia. Mas até a Alemanha está a mudar. Em Berlim e Munique, o que vemos? Um ambiente multicultural fantástico, atracção de talento de todo o mundo, confiança no futuro... Apesar dos cortes na despesa, a Alemanha vai fazer o maior aumento de sempre no investimento em inovação: mais 16 mil milhões de euros para educação e inovação, um aumento de dez por cento.
É director na Cisco, em Londres, e a sua vida é viajar pelo mundo de um lado para o outro. Que países estão a lidar melhor com os desafios do futuro e onde encontrou melhores exemplos?
Não é preciso ser grande nem central para inovar. Ninguém é demasiado pequeno ou periférico. Os finlandeses, por exemplo, querem dominar no design. Não só industrial mas de serviços. Fundiram três universidades - gestão, engenharia e design - para criar a Alvar Aalto University, que quer ser a primeira universidade de inovação no mundo. O design será neste século o que o marketing foi no século xx. Quando falamos de design, falamos de envolver o cliente na criação do produto. Os focus group já não chegam. Se levarem a sério este desafio de criar com e não para, as empresas vão precisar menos de MBA e mais de antropólogos. Israel é um outro exemplo. Há quarenta anos exportava laranjas e têxteis de baixo valor. Hoje, 53 por cento das exportações são alta tecnologia. É o segundo país mais atraente para capital de risco, o maior investidor mundial em I&D per capita, o primeiro não-americano com empresas no Nasdaq. Uma verdadeira start up nation. Um dos grandes responsáveis por isso foi Yigal Erlich, chief cientist nos anos 1990. Lançou o Yozma que atraiu para Israel a nata do capital de risco mundial. Passou de três a oitenta fundos de capital de risco e de 350 a 3500 start ups tecnológicas.
Na semana passada, esteve em Lisboa para uma reunião de investidores de capital de risco. Será por aí o nosso caminho?
Uma política de inovação mais ambiciosa e radical - um verdadeiro restart - passa essencialmente pela criação de espaço para os novos empreendedores e, em especial, para os mais radicais. Portugal tem de ser um paraíso para os empreendedores ambiciosos, pois só um surto de novas iniciativas empresariais pode criar emprego e abrir perspectivas de futuro. Sem capacidade de se financiarem no exterior e pouco capitalizadas, milhares de empresas podem asfixiar. A inovação incremental destrói emprego, pois estamos a pedir às empresas para serem mais produtivas e isso significa que uma parte da sua eficiência passará por menos gente. Só a inovação radical diminui o desemprego: novas empresas, novos produtos, novos mercados. Todos os estudos evidenciam que essas empresas criam mais emprego, mais qualificado e exportam mais. A nossa política económica devia estar voltada para isso: fazer de Portugal uma start up nation. A actual crise custou à Europa seis milhões de empregos e muitos desses postos de trabalho não vão voltar. É indispensável estimular novas fontes de crescimento. A Europa tem um grande défice de empresas inovadoras, jovens e de crescimento rápido. Nos EUA, entre 1992 e 2005, 64 por cento dos empregos foram criados por empresas com menos de cinco anos.
Como é que a Europa pode encurtar essa distância em relação aos Estados Unidos?
Há dois tipos de inovação, a incremental e a radical. A primeira é fazer cada vez melhor, mais com menos recursos. A Europa é boa nisso. A segunda, significa inventar o futuro. Aqui, os americanos dominam. Veja-se os telemóveis: foram as universidades e as empresas europeias a desenvolver o standard GSM e até há pouco a Europa era rainha e senhora neste mercado. Mas a Apple introduz o iPhone e um mercado totalmente novo, de centenas de milhares de aplicações. A Google reage com o Android, hoje com mais adesões diárias. Em escassos anos, a liderança mundial deste mercado passou para o outro lado do Atlântico, para a Califórnia, o lugar onde nada é impossível.
E onde fica a Europa?
Os programas de investigação europeus - cada vez mais burocráticos - favorecem as grandes empresas de hoje e ignoram as grandes empresas de amanhã. A prioridade europeia devia ser uma nova vaga empreendedora, capaz de criar um novo optimismo e um renascimento económico e social. É vital reforçar o mercado interno, criar um mercado único europeu para a inovação, acabando com a fragmentação actual.
Como?
Olhe, reduzindo drasticamente a complexidade e custos das patentes. Obter uma patente nos 27 países da União Europeia é 15 vezes mais caro do que nos EUA. E precisamos de aumentar o investimento em capital de risco. Os bancos mostram-se relutantes em emprestar a empresas sem colateral, pelo que o papel do capital de risco é decisivo para financiar as empresas. Ora, as empresas com potencial para se internacionalizar têm acesso muito limitado, pois a maior parte dos fundos de venture capital na Europa são pequenos.
Faz parte do grupo Innovation Union (União da Inovação) - que funciona junto da Comissão Europeia. Já conseguiu convencer Durão Barroso e a Comissão das vantagens de apoiar ideias inovadoras em vez de auto-estradas?
A Europa tem de passar das auto-estradas para as redes do futuro: banda larga e redes eléctricas inteligentes. Essas redes são a chave para novos empregos e novos mercados e para a redução de custos. Mas sem novos serviços, a apetência por estas redes ficará muito aquém do seu potencial. O grande driver do progresso terá de ser a criatividade de consumidores e empreendedores. Assim serão criados novos modelos de negócio e estímulo a novos padrões de consumo. Nos anos 1980 e 1990, a agenda da inovação esteve focada exclusivamente nas empresas. Hoje, a Europa precisa de mobilizar a criatividade colectiva para melhorar a capacidade de inovação e responder aos desafios sociais do nosso tempo: o envelhecimento, o desemprego juvenil e a redução das emissões de carbono.
Como é que isso se faz, se temos cada vez menos orçamento e uma enorme pressão para reduzir o défice?
Cortar nos desperdícios é fundamental, mas não chega: fazer mais com menos implica inovar radicalmente. A forma mais fácil de reduzir o défice é cortar nos salários e eliminar e reduzir serviços públicos. A forma mais inteligente é mobilizar a sociedade para criar novas soluções para as questões sociais. Em vez de reduzirmos a oferta de serviços públicos, devemos reduzir a procura. Como se faz? Prevenir o crime fica mais barato do que pôr mais polícias na rua. Se melhorar a autonomia dos doentes com doenças crónicas, estes não precisam de ir constantemente ao hospital. Um tempo de crise deve ser um tempo de criatividade social. E teremos uma nova lógica - sociedade do bem estar (welfare society) e não Estado de bem estar (welfare State). Se se acreditar que o Estado não tem o monopólio do serviço público, pode devolver-se o poder aos cidadãos.
Acha que alguém consegue ter boas ideias neste ambiente deprimido?
Muitas das empresas de sucesso foram criadas em períodos de crise. E todas as grandes recessões do passado foram seguidas por mudanças radicais na estrutura industrial. Na economia privada, o crescimento terá de vir das exportações. Num mundo ligado, os cidadãos de todo o mundo são clientes potenciais e recursos de alta qualidade podem ser encontrados em todo o mundo. Ou seja: nenhum país é, à partida, demasiado pequeno ou periférico. Veja-se a Holanda, a Suécia, a Dinamarca: são países pequenos mas abertos ao mundo, com empresas líderes em múltiplos sectores, um ambiente favorável ao empreendedorismo e uma cultura de rigor, de aposta permanente na ciência, na inovação e na criatividade.
Como é que podíamos estar a aproveitar esta crise do ponto de vista da inovação?
Apostando nos sectores que vão criar mais empregos: ambiente, envelhecimento, reabilitação urbana, indústrias criativas, manufactura flexível. Tornando o Estado um sistema aberto, para permitir colaboração e a criação de novos mercados. Usando o poder aquisitivo Estado para estimular a inovação. Na União Europeia, a contratação pública representa 2,155 mil milhões de euros, o equivalente a 17 por cento do PIB europeu. Nos EUA, o programa de compras do governo federal gera cerca de 1800 novos produtos anualmente, a maior parte dos quais desenvolvidos por PME inovadoras. Sugeria ainda consagrar pelo menos um por cento do orçamento de cada ministério a fundos de inovação social, destinados a financiar as melhores ideias para fazer mais com menos. Nos EUA, foi lançada uma série de fundos desse tipo pelo governo, os quais têm mobilizado milhares de projectos e financiamento privado. Vale a pena, pois, estudar os vários fundos de inovação social lançados em vários países.
Sente que o mundo está, de facto, a mudar de paradigma? Para que paradigma?
Um mundo mais com e menos para. De organizações como hierarquias a organizações como redes. De uma autoridade do topo para baixo a uma autoridade que se ganha pelo respeito entre os pares. De um mundo onde o valor nasce apenas da transacção ao mundo onde se cria valor pela relação. De políticos que falam para nós, para um mundo em que a política é uma conversação. Esta mudança significa que o futuro pertence às marcas, organizações e líderes que se assumirem como plataformas abertas, em que possamos participar na criação do futuro.
Os últimos acontecimentos no Médio Oriente enquadram-se nesse novo paradigma?
Sim. A informação está acessível, a expectativa de participação cresce sobretudo por parte de uma nova geração que não se resigna perante a corrupção e o nepotismo. Tenho andado pelo Médio Oriente e constato que a cultura ocidental é bem mais presente lá do que se imagina. Um dia veremos esta vaga inundar África.
E a manifestação de jovens que está marcada para dia 12 em Lisboa e no Porto também?
Creio que sim.
«Para nós, era inovar para sobreviver»
Isto da inovação é uma paixão. Como é que apareceu na sua vida?
O Rui Marques convidou-me para director adjunto da Forum Estudante, estava a terminar o curso de Direito. Tinha a paixão pelo jornalismo e não hesitei. Pouco depois, a Media Capital decidiu vender a revista e resolvemos assumir nós o projecto. A partir daí, aprendemos a inovar para sobreviver. Não tínhamos estudos sobre o assunto nem a inovação estava «na agenda». Se fizéssemos diferente podíamos competir com quem tinha escala. Assim fizemos, na área do múltimedia e da internet. Mais tarde, lancei a Ideias & Negócios para mostrar um Portugal inovador que não tinha lugar nas revistas económicas e iniciar uma pequena revolução cultural. A revista do «Despeça-se já!» mostrava um Portugal de novos empreendedores, gente com brilho nos olhos, grandes sonhos e ambições. Na ANJE, lancei a Academia dos Empreendedores para aproximar a universidade deste mundo.
Quando lhe fizeram o convite para ir para a Cisco, em Londres, ponderou ou aceitou rapidamente?
Aceitei rapidamente, pois gostei muito do desafio. Vim para Londres em Fevereiro de 2007. Estes quatro anos foram fantásticos e passaram num ápice.
Continua próximo do PSD. Considera regressar e voltar à política?
Não conto regressar à política partidária activa, mas mantenho um empenhamento activo no seio da sociedade civil.
«O direito ao emprego não existe»
Está a par da geração Deolinda e do movimento dos precários? O que lhe parece?
Compreendo a insatisfação e a revolta perante um sistema feito para proteger quem está. Mas, ao contrário do que diz a letra, quem estuda não é parvo, é inteligente. Estudar não é uma forma de obter emprego, é uma actividade indispensável e uma atitude permanente numa sociedade do conhecimento. Ainda mais em Portugal, onde quem tem licenciatura tem ganhos enormes face a quem não é qualificado. O emprego precário cresce porque se teima em manter uma enorme desigualdade entre quem está fora e quem está dentro do sistema.
Do ponto de vista da inovação não há direito ao emprego. Pois não?
Não tenho direito a emprego nem ele é para toda a vida. Se não está disponível, devo poder criar o meu emprego. Quanto ao governo, o que tem feito é piorar a situação: massacra os recibos verdes com impostos, regulamenta até ao limite os estágios, não facilita a contratação nem reduz os custos do emprego para as empresas. Sem perspectivas de emprego, ou os desempregados criam o seu emprego ou emigram. A opção mais fácil para os mais qualificados e mais jovens é emigrar. Aqui em Londres nunca se viram tantos portugueses, cada vez mais jovens e mais qualificados. O mundo está cheio de oportunidades.
Qual seria a sua bandeira se fizesse hoje uma manifestação?
Há dois anos, lancei com Geoff Mulgan e outros amigos um manifesto intitulado Fixing the Future. Mantém-se actual. Não basta corrigir o passado, é preciso preparar o futuro. Isso significa promover a inovação social, fomentar o empreendedorismo e focar os recursos escassos nas actividades que irão criar mais empregos. Tudo isso implica uma ruptura com a lógica actual. A dicotomia Estado/mercado está ultrapassada. Precisamos de reforçar as capacidades da sociedade encontrar novas respostas. É possível criar emprego e simultaneamente dar resposta a necessidades sociais.
in NS
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