As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Monday, November 14, 2011

DESENVOLVIMENTO PELA INOVAÇÃO


“O interior tem de deixar de esconder a solução que tem para o país.” É assim que Frederico Lucas aborda o desafio. Consultor de desenvolvimento territorial e um dos mentores do projeto Novos Povoadores, este lisboeta mudou-se para Trancoso, na Beira Alta, em 2005. A mudança fazia sentido. “Nós adaptamo-nos depressa à vida barata”, graceja. Só a renda de casa baixou dos 850 euros, em Lisboa, para os 300, em Trancoso. Com a diferença de que na vila beirã a casa é um prédio inteiro, de 12 assoalhadas. Custos com escolas para os filhos ou alimentação são também incomparáveis, para não falar da qualidade de vida em termos sociais e ambientais, que só se encontra nas cidades mais pequenas.
Os Novos Povoadores têm já registadas 750 famílias interessadas em sair dos grandes centros para se fixarem no interior. O alvo privilegiado do projeto são profissionais liberais ou pequenos empresários cujo trabalho pode perfeitamente ser feito à distância graças às tecnologias de comunicação e informação. Quadros médios em regime de teletrabalho podem também viver fora dos grandes centros e mesmo assim manterem-se ligados às suas organizações. A vantagem destes novos habitantes é reavivarem zonas desertificadas, gastando localmente a riqueza que obtêm com os seus clientes ou as suas organizações em Lisboa ou no Porto. Deste modo,  dinamizam a economia local, animando o comércio e os serviços.

Cada vez mais, as autarquias estão atentas a estas formas inovadoras de atrair massa crítica. A política de fixar pessoas com subsídios ou emprego público não foi suficiente para impedir a desertificação das regiões periféricas, pelo que agora se procuram novas soluções. Está na hora de rentabilizar os investimentos feitos nos últimos anos em equipamento, aquilo a que Frederico Lucas chama o “hardware territorial”: as estradas, hospitais, centros desportivos e culturais construídos no interior asseguram uma qualidade de vida difícil de encontrar nos grandes polos.

Agora, é só aproveitar estas estruturas. “Já vencemos a fase do hardware territorial, agora precisamos do  software territorial”, diz o consultor. Esse software são as competências, os talentos e as capacidades que podem fixar-se nestes locais com potencial de desenvolvimento. “Neste momento já temos as condições tecnológicas”, aponta Frederico Lucas. “Só falta o clique social.” Para esse clique, os exemplos de sucesso dos que estão a dar o salto são vitais para despertar vontades. Quanto ao resto, sublinha o mentor dos Novos Povoadores, “é muito importante que haja um encontro de interesses entre o poder local, as empresas e as universidades de cada região”.

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