O espertalhão Warren Buffett que, sendo o homem mais rico do mundo, sabe bem o que é uma paródia despediu-se dos mercados anunciando o que já toda a gente sabia: “A festa acabou”. Acabou? Perguntarão muitos para quem ela nem sequer tinha começado. Ingénuos. Serão eles e não o senhor Buffett que a vão pagar.
Outro que sabe de festas é Alan Greenspan. Reformado do Banco Central americano dedica-se agora a atormentar os outros. Veterano na gestão de crises afirmou há dias que a actual pode ser a pior desde a II Guerra Mundial. Será que o mago descobriu na bola de cristal aquilo que meio mundo político e académico anda à procura? Bom, é que se for verdade a festança vai ficar-nos pelos olhos da cara.
A comparação é inevitável, embora o senhor Greenspan cautelosamente a tenha evitado. Sem o mencionar, estava a referir-se à ‘grande depressão’ iniciada em Outubro de 1929, o primeiro “acontecimento verdadeiramente mundial”, segundo o historiador JMRoberts. Numa perspectiva económica foi a maior tragédia do século passado e sabemos quanto custou.
Sem ser exaustivo, para não assustar, custou 30 milhões de desempregados e uma quebra de rendimento nacional só nos Estados Unidos de 39%. Demorou sete anos a controlar e atingiu o pico três anos depois do seu início, em 1932. Dez anos depois, em 1939, o comércio internacional ainda era 50% inferior ao existente no início da crise. Foi nesse ano que Adolf Hitler decidiu dar cabo do resto.
É disto que o senhor Greenspan está a falar? Ninguém sabe, a começar por ele. E esse é um dos problemas da crise financeira revelada em Agosto do ano passado. Todos os dias aparecem novos cálculos sobre as perdas originadas no chamado «sub prime». Nos Estados Unidos variam entre 750 mil milhões de dólares e um montante três a quatro vezes superior. É um rombo de dimensão histórica nos activos das famílias americanas, que serão as primeiras vítimas.
Somemos a isto a falência de dois bancos, dificuldades graves em muitos outros, permanentes injecções de liquidez para evitar o colapso, 19 mil despedimentos já anunciados em apenas duas instituições financeiras, recessão nos Estados Unidos e inflação em alta nos dois lados do Atlântico. Uma mistura explosiva que torna ainda mais incerto determinar a gravidade da crise e a respectiva duração.
Há uma garantia. Será uma grande e dolorosa ressaca de um festim que misturou dinheiro à descrição, crédito fácil, ausência de controlo de risco e de supervisão. Outra. Vai afectar-nos mais a nós, que não temos nada a ver com o «sub prime», do que ao senhor Buffett.
in EXPRESSO, Luís Marques
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