As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Sunday, February 24, 2008

Glocal: Projecto que permitiu criar 56 empresas no Vale Douro Norte vai ser exportado para a Polónia e Cabo Verde

Vila Real, 23 Fev (Lusa) - O projecto Glocal, uma iniciativa que já ajudou a criar 56 pequenas empresas no Vale Douro Norte, vai ser "exportado" para a Polónia e Cabo Verde, disse hoje à Lusa, em Vila Real, a sua coordenadora.

Segundo Cristina Coelho, o projecto é também um dos parceiros do Governo português na recuperação urbanística e reinserção urbana de dois bairros críticos da capital, o da Cova da Moura e o do Vale da Amoreira, que está hoje a ser apresentada em Lisboa.

Quando Cristina Coelho arrancou com o Glocal - Empresas Locais com Orientações Globais, em 2002, estava longe de imaginar o sucesso do seu projecto e a sua internacionalização, que se vai concretizar já este ano.

O reconhecimento europeu da iniciativa chegou em Outubro, com a atribuição do Prémio Europeu para a Iniciativa Empresarial, no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia.

O Glocal pretende facilitar a criação de pequenas empresas e de novas oportunidades de emprego, disponibilizando um conjunto de serviços e metodologias, desde o Sistema de Microcrédito para o Auto-emprego e Criação de Empresas (SIM) ao "Programa de Mentores Voluntários" e o "Sistema de Apadrinhamento".

A eficácia do projecto, no âmbito do qual foram criadas 56 empresas, entre 2002 e 2007, nos municípios do Vale do Douro Norte, vai levar à sua exportação para alguns países do Leste Europeu, como a Polónia, ou africanos, como Cabo Verde.

"Estamos a fazer planos de acção, a preparar os projectos e a sua adaptação a outras realidades", afirmou Cristina Coelho.

Acrescentou que o produto foi concebido para o Vale do Douro Norte, um território com características fortemente rurais, com uma forte aposta nos produtos endógenos e onde as pessoas se conhecem e confiam umas nas outras.

Na Polónia, que poderá servir de ponto de partida para a disseminação do Glocal por outros países de Leste, o projecto vai começar por ser implementado numa região-piloto.

Numa ilha de Cabo Verde vai ser dado o arranque da iniciativa naquele país africano, onde o Glocal foi recentemente convidado a integrar uma parceria com vista à promoção e apoio ao empreendedorismo.

Em finais de 2007, foi a vez do Governo português convidar a Glocal a integrar um projecto de qualificação e de reinserção urbana dos bairros críticos de Lisboa, que está a avançar com dois bairros-piloto, nomeadamente da Cova da Moura e do Vale da Amoreira.

O Glocal é um dos parceiros de uma comissão interministerial criada para o efeito e está já, segundo Cristina Coelho, a trabalhar num plano de acção direccionado para aqueles bairros.

"Este conjunto de soluções que nós concebemos e que temos formatadas para poderem ser vendidas e disseminadas por outros espaços, podem ser perfeitamente adaptáveis a essas regiões", salientou.

O secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, João Ferrão, apresentou hoje na Cova da Moura e no Vale da Amoreira o projecto de recuperação urbanística daqueles dois bairros.

Mais de sete milhões e meio de euros vão ser investidos na Cova da Moura (Amadora) e no Vale da Amoreira (Moita), num projecto de recuperação urbanística e integração socioeconómica dos moradores coordenado pelo Instituto de Habitação.

A iniciativa envolve oito ministérios, bem como outras entidades governamentais e não governamentais, de base nacional, regional e local, num total de mais de 90 entidades, entre as quais o Glocal.

Cristina Coelho explicou à Lusa que "o SIM, que já está disponível em cerca de 50 concelhos, é um financiamento de 75 por cento do investimento até ao montante máximo de 25 mil euros, a uma taxa de juro próxima dos cinco por cento, com prazo de reembolso até cinco anos".

"É muitas vezes a única forma destas pessoas, sem recursos económicos, poderem criar o seu próprio emprego", salientou.

Em 2006, concretizou-se a disseminação da rede "SIM na Minha Terra", contanto com a parceria da Federação Nacional de Associações de Desenvolvimento Local.

"O SIM ainda não tem qualquer crédito mal parado, não tem qualquer irregularidade e tem, neste momento, sete milhões de euros disponíveis para apoiar iniciativas até 25 mil euros cada uma", sublinhou a coordenadora.

Mais tarde foi criado o Programa Premium que, segundo Cristina Coelho, funciona como um guia metodológico de implementação da iniciativa, ajuda no mapeamento de oportunidades, promove ateliês de ideias e a formação inicial dos empreendedores.

Em 2007, o Glocal arrancou com o "Programa de Mentores Voluntários", que promove o apoio voluntário do empresariado local a novos empreendedores na fase de projecto e arranque dos seus negócios, ou seja, apoia-os nos primeiros passos como empresários, através da partilha do seu conhecimento e experiência no mercado e na gestão de uma empresa.

O "Sistema de Apadrinhamento", é uma metodologia inovadora que concilia o financiamento e transmissão de competências empresarias, ou seja, "numa óptica de responsabilidade social, as empresas locais contribuem para a criação de novas empresas e para o aumento da riqueza e desenvolvimento da região", acrescentou a coordenadora.

"Estes programas correram muito bem e, por isso, este ano vão ser transformadas num programa nacional, em parceria com o IAPMEI", salientou Cristina Coelho.

A coordenadora frisou que se trata de soluções de empregabilidade, destinadas a quem está desempregado ou a quem tem emprego precário.

Brevemente vai decorrer, em Vila Real, a "Galeria de Negócios", uma iniciativa onde os empreendedores terão oportunidade de apresentar os seus negócios à comunidade, entidades e instituições.

Cristina Coelho faz um balanço "muito positivo" do projecto e salientou a cooperação entre os empreendedores.

"Temos a Susan a vender, através da sua empresa, produtos transmontanos no Estados Unidos da América, que compra ao Miguel, de Murça. Por sua vez, o Paulo criou uma empresa de informática que presta serviços às outras empresas", frisou.

Segundo a responsável, a iniciativa possui, neste momento "100 empreendedores para atender e está sem recursos para o fazer".

Por causa disso, e porque considera que o projecto necessita de ganhar dimensão e de se institucionalizar, o "grande objectivo" para 2008, é a criação de uma "estrutura de âmbito regional", que espera ver concretizada ainda durante o primeiro trimestre do ano.

"Queremos transformar esta região na mais dinâmica a nível do empreendorismo em Portugal", afirmou.

O Glocal conta com a parceria da Superação SPA Consultoria, da Associação Empresarial Nervir, da Cooperativa Cultural Voz do Marão, da Alto Fuste - Consultoria Agrária e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro .

in Lusa, PLI

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