"Com problemas graves de desemprego no país, PT desloca serviços para a Índia”. Era este o título de uma nota ontem enviada às redacções pela Comissão de Trabalhadores da Portugal Telecom.
Pedro Marques Pereira
O assunto é sério e mobilizará os adeptos dos centros de decisão nacionais nos próximos dias. Afinal, dirão, não é este um dos pilares fundamentais da economia portuguesa que urge proteger à força de acções douradas se necessário? É um debate distorcido que se resume de forma lapidar na primeira metade do título do comunicado, em que se conclui que em época de dificuldades económicas, caberia a empresas como a Portugal Telecom zelar pela manutenção dos índices de desemprego a níveis simpáticos.
É uma visão de um mundo que há muito deixou de existir, em que as empresas viviam fechadas em mercados protegidos. Mantinham muito emprego, é verdade, mesmo quando não havia trabalho. Mas à custa de ineficiências pagas pelos clientes em preços mais caros e na qualidade dos serviços. A concorrência foi o remédio encontrado para obrigar as empresas a mudarem. Para não engordarem à custa dos seus clientes. Para procurarem vantagens competitivas em qualquer parte do planeta e desenvolverem os serviços que mais ninguém consegue oferecer.
Foi, de resto, essa pressão competitiva – e no sector das telecomunicações mais do que em qualquer outro – que tornou possível que hoje as empresas possam ter funcionários a trabalhar na Índia ou na China. O saldo dessa revolução não pode senão ser considerado positivo por qualquer observador de boa fé. Em primeiro lugar – paradoxalmente – por um dogma marxista que os pensadores das esquerdas solidárias do ocidente não gostam de lembrar: permitiu retirar da pobreza extrema centenas de milhões de pessoas naqueles países.
Num ponto de vista mais egoísta, os benefícios da globalização são igualmente inquestionáveis para as economias ocidentais, já que estes países do chamado Terceiro Mundo se tornaram em verdadeiros motores da economia mundial. Hoje, sem a China, a Índia, toda a bacia do Pacífico, o Brasil e até alguns países africanos a puxar pela economia mundial, as perspectivas para o desemprego em Portugal – a começar pelos trabalhadores da Portugal Telecom – seriam bem mais sombrias.
Neste cenário, as empresas não têm verdadeiramente uma escolha: ou fazem melhor uso destas armas do que os concorrentes, ou serão engolidas. Se fosse a Comissão de Trabalhadores a mandar na empresa, num prazo mais rápido do que se imagina deixaria de existir Comissão, porque deixariam de existir trabalhadores.
Seria melhor que seguissem o exemplo dos seus patrões, que se globalizassem e abrissem uma filial na Ásia. É lutando pela melhoria das condições sociais na Índia, recuperando o lema da solidariedade da classe operária, e não engordando os direitos adquiridos em Lisboa, que conseguirão manter algumas regalias – e os próprios empregos – em casa.
in DiarioEconomico.com
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