As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Monday, December 23, 2019

"Saúde e harmonia também dão jeito"

Recebemos do António e da Ana esta mensagem que entendemos partilhar.
O António é um fotógrafo de excepção e a Ana escreve com uma suavidade que enternece.

Viviam em Espinho e migraram para uma aldeia de Bragança.
Conhecemos-los através de um blog - The Quality Times - que é um tónico para a alma!

"Temos um vício incurável: o de estar sempre à procura de novos caminhos para calcorrear, sempre com curiosidade para saber o que está para lá da próxima curva.
É esta a nossa resolução para 2020: explorar mais, descobrir lugares novos, quebrar a rotina, procurar um sentido nos dias, esforçar-nos cada vez mais para manter este belo planeta que temos.
São também estes os nossos votos para cada um de vós.

Saúde e harmonia também dão jeito. Esperamos que as tenham em abundância."

Charles Leadbeater defendia no seu livro "We think" que somos o que partilhamos.
E nós, promotores de uma ruralidade sustentável e inclusiva, gostamos de partilhar as coisas boas que chegam até nós.

Se tiver curiosidade, e através do link do blog, poderá conhecer o novo projecto turístico desta família chamado "Bétula Studios" (fotografia).

Votos de um natal junto dos seus, e se for numa aldeia, tanto melhor!

Friday, October 18, 2019

"Portugal Inovação Social está a mudar a forma como as instituições se relacionam"

Filipe Almeida nasceu em 1974, em Coimbra (Portugal) e é atualmente Presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, a entidade que assegura a coordenação e a gestão da iniciativa governamental Portugal Inovação Social criada com o objetivo de promover a inovação e o empreendedorismo social e dinamizar o mercado de investimento social em Portugal. Trata-se de um programa pioneiro na Europa e no mundo que mobiliza, para o cumprimento da sua missão, cerca de 150 milhões de euros de fundos da União Europeia.

Decorridos três anos de concursos para o financiamento de iniciativas de empreendedorismo e inovação social, que resultaram na aprovação e financiamento de mais de três centenas de projetos, esta iniciativa é responsável pela mobilização de centenas de entidades da economia social, empresas privadas e entidades da Administração Pública central e local que atuam em estreita colaboração, experimentam e desenvolvem soluções inovadoras para os problemas sociais do presente e do futuro.

Ruraltalks: A inovação social parece ser um dos eixos principais dessa transformação. Quem são os atores privilegiados para operar esta mudança de paradigma?
Filipe Almeida (FA): Vivemos um tempo de profunda transformação na forma como nos organizamos para responder aos problemas emergentes que enfrentamos. A inovação social sempre existiu, mas nas últimas décadas democratizou-se. A possibilidade de experimentar e desenvolver soluções inovadoras para responder a problemas sociais alargou-se a toda a sociedade civil. Como nunca no passado, temos hoje condições únicas que permitem a um número muito significativo de empreendedores e de organizações sociais prosseguir com eficácia o seu desígnio de melhorar o modo como vivemos. Mas nada se alcançará ou consolidará sem parcerias sólidas entre os setores público, privado e social. É nesse cruzamento que está o futuro. E portanto os atores privilegiados para operar a mudança de paradigma são as organizações e as pessoas que em cada um destes três setores entenderem a fundamental importância desta parceria a favor de uma compreensão mais profunda dos problemas coletivos, da experimentação de novas respostas sociais e de novas políticas.

Ruraltalks: Portugal Inovação Social: O que é?
FA: É uma iniciativa pública do governo português criada no âmbito do acordo de parceria com a Comissão Europeia designado “Portugal 2020”, que mobiliza, numa experiência pioneira na Europa, cerca de 150 milhões de euros do Fundo Social Europeu para promover a inovação social e o empreendedorismo social, dinamizando simultaneamente o investimento social e as parcerias entre investidores (públicos e privados) e organizações empreendedoras que propõem abordagens inovadoras para responder a problemas sociais. Tudo isto feito através de novos instrumentos de financiamento alinhados com as necessidades específicas deste setor emergente.

Ruraltalks: A União Europeia reconheceu em Portugal um ecossistema inovador para a implementação de programas piloto para a Inovação Social.
Em que consistiu esse reconhecimento?

FA: Temos atualmente em Portugal um dos ecossistemas de Inovação Social mais dinâmicos do mundo. Esse potencial foi reconhecido pela Comissão Europeia quando em 2014 aceitou reservar uma fatia dos Fundos Social Europeu para dinamizá-lo. E com este novo instrumento de política pública para o apoio ao empreendedorismo social foram criadas condições para experimentar novas respostas sociais para alguns dos mais exigentes desafios.

Ruraltalks: Este é um programa pioneiro na Europa e no mundo: Portugal é o único Estado-Membro com esta política experimental para promoção da Inovação Social.
Como sintetizaria a missão deste programa público pioneiro em Portugal?

FA: Além de dinamizar novas práticas de investimento, de dar voz à sociedade civil e de fomentar a inovação com valor social, eu diria que iniciativa Portugal Inovação Social visa promover parcerias intersetoriais a favor da experimentação das novas políticas públicas. É este um dos seus mais importantes desígnios.
Caberá ao sector público validar e dar escala a estas novas abordagens.

Ruraltalks: A iniciativa PIS tem em funcionamento 4 linhas de apoio. Qual a que obteve maior nr de candidaturas e porque motivo?
FA: Para cumprir a missão da Portugal Inovação Social, criámos 4 instrumentos de financiamento, com dois pressupostos fundamentais: Cada um deles está orientado para responder às necessidades específicas de uma determinada fase do ciclo de vida de um projeto de inovação social; Todos pressupõem o desenvolvimento de parcerias entre investidores e as organizações empreendedoras.

Os objetivos e modelos de financiamento são muito distintos entre eles e portanto o número de candidaturas e projetos aprovados também é muito variável. No instrumento Capacitação para o Investimento Social, que visa financiar o desenvolvimento de competências de gestão nas equipas envolvidas em projetos de inovação social, aprovámos 201 projetos. No instrumento Parcerias para o Impacto, que financia projetos em parceria com investidores públicos e privados, aprovámos até agora 128 projetos. Nos Títulos de Impacto Social, que visa a contratualização de resultados sociais alinhados com prioridades de política pública e o reembolso dos investidores mediante o atingimento desses resultados, aprovámos 8 projetos. E no Fundo para a Inovação Social, um inovador instrumento financeiro que visa facilitar o acesso a crédito e a atração de investimento em capital, estamos a analisar as primeiras candidaturas, esperando que as primeiras operações sejam realizadas até ao fim deste ano.

Ruraltalks: E quais os parceiros mais relevantes para dinamizar o ecossistema de inovação social?
FA: Os municípios tornaram-se um dos principais parceiros no processo de mapeamento e de financiamento da inovação social. São já 84 envolvidos como investidores no cofinanciamento de projetos inovadores. Têm também um papel decisivo algumas fundações de grande impacto, com destaque para a Fundação Calouste Gulbenkian que é o maior parceiro da Portugal Inovação Social. As empresas e os grupos económicos estão também cada vez mais atentos e interessados.

Com este programa, já fomentamos centenas de parcerias de investimento social e Portugal tornou-se um imenso laboratório experimental de novas respostas sociais. E os números que referi vão aumentar rapidamente.

Ruraltalks: Título de Impacto Social: Um modelo de financiamento que revoluciona forma tradicional de apoio à economia social.
O Estado concedeu benefícios fiscais aos investidores num apoio claro a esta iniciativa.
Quais os resultados alcançados?

FA: Os Títulos de Impacto Social são uma das mais inovadoras formas de experimentar novas respostas em áreas prioritárias de política pública, em parceria com o setor privado e social, com baixo risco para o Estado. São contratualizados resultados sociais mensuráveis que um ou vários investidores privados se comprometem a financiar integralmente. Se essas metas forem alcançadas, os investidores são integralmente reembolsados. Para atrair mais capital para este tipo de projeto, foi criado um novo benefício fiscal que permite majorar em 30% todo o investimento em Títulos de Impacto Social, independentemente do seu reembolso futuro. Temos já 8 Títulos de Impacto Social aprovados em áreas diferenciadas: emprego; proteção social; educação; saúde. E até agora, todos os resultados contratualizados foram alcançados, o que é um excelente indicador do êxito destas novas respostas públicas.

Ruraltalks: Acredita que as empresas portuguesas estão preparadas para se assumirem como investidores sociais?
FA: É evidente a mudança de paradigma na forma como as empresas se relacionam com a sociedade e com o Estado. Mas é um processo mais lento do que pode parecer. Ainda temos em Portugal uma cultura de filantropia dispersa e não estratégica. Apesar disso, vejo todos os dias aumentar o número de empresas – grandes, médias e até pequenas – que procuram orientar os seus recursos e competências para projetos com impacto social, coerentes com a sua estratégia de negócio e alinhados com prioridades de política. Parece-me um processo irreversível e estou confiante que daqui a poucos anos a generalidade da filantropia será estratégica e poderemos todos, como sociedade, beneficiar desse alinhamento empresarial com as prioridades sociais.

Ruraltalks: Como vê o futuro depois desta experiência pioneira em Portugal?
FA: A Portugal Inovação Social é uma oportunidade única que tivemos a sorte, como país, de conseguir aproveitar bem. Agora é necessário consolidar a cultura de inovação nas organizações sociais, as práticas estratégicas de investimento social no setor privado, as políticas de inovação social de base local e, principalmente, fomentar intensamente o desenvolvimento de novas políticas públicas com base em evidências. Tudo isto está ao nosso alcance. Como desde o início, este é um projeto de construção coletiva do futuro. E assim deverá permanecer.

Entrevistado por Frederico Lucas, no âmbito da Feira Espanhola  para o Repovoamento Rural PRESURA

Monday, March 11, 2019

Como o crescimento do trabalho remoto vai mudar as zonas rurais

O crescimento do trabalho remoto vai mudar para sempre o equilíbrio populacional entre as cidades e as zonas rurais. Mais pessoas irão decidir morar no interior priorizando a qualidade de vida em detrimento da proximidade do escritório. As aldeias e vilas vão renascer com uma nova geração que quer viver em comunidade, ter filhos a brincar na terra e viver mais felizes junto da natureza.

Atualmente a maioria das pessoas que se move das zonas rurais para as cidades fazem-no devido à necessidade de encontrar emprego. A maioria dos empregos concentram-se nas grandes cidades, atraindo mais pessoas, mais trânsito, preços mais altos e mais empresas. É uma tendência que as zonas rurais nunca conseguiram combater apesar de todos os esforços do estado baseados em fundos comunitários e em turismo rural.

No entanto o crescimento do trabalho remoto por todo o mundo está a permitir a cada vez mais pessoas escolherem onde querem viver. Nos Estados Unidos, pioneiros neste movimento, 50% de todos os empregados trabalharam remotamente, de alguma forma, no passado ano. E 70% dos trabalhadores com menos de 40 anos diz preferir trabalhar remotamente a auferir um salário mais alto e muitas pessoas recusam terminantemente qualquer trabalho que não possa ser feito dessa forma.

Esta nova realidade traz muitos benefícios para as empresas, desde a redução de custos com escritórios no centro das cidades à atração e seleção do melhor talento disponível a nível nacional ou mundial uma vez que não terão de se cingir aos 30km ao redor do seu escritório.

Além disso, mais empresas serão criadas e geridas remotamente com a sua equipa distribuída pelo mundo, como já acontece em empresas como a Buffer, Github e a minha Remote-how. Estas empresas não têm um escritório, toda a equipa (centenas de pessoas) encontram-se distribuídas por todo o mundo, tendo liberdade total para escolher onde vivem.

Tendo liberdade de escolha, uma pessoa/família irá procurar o local que ache melhor para viver, desenvolver família com qualidade de vida, sem o stress e perigo das cidades, na natureza, junto de comunidades unidas que se irão apoiar e ajudar a desenvolver o local onde vivem.

Caberá então às aldeias, vilas e pequenas cidades organizarem-se e tornarem-se atrativas para estes millennials à procura de um bom sítio para viver. Existem fatores essenciais que terão de ser uma aposta forte tais como o acesso a uma internet rápida, vida cultural e espaços preparados para pessoas trabalharem (centros de negócios/espaços de coworking).

A Irlanda está a desenvolver um projeto muito interessante de “smart villages” onde ajudam vilas e aldeias que cumprem determinados critérios a desenvolver a sua rede de internet, abrir espaços de Coworking e atrair pessoas para se fixarem na comunidade. Como resultado já existem mais de 25000 trabalhadores remotos a tempo inteiro, espalhados por todo o país onde antes quase toda a força de trabalho se concentrava em Dublin.

O projeto é maravilhoso e um excelente exemplo do que vai acontecer no futuro noutros países que apostem no trabalho remoto. Itália está a posicionar-se para ser o próximo país a investir no seu interior para atrair trabalhares remotos. Quando irá Portugal preparar-se para esta realidade?

Os bons exemplos existem, as empresas nacionais estão a começar a contratar remotamente e muitas vão começar este ano a fazê-lo, as localidades que se adaptarem mais depressa e oferecerem melhores condições de vida vão vencer na atração dos primeiros trabalhadores remotos portugueses.

Tuesday, February 19, 2019

O Papel de Portugal na Europa

Os países do sul da Europa são conhecidos pelas praias, pelo sol e pela desorganização.

São os vizinhos de África: quentes, idealistas e inspirados pela percursão.

Viajar pelo centro da Europa é compreender o espaço de cada um, no território que Jacques Delors idealizou como único.
Bruxelas captou para sí a sede da Comissão Europeia, sofrendo do mesmo estigma que Lisboa tem em Portugal: esquecem frequentemente que não há governantes sem governados.

Por sua vez, os países do norte têm desenvolvido produtos mais complexos ligados à química, às tecnologias, maquinaria pesada e de precisão.

E Portugal? O que queremos ser? Qual o nosso papel no contexto EU?
Os subsidios para a agricultura induziram os portugueses em engano. A agricultura representa hoje menos que em 1985, quando entrámos para a União Europeia.
Existem excepções em alguns produtos, como o vinho e o azeite, mas genericamente a produção agricola perdeu importância e está muito longe de ser um sector promissor em Portugal.

No centro da Europa, falar de Portugal é sinónimo de tranquilidade, tolerância religiosa, temperaturas amenas, bons serviços de saúde e excelente gastronomia.
Em síntese, é o local onde os europeus gostam de estar.

Hoje, um europeu vive 20 anos em reforma. E quer passá-los com tudo aquilo que Portugal pode oferecer.
E nós temos tudo a ganhar com isso.

Quando foi criada a ASAE, Portugal gritou em protesto contra as medidas restritivas à produção e comércio alimentar.
Hoje, Portugal lidera os rankings europeus em controlo de higiene neste sector, garantindo qualidade da nossa restauração e hotelaria.

Vários investidores europeus adquirem em Portugal hoteis e casas senhoriais, para aí instalarem residências assistidas.
A sector imobiliário vive os melhores dias de sempre, com os estrangeiros a adquirirem quintas e aldeias para se instalarem.

E agora? O que podemos fazer para melhorar a nossa competitividade, e abondonar o crescimento ridiculo que se apoderou de Portugal?