Portugal vive um período particularmente difícil cuja principal atividade é a discussão: indústria da discussão.
A ausência de reformas estruturais promove custos incomportáveis para a economia nacional, visível no nível de endividamento externo, que aumenta incessantemente desde 1995. A gestão do território ocorre em duas dimensões, ambas inadaptadas ao contexto internacional: poder central e local.
Existe uma ausência de poder executivo intermédio.
Importa recordar que António Oliveira Salazar defendia o isolamento económico da nação, impedindo por isso que as empresas portuguesas atingissem dimensões competitivas a nível global. Passados 44 anos do 25 de abril, Portugal mantém a estratégia de autossuficiência visível nas várias capitais concelhias de produtos de consumo, maioritariamente alimentar.
Tal facto transforma Portugal numa maquete em grande escala das secções de supermercado.
Sair deste nó cego obriga-nos a observar os bons exemplos, nomeadamente os internos. Quando falamos do Vinho do Porto não estamos a referir-nos à cidade tripeira mas antes a toda a região duriense que compete taco a taco com as grandes regiões vinícolas da Europa. O mesmo acontece quando falamos de têxteis ou móveis, cujo músculo empresarial extravasa qualquer dimensão concelhia.
Por outro lado, alguém considerou que faria sentido definir o “interior” de Portugal como “cluster” do Turismo. Creio que se trata de uma estratégia com mais de 60 anos, época em que o despovoamento ainda era residual e o património edificado não concorria com a Idade do Alumínio e das Marquises, que degradou o ambiente estético desta enorme parcela do país.
Quando analisamos, por exemplo, a castanha, um produto promissor na alimentação dos europeus, verificamos que a região francesa de Ardèche tem uma estratégia territorial comum para esse produto. Essa região tem 5.000 km2 e 300 mil habitantes, uma dimensão semelhante ao território sob gestão das nossas Comunidades Intermunicipais.
Este é apenas um exemplo para ilustrar a minha visão para os polos de competitividade de Portugal Rural.
Precisamos dessas estratégias intermunicipais se queremos abandonar uma economia de mão-de-obra barata e pouco especializada. Para isso, reforçando aquilo que foi defendido por Pedro Lourtie no Movimento pelo Interior, precisamos de unir eleitos, empresários e investigadores numa estratégia intermunicipal comum.
Adicionaria, no entanto, a esta hélice tripla uma quarta dimensão: Sociedade Civil organizada.
Quem conhece o território rural sabe que as associações locais têm tanta ou mais importância que as empresas no desenvolvimento territorial. Sejam as Misericórdias ou as associações culturais, cuja ACERT é apenas um exemplo.
Bem sei que esta minha visão condiciona as estratégias senhoriais representadas na maioria dos 308 concelhos portugueses. Mas a mantermos esse modelo de gestão territorial manteremos os mesmos resultados que nos colocam na cauda da Europa.
Por Frederico Lucas