Trocou o Tirol, na Áustria, por Tabuaço, em Portugal, num piscar de olhos. Bastou uma visita à região para perceber as potencialidades turísticas. Thomas Egger casou-se com Maria de Fátima em 2000 e em 2003 inaugurava o restaurante Tábua D’aço. O casal conheceu-se na Suíça e o regresso às margens do Douro aconteceu por iniciativa do Chefe de cozinha austríaco. Oriundo de uma família ligada à hotelaria, passou por várias cozinhas internacionais mas foi em Portugal que decidiu investir. Juntou a experiência técnica aos segredos da cozinha portuguesa que aprendeu com a sogra e hoje tem um espaço familiar, marcado pela simplicidade, onde recebe clientes de todo o mundo.
Pratos típicos recheados de sabor
“Isto aqui não é gourmet”, diz com orgulho. “Fiz isso durante muitos anos na Áustria e não quero fazer mais. Existem outros restaurantes na região que fazem isso muito bem”. Thomas Egger prefere apostar nos pratos tradicionais, simples, mas com muito sabor. “Quem vem visitar a região quer experimentar o que é típico e genuíno”. O bacalhau com broa na telha é apenas um dos exemplos. Na ementa estão as azeitonas, a alheira, o javali ou o cabrito, sempre acompanhados por um toque de sofisticação e uma paisagem que nos alimenta a alma. Também há pratos internacionais, nomeadamente do Tirol, mas apenas para saciar a curiosidade de quem sabe a sua origem. Até a carta de vinhos tem escolhas da região porque é essa a “identidade” do restaurante.
O único Green Chef em Portugal
Thomas Egger integra a Associação Europeia de Green Chefs desde 2015. Dos 75 membros, é o único Green Chef em território nacional. A utilização de produtos orgânicos e ingredientes naturais é um dos conceitos desta rede de profissionais. “Compro produtos diretamente da horta. Para além da qualidade dos produtos, do seu sabor, é uma forma de contribuir também para a economia local”. Na cozinha deste Chefe há uma outra regra de ouro: desperdício zero. E no final do dia a comida confecionada que não foi vendida é sempre doada
As diferenças culturais
Disciplinado e rigoroso, Thomas Egger ainda estranha a forma descontraída como alguns portugueses encaram a vida. “Aqui há o hábito de não se cumprirem horários. Marcamos a uma hora e aparecem meia hora depois”, confessa entre sorrisos. Mas isso não belisca a sua paixão pelo país. Sente-se bem em Portugal, onde as pessoas são “simples e muito afáveis”. Apesar da desconfiança inicial, a qualidade e simpatia com que recebe cada cliente derrubaram as barreiras culturais.
“Escolhi os melhores produtos portugueses”
Azeite, vinho e rolhas de cortiça. São três dos produtos que exporta para a Áustria. Um mercado que conhece bem e onde entrou em 2013 com o azeite de marca própria produzido em colaboração com a Cooperativa de Olivicultores de Tabuaço. O azeite duriense é servido num restaurante com três estrelas Michelin onde “não se brinca com a qualidade”. Está também em alguns dos melhores hotéis austríacos, graças a um estrangeiro que acreditou no potencial deste produto. A produção ronda os 10 mil litros e não tem “mãos a medir” para a procura. A marca Thomas Egger está ainda no vinho verde que lançou em 2014. Produtos que promove na Áustria, para onde viaja todos os meses levando na bagagem os sabores portugueses “de grande qualidade e muito apreciados”. Alemanha e Itália são os próximos mercados a explorar.
Investir em Portugal
Pensar bem, com calma e cabeça. É o conselho que deixa a quem estar a pensar em investir em Portugal. Um país onde as burocracias não facilitam quem arrisca. “Tive a sorte de ser muito bem acolhido e de criar amizades com pessoas importantes que me abriram portas para a participação de programas de televisão. E isso ajudou-me a ser reconhecido”. Também as portagens são criticadas pelo austríaco que no seu país paga 90 euros por ano para andar nas autoestradas. “Aqui, um turista espanhol, por exemplo, paga 20 euros por cada viagem. É péssimo para quem trabalha em Portugal, em qualquer setor, mas sobretudo para o turismo”. Olhando para trás, só há uma coisa que faria diferente. “Fazia tudo mais rápido, sem medo”. Porque, pesando os prós e os contras, ganha a qualidade de vida, a paisagem, a cultura, a gastronomia e os saberes únicos de um país com tanto por explorar. “Senão valesse a pena já tinha voltado para a Áustria”, garante Thomas Egger.
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