As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas

Saturday, June 06, 2009

Novos Povoadores - Conquistar massa crítica para o interior do país

From iRegions

O dia-a-dia frenético das grandes cidades leva muitas famílias ao desejo de viver no interior do país. A centralização de serviços e do emprego nos centros urbanos «prende» quem lá vive e atrai um número crescente de pessoas. Para trás fica um interior com algumas infra-estruturas mas com falta de gente activa. O projecto Novos Povoadores quer inverter esta tendência e conquistar massa crítica para o interior do país, imprimindo-lhe uma nova dinâmica. Qualidade de vida e desenvolvimento rural são as premissas de um projecto fundado em Trancoso. O Café Portugal falou com Frederico Lucas, um dos responsáveis por uma iniciativa que se completa com Alexandre Ferraz e Ana Linhares.

Café Portugal - O projecto Novos Povoadores tem como principal objectivo desenvolver o interior do país. Fale-nos sobre esta iniciativa.
Frederico Lucas - O projecto Novos Povoadores surge da iniciativa de três amigos com interesse em dinamizar o interior de Portugal. A ideia tem por base um diagnóstico sobejamente conhecido: por um lado um vasto território mergulhado na problemática da interioridade, por outro, duas grandes áreas metropolitanas que concentram grande parte da economia do país, recursos humanos inclusive. Uma situação que urge travar para um maior equilíbrio territorial, fortemente encorajado pelo uso crescente das novas tecnologias e também pelo índice de saturação que vem afectando as pessoas imobilizadas na correria urbana. O projecto procura, por um lado a introdução de massa crítica em territórios de baixa densidade. Fundamentalmente, pretende-se que os Novos Povoadores venham ajudar a dinamizar o território. Com a sua experiência, a sua capacidade empreendedora, o seu dinamismo, vão imprimir um novo ritmo no desenvolvimento das regiões. Por outro lado, a melhoria da qualidade de vida das famílias: as famílias que optam por deixar as áreas metropolitanas beneficiam de todas as vantagens associadas a uma vida mais oxigenada em meio rural.

CP - O empreendedorismo é um dos pontos de referência que a família «Novo Povoador» deve possuir. Na ficha de candidatura pedem uma ideia empreendedora. Esta deve ser apresentada desde logo pelo candidato?
F.L. - Considerando o objectivo do projecto, introduzir massa crítica nos territórios de menor densidade, o factor empreendedorismo é importante e desejável devendo corresponder a uma ideia do candidato. Saliente-se, contudo, que não é indispensável avançar com um modelo de negócio por conta própria para responder aos objectivos do projecto. A própria personalidade dos Novos Povoadores pode gerar dinâmicas que estimulem a economia local. O facto de ter uma participação activa na sociedade civil nos mais variados domínios (lazer e bem estar, desporto, cultura, política) pode efectivamente «energizar» o território e ter um efeito multiplicador junto dos restantes habitantes.

CP - As famílias interessadas podem escolher uma localidade a nível nacional, ou restringem-se a uma região?
F.L. - Na fase experimental os candidatos nomeiam apenas os distritos. A partir de 2011 as famílias poderão definir uma aldeia.

CP - Os Novo Povoadores querem imprimir uma nova tendência no mercado. Existe, contudo, um número limitado de famílias a beneficiar deste projecto?
F.L. - Não existem números fixos. O projecto Novos Povoadores ambiciona acelerar uma tendência pelo que quanto maior o número de candidatos maiores são as probabilidades de identificar as famílias que reúnem as condições para iniciar o processo de mudança. Quanto ao processo migratório é desejavelmente um processo lento dado o nível de compromisso que implica. Tem de se verificar um período de reflexão e amadurecimento da ideia antes de completar o processo. A metodologia de intervenção do projecto Novos Povoadores prevê nesta medida várias visitas ao território com vista à criação de laços com a região que constituirão referências importantes na integração das famílias.

CP - Centremos, agora, a conversa no desenvolvimento regional. O que falta em Portugal para alavancar o país interior?
F.L. - O diagnóstico existe, é exaustivo, multiplicando-se os estudos e planos estratégicos de Norte a Sul de Portugal. Não há um município que não esteja implicado numa estratégia de desenvolvimento supra-municipal. Isto é, no plano teórico, podemos considerar que o país está muitíssimo bem preparado mas não tem existido o incentivo necessário para mobilizar a iniciativa privada a optar pelo interior do país. Um interior infra-estruturado que continua à espera de ser potencializado. Numa economia sem geografia onde o capital intelectual vem conquistando novas fronteiras, onde a inteligência colectiva formata um novo pensamento, a desmaterialização da economia abre um vasto campo de possibilidades também no meio rural. O que falta então? A coesão territorial é um acto de cidadania que a classe política não tem sabido mobilizar. Sem liderança, sem estímulo, sem confiança, dificilmente os actores económicos - motor do desenvolvimento - iniciarão um processo massivo que venha a equilibrar a geografia económica do país. Contudo, há espaço para visionários.

CP - No passado foram já empreendidos projectos como o vosso. O que tem este projecto de desenvolvimento regional que o distingue dos outros e pode torná-lo um caso de sucesso?
F.L. - É um projecto que apresenta uma solução clara a uma problemática complexa. Responde aos anseios de uma população citadina cansada do ritmo frenético e apresenta uma solução inovadora às regiões menos desenvolvidas. Traduz uma visão integrada de desenvolvimento territorial.

CP - As três pessoas envolvidas neste projecto vivem no interior. São já um exemplo de novos povoadores?
F.L. - A ideia surge em Trancoso. Encontrámo-nos nesta bela Aldeia Histórica de Portugal, oriundos de 3 sítios bem distintos. A Ana é de Barcelos, o Alexandre de Pombal e o Frederico de Lisboa. A trajectória pessoal e profissional fez com que optássemos por um ritmo mais tranquilo, pelo que sim, somos Novos Povoadores.

in Café Portugal, Sara Pelicano

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