Carlos Borrego admite que a previsível expansão urbanística na margem esquerda do Tejo é o principal problema a acautelar na construção do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete
Não tem dúvidas da necessidade de um novo aeroporto, que deve ser pensado depois de uma ampla avaliação ambiental e económica estratégica que estudasse não só a localização, mas o tipo de infra-estrutura que acrescentaria competitividade ao país e que melhor se enquadrasse no mercado aéreo europeu. Carlos Borrego, director do Instituto do Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Aveiro, coordenou a equipa que avaliou as questões ambientais da proposta da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) para localizar o novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, concluindo que esta opção é melhor do que a Ota. Sobre a continuação da Portela, levanta dúvida, justificando-a apenas como aeroporto secundário.
PÚBLICO - Como surge associado ao projecto da CIP?
Carlos Borrego - Resultou de conversas que decorriam há alguns meses sobre o interesse que a CIP tinha em verificar se não havia alternativa. Nós tínhamos feito alguns trabalhos com o José Manuel Viegas, que liderou a parte das acessibilidades e transportes, para ver se com novas metodologias de análise de terreno éramos capazes de encontrar outras soluções. E chegámos à conclusão de que haveria - foi quando apareceram localizações como o Poceirão e as Faias, entre outras. A ideia inicial era recuperar alguns dos estudos feitos para a Ota e Rio Frio, mas chegámos à conclusão de que não se justificava porque tínhamos de adoptar uma nova metodologia. E fui desafiado a tentar fazer este trabalho.
Está convencido de que há necessidade de um novo aeroporto?
Acho que sim. Basta olhar para o crescimento da Portela em número de aviões, para a sua localização e para o que se passa na Europa. Quase todos os outros países já construíram os seus segundos aeroportos das capitais e estão completamente integrados em termos económicos a explorá-los. Nós seremos o último país. E temos por isso que ser suficientemente competitivos para poder entrar no mercado. E daí que uma das preocupações desta nova localização seja permitir que o aeroporto não tenha de ser pago através das taxas mas pelo seu preço mais baixo. O aumento do tráfego aéreo vai continuar, não necessariamente pelas low-cost, mas porque continuará a ser um dos grandes transportes de massas. Por outro lado, a localização da Portela não é a melhor porque não estamos a falar nisto apenas como um aeroporto para Lisboa. Tem de ser uma decisão suficientemente estratégica para ser um aeroporto nacional. E há ainda a questão económica: Portugal tem de ter uma infra-estrutura que esteja integrada na estratégia europeia de aeroportos.
E quanto à opção Portela+1?
Não a estudámos. Na minha opinião, e sem ter base em estudos técnicos, a Portela tem muita dificuldade em ser justificada devido à proximidade de áreas habitacionais. Não quero dizer que a Portela tenha de mudar de função: pode eventualmente continuar a ser um aeroporto, com outro tipo de objectivos. Mas não é possível responder na Portela a esta necessidade de ter um aeroporto competitivo, ou seja, com taxas baratas e muitos aviões por hora, nem com muito tráfego de carga.
Mas, para validar outros cenários, não deveria ser estudado o cenário Portela+1?
Provavelmente. Mas provavelmente eu defenderia 1+Portela por todas as razões que já referi.
Alcochete mais Portela?
Não sei, porque Alcochete tem condições para ser o aeroporto sem necessidade da Portela. E, olhando para a Europa, as cidades que mantiveram os segundos aeroportos estão a ter grandes problemas nas suas companhias de bandeira e nas taxas aeroportuárias. Se calhar Portugal tem de fazer um estudo mais aprofundado da componente económica para garantir que o aeroporto a construir não tem esse problema. E manter a Portela deveria ser estudado com mais atenção.
É contra manter a Portela?
Não. Mas não tenho dados que me permitam dizer que a Portela tem capacidade para crescer. Daí falar-se no Portela+1 e aqui é que está a questão crítica: o que é que queremos para Portugal? Nós precisamos de uma avaliação estratégica sobre o aeroporto. Não podemos olhar para isto vendo apenas a localização, mas sim perguntarmo-nos que tipo de aeroporto é que nós queremos. Faça-se uma avaliação ambiental estratégica - que se faz em seis meses - para tomar essa decisão. Seria o que esperaria que o LNEC fizesse para saber qual a melhor localização e quais as melhores infra-estruturas com a componente económica incluída.
Se o estudo do LNEC for só sobre a localização, acha que seria melhor esperar que essa avaliação estratégica fosse feita para tomar uma decisão?
O que permitiria decidir melhor era essa avaliação e, se o LNEC não a fizer, vou continuar a sentir que falta qualquer coisa para substanciar a decisão.
Despindo o fato de consultor da CIP, como habitante de Aveiro, não preferia a Ota?
Preferia ter um bom aeroporto no Porto. E este é mais uma vez o problema: o que é que nós queremos fazer dos aeroportos nacionais? Precisamos ou não de um bom aeroporto no Porto que sirva os interesses daquela região mais a Galiza? Há aqui questões que são mais do que um jogo de localizações.
O seu estudo refere amiúde que há dados incompletos. Não receia que estudos aprofundados venham pôr em causa as suas conclusões?
Só tirámos conclusões do que para nós era um dado adquirido. Deixámos algumas questões em aberto, como a da conservação da natureza. Todos os números que surgem no trabalho relativo a essa componente estão por excesso. A maior dificuldade que encontro tem a ver com o ordenamento do território.
Está confiante que a Comissão Europeia possa aprovar este projecto?
Se houver vontade política, não é a União Europeia que vai condicionar essa opção estratégica portuguesa se for bem fundamentada. E daí novamente o desafio para a avaliação ambiental estratégica deste sistema.
in Público
4 comments:
É preciso fundamentar qualquer posição que se tenha, eu sou a favor da PORTELA + UM ( O Montijo), pelas razões abaixo:
1.º) Já existe no Montijo uma base aérea, que, com as necessárias adaptações, poderia servir como segundo aeroporto da capital: o aeroporto "low cost" de Lisboa. A referida base aérea poderia ser transferida para a Ota ou Beja, onde existe outra, deixada há alguns anos pelos alemães que possui óptimas condições;
2.º) Lisboa ficaria assim com dois aeroportos civis como muitas outras cidades no mundo e Lisboa poderia beneficiar da aliciante turística de ter dois aeroportos: um dentro da própria cidade e outro não muito longe e servida por um transporte rápido e cómodo: o metropolitano que proponho venha a servir o futuro aeroporto de Lisboa;
3.º) A questão do novo aeroporto deve ter em atenção o que for decidido para o comboio de alta velocidade, o RAVE/TGV;
4.º) O terminal do TGV poderia ficar junto ao Aeroporto no Montijo. Assim a ligação Lisboa–Madrid poderia fazer-se aproveitando uma maior parte do traçado já existente entre o Barreiro, Caia e Badajoz, poupando-se algum dinheiro em expropriações;
5.º) Em vez de ser o TGV a atravessar o Tejo (a 350 Km/h ?) até à gare do Oriente, seria o metropolitano de Lisboa a chegar à Gare do TGV e ao Aeroporto, que ficariam ambos no Montijo. A travessia poderia fazer-se por uma ponte ou por um túnel adequado ao local. O facto de Lisboa ser uma zona sísmica não impede que seja adoptada essa solução. Há técnicas adequadas para esses casos: Em Los Angeles houve um sismo à poucos anos e os túneis nada sofreram ao contrário dos viadutos;
6.º) A travessia rodoviária prevista para a futura ponte ficaria muito melhor em Algés e permitiria fechar o ANEL: Algés-Trafaria/.../A2/IC32/Ponte Vasco da Gama/CRIL.
7.º) A ligação do metro de Lisboa à outra margem permitiria aos passageiros do TGV, do Aeroporto, aos habitantes do Montijo e dos arredores ter à sua disposição um transporte rápido e cómodo que os distribuiria pela capital, retirando-se com isso milhares de automóveis de Lisboa;
8.º) Em alternativa poderia ser o metro do Sul do Tejo a fazer travessia do Tejo;
9.º) A margem sul é uma zona plana e é, por excelência, o local de expansão da cidade de Lisboa, limitada que está a Norte por uma cadeia de serranias;
10.º) O Montijo permitiria captar passageiros da raia espanhola, que, sendo servido pelo TGV fica a cerca de 200 Km, enquanto que Madrid está a mais de 300 Km, estando o respectivo Aeroporto a 15 Km do outro lado, em Barajas;
11.º) A OTA por ser mais longe de Lisboa é obviamente pior para o turismo de Lisboa;
Para desactivar o aeroporto da Portela, Alcochete deverá ser a melhor solução porque consegue reunir muitas das vantagens acima referidas.
Zé da Burra o Alentejano
Pela pouca informacao que tenho tambem eu sou a favor do aeroporto no Montijo.
Em principio era a favor da Ota, talvez ate pela proximidade da nossa Beira, mas quando soube que aquele previsivel aeroporto nao tinha capacidade de expancao e poderia ter uma vida util de cerca de trez dezenas de anos, francamente fiquei completamente contra.
A ver vamos o que diz o LENEC!
Eu queria ter escrito Alcochete em vez de Montijo, no comentario anterior!
Opinião Novo aeroporto/saúde
O aeroporto da Portela auxiliado por um outro, que poderia muito bem ser a base aérea do Montijo, transformada em 2.º aeroporto de Lisboa para voos de 'baixo custo', serviria muito bem e até ficaria muito mais barato.
O dinheiro que se pouparia era muito melhor aplicado, melhorando os cuidados de saúde dos portugueses que se encontram nas 'ruas da amargura', e não será de admirar a redução da 'esperança de vida' que melhorou apenas como efeito do 25 de Abril de 1974 e da criação do Serviço Nacional de Saúde e estendeu a toda a população os cuidados de saúde.
Eis serviços que precisam de melhoria urgente e onde o dinheiro poupado seria muito melhor aplicado do que para a construção de raiz de um novo aeroporto:
Resolvam os problemas das crescentes dificuldades em se conseguir uma consulta nos Centros de Saúde? Muitos doentes têm que ir de madrugada para obterem uma consulta e por vezes nem a conseguem.
Admitam médicos para que todos os doentes tenham um médico assistente ou de família.
Os médicos de família não estão a mandar fazer os exames de rotina, conforme se aconselha na própria televisão. Até parece que estão sujeitos a cotas que não podem ultrapassar e que por isso estão impedidos de os prescrever.
Facilitem a marcação de consultas nos Hospitais públicos. A consulta da especialidade tem que ser prescrita pelo médico de família, que é por vezes muito difícil convencer. Por não ser uma área do seu conhecimento não conhece por vezes os sintomas que apontariam uma consulta da especialidade. Depois da marcação dessa consulta há que esperar por vezes meses e frequentemente anos pela dita, a qual chega às vezes por isso depois do doente ter já falecido.
Finalmente, depois do médico especialista confirmar sobre a necessidade de uma intervenção cirúrgica há fazer demoradamente mais exames e ser incluído numa lista de espera, a qual pode demorar anos. O doente é frequentemente convocado para a operação só depois de ter morrido.
Aumentem ou, pelo menos não reduzam a comparticipação na compra dos medicamentos.
Reabram os Centros de Saúde, Serviços de Atendimento Nocturno, Hospitais e Maternidades que foram fechados pelo Governo.
Contratem médicos, enfermeiros e demais funcionários para substituir os que se reformaram ou que abandonaram a Função Pública.
Os doentes são encaminhados para suas casas muito antes da sua recuperação enquanto que os Centros de Saúde têm cada vez menos enfermeiros para o apoio domiciliário. Os doentes ficam em convalescença cada vez com menor apoio. Reforçem o apoio nessa área em vez de o reduzir.
Criem Hospitais de Retaguarda para os doentes sem recuperação possível e que são entregues aos cuidados da família, como que se os familiares não trabalhassem ou tivessem capacidade económica de pagar a alguém para cuidar do familiar doente. As famílias nestas condições são muito poucas. Os familiares têm em geral que trabalhar e não têm capacidade económica de contratar quem quer que seja para cuidar do seu familiar que por isso fica abandonado durante todo o dia à sua sorte.
Não reduzam o apoio aos jovens deficientes, baixando o número de técnicos que apoiam a sua aprendizagem e integração social.
Muito mais poderia dizer sobre a área da saúde, onde até cabem os casos de pessoas a quem é recusada a reforma, apesar da óbvia incapacidade para o trabalho, conforme se tem visto na TV. Como que se incentivasse o livre abandono do trabalho sem qualquer reforma.
Zé do Montijo
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