As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas
Saturday, July 14, 2007
15 cidades excedem limite de poluição
O Expresso fez um «ranking» das cidades mais poluídas. Lisboa lidera, seguida de Guimarães, Paredes e Espinho
Um mero assador de castanhas localizado junto a uma estação de medição da qualidade do ar fez disparar os níveis de concentração de partículas nocivas para a saúde. Isto aconteceu em Novembro, em Entrecampos.
Por aqui se vê a que ponto é complexa a medida da poluição atmosférica. Mas não é nenhum acaso que faz da Avenida da Liberdade a mais poluída do país. Ali, o tráfego intenso e a morfologia (avenida estreita, ladeada por prédios altos) concentram os poluentes emitidos pelos carros.
Dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) - que ajudou o Expresso a elaborar este «ranking» - indicam que a capital, em 2005, teve 183 dias durante os quais se verificou excesso de concentração de partículas. A norma apenas admite um máximo de 35 dias nestas condições. Madrid teve menos um dia de excesso de partículas. Contudo, estes dados referem-se a 2006.
Mas se Lisboa lidera pelas piores razões, o Norte de Portugal reúne o maior número de cidades que ultrapassam os limites legais de concentração de partículas. Guimarães, Paredes e Espinho ocupam os lugares cimeiros do «ranking», logo a seguir à capital. Esta classificação apenas reflecte os locais - em 44 cidades - onde estão instalados postos de medição. Para se ter uma ideia global é preciso ponderar as diversas medições.
Além dos carros e fábricas, a poluição atmosférica é acentuada por fenómenos como as elevadas temperaturas, ou os incêndios no Verão, ou até por episódios de transporte de partículas a partir do Norte de África.
“As excedências (dias em que os limites máximos são ultrapassados) ameaçam a saúde pública, por estarem associadas ao transporte de metais pesados tóxicos que provocam problemas respiratórios”, refere Dília Jardim, chefe da Divisão de Ar e Ruído da APA. A Comissão Europeia tem vindo a apertar os limites admissíveis destes poluentes, considerados responsáveis pela redução de nove meses na esperança média de vida dos europeus. Um estudo da Universidade Nova indica que 35% do atendimento pediátrico no Hospital D. Estefânia, em 2004, se deveu a doenças respiratórias.
A UE impôs em 2001 uma norma que obrigava as regiões mais poluídas a ter Planos e Programas de Qualidade do Ar. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo concluiu os seus em 2005, mas a sua homóloga do Norte ainda não o fez.
Só há dois meses o Governo aprovou legislação que responsabiliza as Câmaras Municipais pela aplicação no terreno de medidas correctoras da poluição do ar exterior. “A Câmara de Lisboa não ligou nenhuma a estes planos”, critica o presidente da referida comissão, Fonseca Ferreira, lembrando ser ao município que compete decidir e aplicar as medidas.
Marina Ferreira, presidente da Comissão Administrativa da autarquia, contrapõe: “Tomámos medidas fortíssimas para condicionar o tráfego, designadamente aumentando as tarifas de estacionamento, aprovando o plano de pormenor que prevê a pedonização dos eixos laterais da Avenida da Liberdade, ou construindo o Túnel do Marquês, que reduz o congestionamento”.
Em tom de remate, Francisco Ferreira, da Quercus, lembra que “noutras cidades europeias o estacionamento é caro, não há alternativas, e o dinheiro serve para financiar os transportes públicos, enquanto em Lisboa 70% dos carros que entram não pagam nada e o dinheiro do estacionamento vai para a EMEL ou para os donos dos parques”.
in Expresso, Carla Tomás
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