Parafraseando a publicidade daquela famosa marca de whisky, diria que o trabalho já não é o que era. Dir-me-ão que a mudança é constante e esta frase pode ser dita em qualquer momento histórico, com a mesma validade…Mas a novidade é que a “mudança” acelerou nas últimas décadas e tal é bem visível em quase todos os contextos de trabalho. Da minha parte, em pouco mais de década e meia de vida profissional, já trabalhei em sectores ditos mais conservadores (ex. na banca) e noutros que se catalogarão de inovadores (ex. na área da internet). Em todos assisti, em poucos anos, a transformações radicais nas formas de organização do trabalho e nos outputs desse mesmo trabalho – sempre com base na simplificação e na rapidez. Complementando este meu empirismo, num passado recente tive a oportunidade de ler 2 livros que marcaram de forma vincada o meu olhar sobre estas realidades e me ajudaram a estruturar algum pensamento…e, confesso, algumas convicções.
O primeiro foi o provocador “The 4-Hour Workweek”, livro com um título disruptivo e com um conteúdo que não lhe fica atrás. Timothy Ferriss, o autor, passou mais de cinco anos a aprender as práticas dos que ele designa como «novos ricos», pessoas com estilos de vida profissionais alternativos, que abandonaram os modelos clássicos de trabalho das 9h às 6h, para viver na plenitude tudo o que o dinheiro, as tecnologias e este novo mundo globalizado lhes permite. Estas experiências levaram-no a tornar-se especialista na utilização das novas “moedas” – tempo e mobilidade – para criar um estilo de vida sofisticado, de aprendizagem e desenvolvimento pessoal constante (por curiosidade, entre outras experiências, já foi professor em Princeton, campeão de kickboxing e especialista em tango). Para além deste appeal romântico para todos os que quem querem escapar à pressão do quotidiano, viajar mais e ter rendimentos tranquilos, também traz ensinamentos profissionais e de gestão “out-of-the-box”. Alguns exemplos:
- “gerir através da ausência”, com modelos bem definidos de delegação e autonomia das equipas;
- estruturar regras de tomada de decisão sequenciais, com a “automatização” das sub-partes dos processos;
- optimizar o tempo, cruzando a aplicação da regra de Pareto (80/20) ao dia-a-dia com a escala/ importância de cada projecto a que nos dedicamos;
- cultivar um mind-set de “informação selectiva”, de modo a não sermos submersos pelos muitos canais/ media a que somos expostos (dentro e fora da empresa);
- desenvolver a arte de “bloquear as interrupções”, colocando todo o foco na tarefa-chave.
O segundo foi o “Rework”, um livro de gestão diferente de qualquer outro que tenha lido. Por vezes, parece até advogar a “não gestão”, condenando muitos dos rituais que preenchem o nosso dia-a-dia empresarial. A sua palavra-chave é “simplificar”. Exemplos?
- não perder tempo com business plans ou orçamentos que não servem para quase nada ou estratégias a longo prazo que muito rapidamente ficam desactualizadas;
- não perder tempo com reuniões inúteis, sem agenda ou outputs definidos;
- não crescer, quando se consegue obter sucesso com uma estrutura pequena;
- não perder muito tempo a estudar ou tentar copiar a concorrência e aplicá-lo, antes, a criar produtos ou serviços únicos (com grande engagement dos consumidores);
- criar ofertas simples (mono-produto ou quase) e apostar em vitórias rápidas.
Os autores, Jason Fried e David Hansson são “evangelizadores” genuínos e vivem de acordo com estas máximas na sua empresa Basecamp (ex-37 Signals). Com os seus métodos revolucionários centrados na autonomia, na improvisação e na produtividade individual, são uma lufada de ar fresco no mundo da gestão.
Cada um à sua medida, estes livros refletem um novo paradigma: processos simples, foco no essencial, forte componente tecnológica que permite acelerar e controlar fluxos processuais/ de informação e, claro, uma conectividade constante entre profissionais e equipas – com vista a resultados optimizados.
Acredito pois que, a nível da gestão, três tendências se irão reforçar nos próximos anos:
- Processos de inovação: progressivamente afectuados por equipas multidisciplinares, em conexão constante, dispersas geograficamente, com inputs de clientes finais e parceiros, aproveitando o conhecimento de toda a cadeia de valor;
- Processos de análise e tomada de decisão: com ferramentas cada vez mais poderosas que sintetizem as variáveis-chave e métricas do negócio, permitam definir e analisar cenários, bem como gerir a performance e o risco;
- Processos de controlo: cada vez mais automatizados e em tempo real, com sistemas de indicadores e alertas, que permitirão a quem gere intervir com base na excepção, quando algo não está “conforme” com o processo;
E consequências para o dia-a-dia dos líderes executivos? Para começar, os processos de gestão terão maior celeridade. Dados consolidados em tempo real (big data optimizado por tecnologias de business intelligence e predictive analytics) permitirão tomadas de decisão mais sustentadas em factos e não em assumpções ou intuições. Por outro lado, serão mais colaborativos, com participação de diversos stakeholders (internos e externos) e com necessidade de uma atenção constante ao meio envolvente. A horizontalidade progressiva das organizações já permite uma maior visibilidade dos gestores sobre as diversas operações e reforçará o seu maior foco no engagement dos colaboradores e dos clientes. Vejo, neste contexto, que um CEO assuma, cada vez mais, papéis importantíssimos para os quais terá progressivamente mais tempo: analista e implementador da estratégia, guardião das relações com os stakeholders e sponsor da mudança e da inovação.
Estamos apenas no início…a revolução segue dentro de momentos.
in Revista Human, Carlos Sezões