Paul Krugman cita estudo de Nuno Limão, da Universidade de Maryland
A globalização também prega partidas. O que deu, ontem, com uma mão, pode amanhã tirar com a outra. O terceiro choque petrolífero em curso está a alterar os padrões do comércio internacional. E, por mais paradoxal que pareça, as principais vítimas desta mudança poderão ser as ‘fábricas do mundo’, os campeões do «outsourcing» de produtos e bens físicos, com a China à cabeça.
A avaliação desta alteração estrutural é possível graças a um estudo de Dezembro de 2000 de um economista português radicado nos Estados Unidos. Nuno Limão, professor associado no Departamento de Economia da Universidade de Maryland, conseguiu identificar um indicador que leva uma designação técnica complexa - elasticidade do comércio em relação aos custos de transporte. O artigo científico, que escreveu com Anthony J. Venables, da London School of Economics, apurou que sempre que os custos de transportes aumentam de uma unidade o efeito negativo no comércio é multiplicado por três.
Esta relação foi, recentemente, tirada da prateleira pelo economista Paul Krugman que na sua coluna no ‘The New York Times’ usou a elasticidade encontrada por Limão para apurar a quebra potencial no comércio internacional “se os preços do petróleo se mantiverem aos níveis actuais (na altura, nos 130 dólares) por muito tempo”. Segundo Krugman, a quebra seria de 17% em relação ao ano 2000.
O economista mediático socorreu-se, também, de um estudo da consultora canadiana CIBC que referia que, fruto do disparo do preço do crude desde 2000, os fretes entre a China e os Estados Unidos quase triplicaram. Se os preços estabilizarem nos 150 dólares por barril no futuro, o frete pode ainda aumentar mais 40% em relação aos preços actuais. O que isso significará, com base na elasticidade apurada por Nuno Limão, é que o comércio internacional poderá emagrecer ainda mais 6% em relação ao nível actual.
China na berlinda
Nuno Limão, que nasceu no ano da Revolução do 25 de Abril, sublinha-nos que o «outsourcing» de produtos e bens físicos será o sector que mais vai sofrer. “O caso mais importante será, talvez, o da China, já que se tornou na fábrica do mundo. Dados mais recentes, revelam inclusive que já se nota um abrandamento das exportações chinesas de bens mais sensíveis aos custos de transporte para os Estados Unidos”. O investigador português antevê, por isso, que o «nearshoring», ou seja a deslocalização para regiões próximas dos clientes possa ganhar força. O que poderá acontecer com as ‘traseiras’ dos Estados Unidos (oportunidade, de novo, para o México) e com os países de mão-de-obra mais barata dentro da União Europeia e que a circundam.
Limão, apreciando o que já ocorreu com o falhanço da última sessão da Ronda de Doha, arrisca que outra consequência poderá ser o crescimento do regionalismo. “Esta regionalização do comércio internacional pode ter alguns efeitos negativos, mas é bastante difícil, senão mesmo impossível, calcular um efeito preciso”, conclui este académico, que desde os 16 anos estuda fora.
Ainda adolescente ganhou uma bolsa para estudar no United World College, nos Estados Unidos, depois tirou a licenciatura na London School of Economics, e em 1996 regressou ao outro lado do Atlântico doutorando-se em economia na Universidade de Columbia.
in Expresso, Jorge Nascimento Rodrigues
As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". Frederico Lucas
Friday, August 15, 2008
Monday, August 04, 2008
Portugal como destino de nearshoring
Portugal está numa fase decisiva do seu percurso como nação competitiva, viável economicamente e com perspectivas de qualidade de vida para os seus cidadãos. Está mais do que visto que o modelo económico baseado no baixo valor acrescentado está esgotado, bem como a actividade rentista tradicional. As elites económicas e empresariais nacionais necessitam de uma forte renovação, que inpute massa crítica que entenda e posicione o país na nova configuração da economia global.
Mais não será dizer que é preciso uma aposta séria no desenvolvimento e reforço do capital intelectual português que mude estruturalmente o padrão de especialização da nossa economia. Um reforço que não passa por alocar só mais dinheiro na educação ou dar computadores. É preciso agir mais na zona entre o final da cadeia de valor do ensino e o início da do mercado de trabalho.
Um dos desafios nessa «buffer zone» está em conseguir que Portugal seja um destino atractivo para o nearshoring, ou seja, a deslocalização de actividades de médio-alto valor acrescentado de economias mais desenvolvidas (I&D, desenvolvimento de software, call-centers, design, etc).
Para que tal aconteça, é preciso que:
1 - o Ministério da Economia simplifique a burocracia dos licenciamentos e na atribuição de incentivos financeiros atribuídos aos investimentos estrangeiros.
2 - criar parques de nearshoring junto das universidades e dos parques de ciência e tecnologia, para facilitar o acesso à massa crítica e gerar laços efectivos de entre as cadeias de valor do sistema de ensino e empresarial
3 - promover Portugal como destino competitivo de nearshoring, ao ponto deste conceito se confundir com o próprio país
4 - «se não consegues vencê-los, junta-te a eles»: constituir parcerias com a Irlanda e a Índia, oferecendo Portugal como mecanismo de entrada para mercados estratégicos da América do Sul, África e Europa (vide este artigo de JNR na Janela na Web)
in Capital Intelectual, Ruben Eiras
Mais não será dizer que é preciso uma aposta séria no desenvolvimento e reforço do capital intelectual português que mude estruturalmente o padrão de especialização da nossa economia. Um reforço que não passa por alocar só mais dinheiro na educação ou dar computadores. É preciso agir mais na zona entre o final da cadeia de valor do ensino e o início da do mercado de trabalho.
Um dos desafios nessa «buffer zone» está em conseguir que Portugal seja um destino atractivo para o nearshoring, ou seja, a deslocalização de actividades de médio-alto valor acrescentado de economias mais desenvolvidas (I&D, desenvolvimento de software, call-centers, design, etc).
Para que tal aconteça, é preciso que:
1 - o Ministério da Economia simplifique a burocracia dos licenciamentos e na atribuição de incentivos financeiros atribuídos aos investimentos estrangeiros.
2 - criar parques de nearshoring junto das universidades e dos parques de ciência e tecnologia, para facilitar o acesso à massa crítica e gerar laços efectivos de entre as cadeias de valor do sistema de ensino e empresarial
3 - promover Portugal como destino competitivo de nearshoring, ao ponto deste conceito se confundir com o próprio país
4 - «se não consegues vencê-los, junta-te a eles»: constituir parcerias com a Irlanda e a Índia, oferecendo Portugal como mecanismo de entrada para mercados estratégicos da América do Sul, África e Europa (vide este artigo de JNR na Janela na Web)
in Capital Intelectual, Ruben Eiras
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